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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, rebateu nesta quinta (27) os sucessivos ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a ele por conta da taxa básica de juros, que o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter em 10,5% na última reunião.
Campos Neto se tornou alvo de Lula e aliados como o responsável por manter a Selic em um patamar elevado, mesmo após diretores indicados pelo governo também votarem a favor disso.
“Acho que o presidente da República tem todo direito de se manifestar. Não cabe a mim, presidente do BC, entrar em debates políticos. Mostramos e vamos continuar mostrando que a nossa decisão é técnica”, disse o economista durante uma coletiva de imprensa mais cedo.
Roberto Campos Neto apresentou nesta quinta (27) o Relatório Trimestral de Inflação que elevou a estimativa do índice de 3,5% para 4% neste ano, e que já havia sido previsto na ata do Copom divulgada na terça (25).
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Campos Neto ressaltou que a decisão de manter a taxa de juros em 10,5% interrompendo o ciclo de cortes foi tomada “com espirito de equipe para mostra que o movimento é técnico”.
“Vou sair, e as pessoas vão fazer uma análise, depois que eu sair, que eu fui 100% técnico. Não cabe a mim ficar rebatendo ou discutindo temas políticos. Nossa missão é entregar inflação baixa”, disse em referência ao fim do mandato à frente do Banco Central, no final deste ano.
A afirmação de que não iria discutir temas políticos também foi em referência a uma fala de Lula, na semana passada, em que disse que Campos Neto tem “lado político” e que “trabalha para prejudicar o país”.
Lula se referia ao evento promovido pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) que teve Campos Neto como um dos principais convidados, e que ele supostamente teria se oferecido para atuar como um possível ministro em uma eventual vitória do direitista à presidência da República.
Campos Neto negou qualquer intenção de se candidatar a cargos políticos, e afirmou que nunca conversou com Freitas neste sentido. “Nunca tive nenhuma conversa com o Tarcísio para ser ministro de nada. Nunca falei isso, nem o Tarcísio”, pontuou.
O presidente do Banco Central diz que é “muito amigo” de Tarcísio desde o governo passado, e que sempre conversaram muito sobre economia quando ele era ministro da Infraestrutura.
“Continuamos conversando sobre economia, como converso com parlamentares, pessoas do governo e do mercado. Nas conversas que tenho com ele, o pouco que é conversado sobre política, minha percepção é que ele não é candidato agora”, completou Campos Neto.
Ele ainda classificou as insinuações de que poderia ocupar algum cargo público como “especulação para contaminar um trabalho técnico que não tem viés político”. E disse, também, que pretende ir para o mercado corporativo de tecnologia e finanças após deixar a presidência da autarquia.