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A Volvo vendeu 1,4 mil caminhões no primeiro bimestre, quase 1,8 mil a menos que no início de 2014. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
A Volvo vendeu 1,4 mil caminhões no primeiro bimestre, quase 1,8 mil a menos que no início de 2014.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Com produção e vendas acumulando quedas ao redor de 50% no primeiro bimestre, o segmento de caminhões tem apresentado o pior desempenho entre os diversos setores da indústria automobilística brasileira, sem perspectivas de melhora no curto e médio prazos.

A intensidade da retração supera as expectativas até mesmo de analistas e montadoras mais pessimistas, que agora revisam projeções para baixo, com a baixa no ano podendo alcançar 25%. A surpresa se deve a fatores negativos que não foram levados em conta nas previsões iniciais.

Segundo a Anfavea (associação das montadoras), as vendas de caminhões recuaram 39% nos dois primeiros meses do ano, em comparação com o mesmo período de 2014. As vendas da Volvo, que tem fábrica em Curitiba, caíram ainda mais: 57%. Outra empresa com produção no Paraná, a DAF elevou as vendas, mas o volume comercializado é baixo: subiu de 18 para 57 unidades.

Investigação e ajuste fiscal freiam obras e geram demissões

  • SÃO PAULO

A combinação entre a Operação Lava Jato e o pacote de ajuste fiscal do Ministério da Fazenda, além de uma certa dose de burocracia e brigas contratuais, resultou em obras paradas ou em ritmo lento pelo Brasil. Sondagem feita com sindicatos do setor de construção pesada levantou quase 30 grandes projetos em ritmo extremamente lento e, muitos deles, com demissões em massa.

Só nos primeiros dois meses deste ano foram fechadas 35.552 vagas na construção civil, segundo o Ministério do Trabalho. Se retroagir a setembro de 2014, quando as investigações da Operação Lava Jato se intensificaram, esse número sobe para 241.580.

O Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil, considerado um dos motores de crescimento do País, despencou 5,6% em 2014 e pode cair mais 5% neste ano, segundo cálculos da GO Associados a pedido da Associação Paulista dos Empresários de Obras Públicas (Apeop).

Além da antecipação de compra em anos anteriores, do ajuste fiscal em andamento e do aperto nas condições de financiamento pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que já constavam nas primeiras estimativas, a crise política, os efeitos em cascata da Operação Lava Jato, a possibilidade de racionamento de energia e a crise hídrica afetam diretamente a atividade dos principais setores demandantes de caminhões.

Além disso, a disparada do dólar elevou os custos de produção sem ajudar as exportações, uma vez que boa parte da produção brasileira é vendida a países do Mercosul que também estão mal, como Argentina e Venezuela.

A junção de todos esses fatores tem pesado sobre a confiança dos empresários, que adiam investimentos na compra dos veículos.

O economista Rodrigo Baggi, da Tendências Consultoria Integrada, explica que os efeitos da Lava Jato têm prejudicado o setor, na medida em que afetam o mercado da construção – projetos de infraestrutura –, grande solicitante de pesados. A menor rentabilidade do agronegócio e da mineração, em função da queda dos preços internacionais das commodities, também influencia negativamente. Soma-se a tudo isso ainda o “esfriamento” do varejo, que provoca redução dos fretes, cujos preços já tinham sido afetados pelo reajuste de combustíveis.

Perspectivas

O presidente da Anfavea, Luiz Moan, avalia que essa conjugação de fatores negativos faz com que as perspectivas para o curto e médio prazos não sejam nada otimistas.

“O segundo trimestre ainda deve ser difícil, e a expectativa é de melhora no segundo semestre, mas precisamos ver o andamento de algumas coisas”, afirmou, ressaltando que a Anfavea deve anunciar em abril revisão para baixo das projeções iniciais para todo o setor de autoveículos.

A Tendências também deve anunciar em breve revisão para baixo das previsões para o setor. De acordo com Rodrigo Baggi, atualmente a consultoria estima recuo de 6% nas vendas de caminhões em 2015 ante 2014, projeção que deverá ser revisada para retração entre de 20% a 25%.

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