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Custos

Bancos reduzem valores mínimos para aplicar em fundo

Agência Estado

São Paulo - Nas últimas semanas, os três maiores bancos privados do país reduziram a aplicação mínima de vários fundos voltados ao pequeno investidor. Com a atitude, procuram manter a competitividade de seus produtos em relação à poupança. Especialistas apontam que, atualmente, fundos atrelados aos juros básicos (Selic) só têm retorno maior do que o da poupança quando a taxa de administração é inferior a 2% ou 2,5%.

"Diminuir a aplicação mínima equivale a baixar a taxa de administração, uma vez que damos ao cliente a possibilidade de colocar seu dinheiro em fundos mais rentáveis", explica o diretor executivo do Itaú-Unibanco, Osvaldo Nascimento.

A família de fundos Super DI, por exemplo, teve o valor mínimo de aplicação reduzido de R$ 10 mil para R$ 5 mil. No fundo Mega DI, o limite mínimo saiu de R$ 100 mil para R$ 70 mil em março. Em junho, houve nova baixa, dessa vez para R$ 50 mil. Em ambos os casos, as taxas de administração ficaram no mesmo nível de antes – 2,5% e 1,4% ao ano, respectivamente.

O Santander-Real diminuiu, na semana passada, a aplicação mínima de 18 fundos de varejo. "Com a queda da taxa básica de juros, alguns fundos de fato perderam competitividade ante a poupança", reconhece seu estrategista de investimentos pessoais, Aquiles Mosca. Em um fundo DI com taxa de administração de 2,5% ao ano, por exemplo, o valor mínimo passou de R$ 10 mil para R$ 1 mil.

Há quase um mês, o Bradesco anunciou medidas semelhantes. Na época, o banco explicou, em comunicado, que o objetivo era dar aos investidores "acesso a fundos mais competitivos em termos de rentabilidade". Dessa forma, eles poderiam "diversificar sua carteira de investimentos em um cenário de queda de juros". Os executivos afirmam que mais novidades já estão no forno. O Itaú-Unibanco, por exemplo, criou um fundo de ações de capital garantido.

Brasília e São Paulo - A captação da caderneta de poupança teve um primeiro semestre fraco, apesar da previsão de que haveria uma migração rápida de recursos provenientes de fundos de investimentos após a redução da taxa básica de juros (Selic). Nos primeiros seis meses do ano, os depósitos superaram os saques em R$ 2,45 bilhões, segundo dados do Banco Central. O valor é 45% menor do que os R$ 4,4 bilhões que entraram na caderneta no mesmo período de 2008.

A tendência, porém, é que a poupança mostre mais força no segundo semestre, como indicam os resultados de maio e junho. O investimento captou R$ 1,88 bilhão e maio e outros R$ 2 bilhões em junho. Esses resultados apareceram mesmo após a decisão do governo de tributar a caderneta com Imposto de Renda (IR) a partir de 2010, anunciada em maio. A medida tenta fazer com que o rendimento da poupança volte a ser inferior ao de fundos de investimentos que, além de ter retornos menores com a queda da Selic, ainda pagam taxas de administração e IR.

A captação líquida da poupança em junho foi a maior desde dezembro do ano passado, quando ultrapassou a marca dos R$ 5 bilhões. Apesar de ainda distante desse volume, que costuma ser mais expressivo nos meses de dezembro, a quantia vista no mês passado é a maior do ano, já que houve mais entradas do que retiradas em fevereiro (R$ 751 milhões) e maio (R$ 1,880 bilhão), mas mais saídas do que depósitos em janeiro (- R$ 486 milhões), março (- R$ 847 milhões) e abril (- R$ 941 milhões). Em 2008, apenas em abril o volume de retiradas foi superior ao dos depósitos (- R$ 1,848 bilhão).

Migração

Apesar da aceleração na captação da poupança em maio e junho, o resultado fraco do primeiro semestre ajuda a explicar por que o governo passou a tratar com mais lentidão o problema da competição com os fundos. "O ritmo de aportes na poupança vem se mantendo estável no último ano e meio, na faixa de R$ 10 milhões a R$ 15 milhões por dia", disse o estrategista de investimentos pessoais do Santander Asset Management, Aquiles Mosca. "Não temos percebido migração para a poupança", afirmou o diretor executivo do Itaú-Unibanco, Osvaldo Nascimento, responsável pelos produtos de investimentos da instituição.

Segundo especialistas, uma série de razões explica a cautela dos investidores em transferir recursos de um fundo para a caderneta. "A complexa regra do governo para (mudar) a poupança deixou as pessoas com o pé atrás", disse o professor da Trevisan Escola de Negócios Alcides Leite. O professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Ernesto Lozardo acrescenta outros dois fatores. O primeiro está relacionado à estabilidade da economia. "Há 15 anos, fiz um trabalho que mostrava que o brasileiro tomava muito rapidamente suas decisões financeiras, com medo da inflação", comentou. "Hoje é diferente. As pessoas não têm mais o raciocínio do overnight."

Para Alexandre Chaia, professor de Finanças do Insper, o papel do gerente de banco é chave para entender o comportamento ainda errático do brasileiro em relação à poupança. "A maior parte dos clientes pede conselho ao gerente, que ainda não percebeu que a caderneta já rende mais do que muitos fundos", pondera. "É uma questão cultural, que precisará de tempo para mudar."

O professor da Faculdade de Economia e Administração da USP Roy Martelanc chama a atenção para outra questão comportamental. "Tem muita gente que não aplica em poupança porque acha que é coisa de pobre", afirmou. O especialista também destaca o contra-ataque dos bancos, por meio da redução do valor mínimo de aplicação em vários fundos de investimento. "A margem do banco é maior com fundos ou CDBs do que com a poupança", observou.

Rentabilidade

Para o economista da Tendências Consultoria Integrada Bruno Rocha, o volume de captação deve seguir elevado. Esse movimento, de acordo com ele, deve-se à rentabilidade do investimento. Segundo levantamento realizado por Rocha, de janeiro de 2001 a maio de 2006, o rendimento da caderneta correspondia a 48% do que era pago pela taxa básica de juros. Já no período de junho de 2006 até o mês passado, essa relação saltou para 63%. "Por isso, desde 2006, vemos mais captação do que saques da poupança", concluiu o analista. Hoje a Selic está em 9,25% ao ano, enquanto a caderneta tem um rendimento mínimo de 6% ao ano mais a Taxa Referencial (TR).

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