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Comércio O Brasil que cresce
Movimento no calcadão da XV em Novembro, tradicional ponto do comércio de Curitiba| Foto: José Fernando Ogura/AEN

Primeiro, foi o comércio eletrônico a puxar as vendas no varejo. Depois, vieram os móveis e eletrodomésticos, e os materiais de construção. E agora, é a vez dos tecidos, vestuário e confecções – o “patinho feio” durante a maior parte da pandemia – a assumir a liderança das vendas no varejo. O comércio cresceu 26,2% no comparativo entre os cinco primeiros meses do ano de 2020 e 2021, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Analistas de varejo da XP avaliam que o comércio será um dos principais beneficiários do movimento de reabertura e retomada da economia. “Além disso, a demanda reprimida e a tendência de ‘compras por vingança’ são riscos positivos para os resultados das empresas nos próximos trimestres. As companhias do setor já sinalizaram um forte desempenho no segundo trimestre, potencializado por datas comemorativas como o Dia das Mães e o Dia dos Namorados.”

O economista Alejandro Ortiz Crucero, da Guide Investimentos, aponta que a flexibilização das atividades após o choque da segunda onda de infecções deu novo impulso ao consumo das famílias, que se amparou, também, sob a reedição de importantes programas de teor fiscal, como o auxílio emergencial e o BEm, o programa de manutenção do emprego e da renda voltado ao empregador. “É notável relembrar que a expansão monetária pelo BC no ano passado promove, de forma defasada, algum efeito sobre o desempenho das vendas neste ano”, cita.

Outro fator que ajuda, segundo ele, é a elevada taxa de poupança como proporção do PIB. Esse nível chegou ao nível histórico de 20,6% no primeiro trimestre. “Este colchão de liquidez é o que vem sustentando o consumo em meio ao suporte fiscal mais restrito”, aponta.

Quem também deve ter um bom desempenho nos próximos meses, apesar da tendência de alta nos preços, é o varejo de combustíveis e lubrificantes, que ainda acumula uma queda de 4,3% nos 12 meses encerrados em maio, de acordo com o IBGE. Em maio, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), as vendas das distribuidoras aos postos foram inferiores às do mesmo mês de 2019, antes da pandemia.

“Com cada vez menos medidas restritivas, a mobilidade das pessoas tende a aumentar”, afirma Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

Varejo puxa a indústria

O segmento que mais tem se sobressaído no comércio é o de móveis e eletrodomésticos. Nos 12 meses encerrados em maio, as vendas cresceram 18,9% em relação ao período anterior, segundo o IBGE. E esse desempenho tem se refletido na indústria. A produção de móveis cresceu 15,1% e a de eletrodomésticos, 29,9%.

O presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Jorge Nascimento, diz que um novo cenário doméstico se criou com a pandemia e o isolamento social. “As pessoas pararam de viajar e ir a restaurantes. Sobrou mais dinheiro para comprar itens para o lar, que se tornou um ambiente de estudos, trabalho e de convivência social.”

Dados da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que as vendas nacionais e importações de micro-ondas cresceram 11,5% no comparativo entre os primeiros quadrimestres de 2019 e de 2021; as de splits, 26,5%, e as de aparelhos de ar condicionado convencional, 10,2%.

Outro segmento que tem se destacado no comércio é o de artigos farmacêuticos, médicos, de perfumaria e de cosméticos, cujas vendas no comércio cresceram 13,9% nos 12 meses encerrados em maio, comparativamente ao período anterior, de acordo com dados do IBGE.

A Associação Brasileira de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) atribuiu o desempenho ao reforço dos hábitos e cuidados pessoais durante a pandemia e, mais recentemente, à abertura do comércio na maior parte das cidades brasileiras. No primeiro quadrimestre, as vendas cresceram 5,7% em relação a igual período de 2020, aponta a entidade.

A expectativa é de que a tendência continue neste segundo semestre, apesar do desemprego elevado e do aumento na inflação. “Com o aumento de pessoas vacinadas, existe uma expectativa de que as atividades comerciais voltem cada vez mais à normalidade, o que pode contribuir para a manutenção e a alavancagem da performance do setor. O período pandêmico também serviu para consolidar, diante do consumidor, a essencialidade do setor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos”, aponta a entidade.

Tendência para os próximos meses

Analistas avaliam que o ritmo do varejo deve continuar forte nos próximos meses. Nos cinco primeiros meses do ano, ele registra uma expansão de 6,8% nas vendas no comparativo com a mesma época do ano anterior. “Mantemos nossa expectativa de recuperação mais sólida da atividade econômica a partir do segundo semestre deste ano, pressupondo um estágio mais avançado de vacinação”, avalia o banco MUFG Brasil.

Apesar da trajetória altista, os analistas de varejo da XP Investimentos apontam que o ritmo do crescimento deve ser mais moderado no segundo semestre, já que o consumo das famílias tende a ser proporcionalmente mais forte em serviços no curto prazo.

Outros dois fatores que devem influenciar, segundo Bentes, da CNC, são a inflação elevada – nos 12 meses encerrados em junho, o IPCA fechou em alta de 8,35%, segundo o IBGE – e o aumento no juro, o que deve encarecer o crédito.

O economista aponta que o panorama está mais complexo e tende a desacelerar o ritmo de crescimento. Mas, mesmo assim, a expectativa do setor é de encerrar o ano com incremento real (já descontada a inflação) de 4,5% nas vendas, a maior alta desde 2012.

O cenário de alta nos preços preocupa Nascimento, da Eletros. “Boa parte da cadeia de insumos teve fortes altas nos preços, como o aço e as embalagens. O objetivo do setor é não entregar produtos caros. Para isso, as empresas estão renegociando com fornecedores e mudando processos.”

Também há preocupação com a cadeia de suprimento de semicondutores. Segundo o executivo, o problema ganhou mais força a partir de maio. “Disparou o sinal amarelo.”

Mudança de rumos no comércio

A crise detonada pela pandemia está forçando a uma mudança de rumos no varejo, que deve se tornar cada vez mais digital. O economista da CNC aponta que houve uma aceleração a toque de caixa.

“Se antes da pandemia era um canal alternativo, agora passou a ser fundamental. Mas há muito caminho a ser percorrido, já que as vendas exclusivamente online respondem por apenas 6% dos negócios”, estima Bentes.

Uma empresa que acelerou a transformação digital foi a gaúcha Bibi, que planeja inaugurar 32 lojas neste ano, sendo 20 no Brasil. A marca de calçados infantis registrou um crescimento de 151%, no ano passado, nas vendas digitais em canal próprio, via e-commerce, e 207% na rede online, explorando diferentes plataformas.

A empresa ampliou as possibilidades de vendas, usando tecnologias como o WhatsApp: o cliente fala com a vendedora pela rede, seleciona os produtos disponíveis por um catálogo on-line e recebe uma mala personalizada com os calçados em casa. Após a escolha dos produtos é gerado um link para pagamento e a mala é devolvida com as opções que não foram selecionadas.

Esta é a terceira reportagem da série "O Brasil que cresce", que apresenta alguns dos setores que mais avançam no país. Acompanhe a série neste link.

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