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Diante de um cenário de crise econômica mundial, o Brasil passou a maior parte de 2008 navegando em águas calmas. Então, veio a "bomba": no último dia 10, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o PIB brasileiro sofreu uma queda de 3,6% no último trimestre de 2008, a maior desde 1996. O recuo já era esperado, mas sua intensidade surpreendeu e fez com as perspectivas de crescimento de governo, consultorias e agências de calssificação de risco fossem rebaixadas.

"O dado do ano passado surpreendeu pela magnitude da queda. A produção industrial (que recuou 12,4% em dezembro) já indicava queda do PIB, mas veio numa intensidade maior do que se projetava", diz Marcela Prada, economista da Tendências Consultoria.

Na esteira de uma retração pior que a esperada entre outubro e dezembro do ano passado, período em que a crise financeira se intensificou, veio a piora nas expectativas para a expansão neste ano: a agência Fitch previu em relatório que o país ficará estagnado no ano que vem. Já a Morgan Stanley foi mais pessimista: afirmou que a retração do país pode chegar a 4,5%.

Isso porque mais notícias ruins podem estar a caminho: os dados da produção industrial no primeiro mês deste ano – que mostraram uma retração de 17,2% frente a janeiro de 2008 – apontam para a possibilidade de uma nova retração do PIB no primeiro trimestre. Se isso se concretizar, só uma forte reversão no segundo semestre será capaz de "levantar" os números para o patamar positivo.

Revisão

O cenário previsto pela Morgan Stanley é o mais pessimista entre os apresentados pelos analistas. Mas, após o dado de dezembro, todo o mercado revisou suas projeções para o crescimento da economia brasileira neste ano.

O próprio governo, que costuma ser otimista, baixou sua previsão de 3,5% para 2% - a menor taxa desde o crescimento de 1,1% registrado em 2003.

"Nós estávamos prevendo alta de 1,5%, e foi alterada para 0,3%. Mas, mesmo para isso, vai ter que ter uma recuperação forte no segundo semestre. Tem vindo surpresa atrás de surpresa. Para chegar ao crescimento de 2% previsto pelo governo, está implícita uma recuperação forte", diz Marcela.

A estimativa da Tendências para o PIB brasileiro é próxima à feita pela consultoria Rosenberg e associados. "A gente trabalha com PIB de 0,8%, com viés de baixa. Mas as previsões dependem muito das hipóteses de cenário que você faz, como vai ser a crise financeira, tanto para o Brasil quanto para o mundo. Mas um crescimento de 3%, por exemplo, é fora da realidade", diz a economista Thais Zara.

No exterior, onde o cenário brasileiro vinha sendo elogiado, o otimismo também perdeu força. O Fundo Monetário Internacional (FMI), que previa alta de 3,5% no PIB nacional, "encolheu" suas perspectivas para 1,8%.

2010

Se para 2009 as perspectivas não são as melhores, para o ano que vem acredita-se que elas devem avançar. "Para 2010, projetamos alta de 3,5%. E a base de comparação ajuda, porque o crescimento vai ser baixo este ano", diz a economista da Tendências.

Segundo o professor de economia Luiz Antonio Fernandes da Silva, da Faculdades Rio Branco, o Brasil pode se beneficiar de uma retomada da demanda no mercado interno. "O governo está tentando fortalecer o mercado interno, o Brasil tem espaço para crescimento aqui", diz ele.

Os especialistas ressaltam, no entanto, que a economia brasileira continua mais saudável do que a das nações desenvolvidas – o que deve colocar o país na dianteira quando o mundo começar a se recuperar.

"O Brasil vai estar em uma posição melhor para voltar a crescer. O sistema financeiro brasileiro está equilibrado, não temos bancos com dificuldades", diz o professor da Rio Branco. "É de se esperar que a gente tenha desempenho melhor do que a média. Em comparação aos países desenvolvidos a gente vai ter um quadro melhor", concorda Marcela.

"Não tem como a gente passar incólume. Mas quando tudo isso passar, o Brasil tem condições de se sair muito melhor do que os demais. A gente está montando uma estrutura macroeconômica mais sólida, e temos vantagens comparativas em diversos setores que devem sair beneficiados quando o crescimento for retomado", conclui Thais, da Rosenberg.

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