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Previdência sob controle é o maior desafio

Para o Brasil manter estável a relação entre PIB e gasto com a Previdência, o país precisa crescer entre 3,7% e 3,8% ao ano até 2040. A estimativa foi feita pelo economista Paulo Tafner, do Ipea. Nos últimos 30 anos, na média, o país cresceu 2,4% ao ano. De 1994 para cá, o crescimento foi de 3,9%. "Agora, esse é um cálculo que não leva em conta uma situação em que o país continue a dar ganho real para o aposentado. Se isso acontecer, essa projeção de crescimento necessária para manter a Previdência vai explodir", diz Tafner.

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  • Veja que no futuro menos trabalhadores vão sustentar mais pensionistas

Para cada cinco brasileiros que são ou muito novos ou muito ve­­lhos para trabalhar, dez estão em idade para fazer parte da força de trabalho. Em meados da década de 60, essa relação era de nove para dez – ou seja, em tese os salários de dez trabalhadores serviam para o sustento deles e de mais nove pessoas. A mudança na estrutura etária da população, motivada pelo menor número de filhos por mulher, indica que o Brasil vive hoje uma janela de oportunidade para investir na qualidade dos serviços públicos. Com menos crianças, a necessidade de aumento da infraestrutura, como hospitais e escolas, é limitada, e o governo pode se concentrar em melhorar o que já existe. Mas essa também é uma corrida contra o tempo, com data marcada para terminar: a partir de 2025, a razão de dependência da população voltará a crescer, devido a um aumento mais acelerado no número de idosos do que no de adultos. Como gostam de dizer os economistas, o dilema do Brasil é ficar rico antes de ficar velho.

No início dos anos 1950, cada mulher brasileira tinha em média 6,1 filhos. Hoje, a média é de 1,8 filho, segundo o IBGE. O nível fica abaixo do que os demógrafos estabelecem como "taxa de reposição", de 2,1 filhos – um para repor o pai, um para repor a mãe e 0,1 para compensar a taxa de mortalidade das crianças que não chegam à idade adulta. Com o atual ritmo, o país caminha para enfrentar uma redução no número de habitantes. "Eu não estranharia se daqui a 15 anos o Brasil começasse a ter um programa pró-natalista", diz Paulo Tafner, economista do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) e co-autor do livro De­­mografia: a ameaça invisível, escrito com o economista Fábio Giambiagi.

Oportunidade e risco

Até 2025, a queda no número de filhos pode ser encarada como uma oportunidade. Menos filhos significam mais mulheres no mercado de trabalho. Também quer dizer mais investimento na educação dos filhos. "Imagine uma família com seis filhos e outra com dois. Supondo que tenham renda parecida, os filhos da família maior vão receber menos investimento, seja na saúde ou na educação, por exemplo", diz José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence/IBGE).

O círculo virtuoso continuaria: filhos que recebem mais investimentos em saúde e educação podem se tornar adultos mais produtivos. "Mas a produtividade não vem do nada. É preciso melhorar a qualidade da educação. O que o governo economiza com a diminuição de alunos precisa ser gasto no aumento do gasto per capita na educação básica. Aí é que reside a grande oportunidade. Se o país conseguir fazer essa transição, podemos ficar numa situação boa", afirma Tafner.

No Brasil, o gasto médio por estudante na educação primária é de US$ 1.566. A média para os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), segundo relatório da instituição, é de US$ 6.437. No Chile, por exemplo, o valor é de US$ 2.087 por aluno – 33% maior do que o do Brasil.

Outra vantagem associada à queda na fecundidade feminina é o aumento da poupança, tanto das famílias quanto do governo. Esse aumento tem reflexo direto nos investimentos. Quanto mais o país poupa, em geral, mais potencial de investimento ele tem.

Tudo isso, lembra Tafner, ocorre à sombra de uma ameaça, caso o país não enriqueça no tempo necessário. "Mais tarde, a queda no número de crianças vai ter um reflexo no número de trabalhadores, que também vai começar a cair. Vai ser menos gente para suportar um número maior de pensionistas. É uma ameaça", diz.

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