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Fábrica da Spaipa, franqueada da Coca-Cola com sede em Curitiba | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
Fábrica da Spaipa, franqueada da Coca-Cola com sede em Curitiba| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Crédito menor é entrave para crescimento

O pacote de medidas anunciado pelo Banco Central para conter o crédito, retirando R$ 61 bilhões da economia e diminuindo as possibilidades de financiamento de alguns bens de consumo, como os automóveis, promete frear o ritmo de crescimento para 2011, principalmente do comércio e de alguns setores da indústria. As medidas, segundo a autoridade monetária, visam conter pressões inflacionárias e desestimular a formação de uma bolha de consumo.

O presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP), Edson José Ramon, diz que o setor está "apreensivo" com impacto das medidas. "Ao in­­vés de o governo fazer a sua par­­te e cortar gastos, ele prefere punir a economia, colocando um freio no consumo. Tra­ta-se de um desrespeito ao co­­mércio, que investiu no au­­mento dos estoques e foi atingido no contrapé", critica. O Banco Central, na sua opinião, errou o alvo, já que a maior pressão inflacionária vem dos alimentos e não do crédito, que possibilita acesso ao consumo principalmente das classes C e D. "Há setores, como o de veículos, eletrodomésticos e eletroeletrônicos, que projetam uma queda de 20% a 30% nas vendas de dezembro e janeiro", afirma.

O comércio, que deve crescer entre 10% e 15% em 2010, já baixou para 5% a 7% o avanço previsto para o próximo ano, segundo Ramon. "Com as medidas, o PIB brasileiro não deve crescer mais do que 3% a 4%",

O setor automotivo, o mais atingido pela redução do crédito, ainda faz as contas do efeito da medida. Revendas, montadoras e fornecedores de componentes vêm se reunindo nos últimos dias para avaliar os impactos. Segundo o presiden­­te da Brose do Brasil, José Bosco Silveira Júnior, o mercado au­­tomotivo já revisou sua projeção de crescimento para 2011. Antes das medidas, a expectativa era de um avanço de até 7%. Agora, de 5%. "As vendas em 2010 devem crescer 10%. Com menos crédito, o setor vai crescer metade do que neste ano." acrescenta.

Fabricante de portas e sistemas de vidros de carros de capital alemão, a Brose tem fábricas em São José dos Pinhais, na região metropolitana, e em Salto (SP). De acordo com ele, a empresa vem acelerando investimentos para atender a demanda crescente, já que o país tem potencial para dobrar a frota de veículos nos próximos anos. "Mas com restrições no crédito, juros altos, câmbio que estimula importações e problemas de infraestrutura, o Brasil corre o sério risco de perder esse bonde", acrescenta ele.

Longo prazo

90% preveem investimentos em 2011

Mesmo menos "empolgados" com o próximo ano, os empresários prometem manter o forte ritmo de investimentos em 2011. Cerca de 90% das empresas vão aumentar ou aplicar o mesmo montante de 2010, de acordo com a sondagem da Paraná Pesquisas para a Gazeta do Povo. O objetivo é garantir espaço no mercado nos próximos anos. Os investimentos estão pulverizados em setores como infraestrutrura, energia, construção civil e varejo.

Para o presidente da Companhia Paranaense de Energia (Copel), Raul Munhoz Neto, o consumo de energia deve continuar aquecido em 2011, o que vai demandar mais investimentos. A companhia vai aumentar em 53% o volume programado para 2011 em relação a esse ano, para R$ 2,06 bilhões.

O setor da construção civil ficou de fora do pacote de ajuste do governo federal e também vai manter investimentos, segundo Hamilton Pinheiro Franck, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) no Paraná. Depois de crescer 12% em 2010, a cadeia da construção civil deve registrar um avanço de 10% em 2011.

Empresas de consumo, como de alimentos e bebidas, que praticamente não dependem de crédito, também reforçam investimentos. A Spaipa Indústria Brasileira de Bebidas, franqueada da Coca-Cola com sede em Curitiba, programa o maior volume de investimentos dos últimos cinco anos. Com atuação no Paraná e no interior de São Paulo, a empresa vai aplicar R$ 200 milhões, principalmente na duplicação da capacidade da fábrica de Maringá, no Noroeste do estado, que faz refrigerantes. O projeto vai propiciar um aumento geral de 25% no potencial de produção (não revelado) da empresa. Os recursos serão direcionados ainda para a área de logística e distribuição e de ativos de mercado, segundo Neuri Pereira, superintendente de vendas e marketing da Spaipa. O número de funcionários, hoje em 4 mil, deve crescer 19% em 2011. A ampliação deve ficar pronta para o verão do próximo ano.

  • Bosco, da Brose: revisão de projeção
  • Veja o que as empresas esperam da economia brasileira para o próximo ano

Depois de um ano de forte crescimento, os empresários estão menos otimistas com a economia em 2011. Levantamento da Paraná Pesquisas exclusivo para a Gazeta do Povo mostra que 77% das empresas paranaenses acreditam que haverá crescimento no próximo ano. Embora bastante elevado, o porcentual ficou quase 20 pontos abaixo do registrado pela pesquisa no ano passado. Em 2009, 96% dos empresários acreditavam em crescimento da economia em 2010.

A política cambial, a alta carga tributária, a mudança de go­­verno e a falta de infraestrutura são fatores que podem comprometer o crescimento no próximo ano, segundo os empresários. Entre os que acham que a economia vai crescer, a maioria acredita que o Brasil vai avançar até 5% em 2011 – abaixo da expectativa deste ano, que previa um avanço do Produto Interno Bruto (PIB) de 5% a 7%.

"A pesquisa mostra que as empresas esperam um ano bom, mas não tão maravilhoso como 2010", afirma Murilo Hidalgo Lopes de Oliveira, coordenador da Paraná Pesquisas.

O cenário que se vislumbra para o próximo ano inclui pressões inflacionárias, maior custo de matérias-primas e insumos, ritmo menor de expansão do crédito e de geração de empregos. Embora 37% das empresas pretendam contratar em 2011, mais da metade (58%) programa manter estável o seu quadro de funcionários.

O levantamento – que ouviu 74 empresas entre os dias 10 e 19 de novembro – foi realizado antes de o governo anunciar um pacote de medidas para frear o crédito, considerado um dos motores do crescimento da economia, e tentar assim esfriar o consumo e evitar a formação de uma bolha de financiamentos.

Mas antes mesmo das últimas medidas do BC, as empresas já vinham reduzindo a empolgação com os números da economia. Se em 2009 96% das empresas projetavam crescimento para o Brasil em 2010, em novembro desse ano o número havia caído para 81%.

Para o economista Marcelo Curado, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), é natural que 2011 seja um ano de crescimento mais lento. "É preciso lembrar que em 2009 houve uma queda do Produto Interno Bruto (PIB). Então parte do avanço deste ano é recuperação. No próximo vamos crescer em cima de uma base mais elevada", avalia. O país também não teria condições de crescer nos níveis atuais de maneia sustentada com os atuais gargalos na área de infraestrutura sem gerar pressões inflacionárias.

Embora a euforia com a economia tenha diminuído, a pesquisa aponta que as empresas acreditam que o atual ciclo de crescimento brasileiro veio para ficar. A expansão da economia terá uma trajetória consistente e deve durar entre cinco e dez anos. Quase 80% dos entrevistados disseram que o faturamento de 2011 vai crescer em relação a esse ano.

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Câmbio

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Pelo segundo ano consecutivo, o dólar fraco aparece como o principal problema das empresas do estado, superando outras dificuldades tradicionais do setor empresarial, como a alta carga de impostos e a falta de infraestrutura. Para Marcelo Curado, da UFPR, o fato de o câmbio liderar a lista evidencia o efeito nocivo que as importações vêm provocando na economia, com prejuízos especialmente forte na indústria da transformação. O dólar barato incentiva desde a importação de componentes e insumos até a entrada de produtos acabados e bens de consumo, que concorrem diretamente com os itens nacionais. O governo já anunciou que planeja lançar um pacote, que deve incluir algum tipo de incentivo fiscal, para reduzir os prejuízos com o câmbio.

"O câmbio é muito provavelmente o nó mais difícil de desatar do novo governo, já que tem desdobramentos importantes para a economia, como a redução das exportações, da produção das empresas nacionais e do ritmo de geração de vagas", acrescenta.

O presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, considera que 2011 traz mais incertezas do que 2010. "O novo governo e o câmbio, que prejudica os exportadores e incentiva as importações, fazem com que os empresários fiquem mais cautelosos com o próximo ano", afirma. "Os exportadores estão comendo o pão que o diabo amassou. E a indústria que concorre com produtos importados acabados começa a sofrer o início de um processo de desindustrialização", critica. A Fiep estima que, depois de um crescimento de vendas de 8% em 2010, as indústrias do estado deverão crescer entre 3% e 5% no próximo ano.

O levantamento da Paraná Pesquisas também perguntou para as empresas quais os principais problemas enfrentados no atual momento. Além do câmbio, que aparece em primeiro lugar, estão retração de mercado, falta de mão de obra qualificada, carga tributária e aumento de custos de matérias-primas – problema que não era citado na pesquisa do ano passado – e crescimento da concorrência.

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