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Movimento de navios no porto de Paranaguá
Movimento de navios no porto de Paranaguá| Foto: José Fernando Ogura/ANPr

O acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul vai criar um mercado de mais de 700 milhões de pessoas, que movimentam cerca de um quarto do PIB mundial. As oportunidades para o Brasil são grandes: uma delas é se tornar um grande fornecedor de produtos do agronegócio para a UE, aponta o presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro. Mas, para poder aproveitar este cenário promissor, o país terá de fazer antes a ‘lição de casa’.

O embaixador Rubens Barbosa, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), aponta que o maior desafio é o de reduzir o custo Brasil, que afeta a competitividade do produto nacional no exterior.

“É preciso promover as reformas da previdência e a tributária, investir na desburocratização e melhorar a infraestrutura, por meio do programa de concessões. Por si só, o acordo não irá ativar o comércio exterior brasileiro.”

Rubens Barbosa, diplomata e presidente da Abitrigo

Segundo Castro, caso o livre comércio entre os blocos estivesse valendo, o Brasil não teria benefícios, mesmo com as tarifas reduzidas ou zeradas. Além da dificuldade em exportar, o país também teria dificuldade para importar, devido ao desaquecimento da atividade econômica.

Mas, mesmo neste cenário, o bloco europeu é um dos principais clientes dos produtos brasileiros. Dados do Ministério da Economia mostram que nos cinco primeiros meses do ano foram exportados US$ 15 bilhões, 12,5% a menos do que no mesmo período de 2018.

Vontade política

Não são só as reformas que facilitarão os negócios com a União Europeia. Antes de entrar em vigor, o acordo precisa ser submetido aos Parlamentos dos 32 países que fazem parte do acordo. E as tratativas podem demorar. Castro, da AEB, prevê resistências em países com maior tradição agropecuária na Europa, como a França e a Irlanda.

A avaliação dos dirigentes empresariais com os quais a Gazeta do Povo conversou é que a aprovação demore entre 2,5 a 3 anos. O presidente da associação de comércio exterior enfatiza que vai ser necessário muita vontade política para fazer com que o acordo de livre comércio entre em vigor.

“Isto, mais as reformas, nos permitirá dar um grande salto. Só assim poderemos explorar um potencial relevante”, diz Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit).

Negociações de acordo foram demoradas

O acordo, que demorou 20 anos para ser negociado, chega em um momento um tanto quanto turbulento para a economia mundial: EUA e China, as duas maiores potências globais, estão em uma guerra comercial. E as tensões entre os EUA e o Irã estão pressionando os preços do petróleo para cima.

“Existe uma crescente insegurança no comércio internacional. E a Europa sai com uma vantagem, ao garantir uma fonte de suprimentos de commodities.”

José Augusto de Castro, presidente da AEB

Uma série de fatores explica a demora na tramitação do acordo: em um primeiro momento, era mais interessante para o Mercosul do que para a União Europeia; depois, segundo Barbosa, que foi embaixador do Brasil em Londres (1994-9) e Washington (1999-2004), houve um desinteresse dos governos petistas por acordos deste tipo, que foram só firmados com Israel, Palestina e Egito.

A entrada da Venezuela no Mercosul também travou as negociações, que foram suspensas porque os europeus não admitiam negociações com o regime chavista. “Agora chegou o momento”, diz Castro.

O diplomata aponta que o acordo com a União Europeia marca uma nova fase nas relações econômicas do Brasil com outros países e abre espaço para que novos acordos deste tipo.

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