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O empresário dono da Tesla Elon Musk.
Elon Musk em um evento da Royal Society, em julho de 2018.| Foto: Duncan Hull/Royal Society/Wikipedia

Esta é uma época boa para os executivos-chefes nos Estados Unidos. A economia sólida reforça as vendas das empresas e os cortes de impostos corporativos do presidente Donald Trump garantem lucros suculentos. Um aumento enorme na recompra de ações fez seus preços subirem.

Apesar de todas as forças estruturais que auxiliam as metas e o valor de ações das empresas, os conselhos continuam a atuar como se os CEOs tivessem poderes únicos para garantir melhores retornos – e fazem de tudo para compensá-los por isso. O exemplo mais relevante: a Tesla aprovou um pacote de pagamento para Elon Musk avaliado em quase US$ 2,3 bilhões. Não é apenas a soma mais alta do ano passado; é a maior da história, de acordo com especialistas.

No Brasil, devido à crise recente, o cenário é outro, conforme a Gazeta do Povo mostrou no mês passado. Por aqui, segundo pesquisa da Page Executive, os executivos estão ganhando menos "mimos" ou extras gratuitos, como carros e bônus, e têm visto uma parcela cada vez maior de sua remuneração vir em forma de participações na empresa e outras variáveis. É uma prática saudável, que reflete o comprometimento do executivo com a organização que comanda, mas, com certeza, em uma realidade mais difícil do que a americana.

Nos Estados Unidos, todos os anos, a Equilar, empresa de consultoria de remuneração executiva, faz uma pesquisa dos 200 executivos-chefes mais bem pagos dos EUA para o The New York Times. E, quase todos os anos, CEOs que já ganham enormes somas acabam recebendo mais dinheiro. Em 2018, segundo mostra nossa análise, eles se deram particularmente bem: em média, os rendimentos foram de US$ 18,6 milhões – um aumento de US$ 1,1 milhão, ou 6,3% a mais em comparação com o ano anterior.

Ou seja, o salário de um CEO teve um aumento de quase o dobro da taxa dos salários normais nos Estados Unidos. Em 2018 – um ano muito bom para o mercado de trabalho por lá –, o trabalhador americano médio do setor privado obteve um aumento de 3,2%, ou US$ 0,84 por hora.

Esses ganhos no topo ocorrem apesar dos esforços recentes para restringir o salário de executivos-chefes. No início desta década, o Congresso exigiu que as empresas divulgassem a relação entre o salário do seu CEO e o de seu empregado médio. Os legisladores também deram aos acionistas um voto especial, mas não vinculativo, sobre o assunto. Outra tendência que, teoricamente, contribui para a situação é que os conselhos empresariais, sob pressão de alguns acionistas e empresas consultivas, vinculam ainda mais o salário do executivo-chefe ao desempenho de uma empresa.

E, ainda assim, a máquina de pagamentos continua emitindo recompensas cada vez maiores. Musk chegou ao topo da lista da Equilar com mais de US$ 2 bilhões de vantagem. Em segundo lugar vem David M. Zaslav, o executivo-chefe da empresa de entretenimento Discovery, com US$ 129,5 milhões.

A Palo Alto Networks, que fornece serviços de cibersegurança, deu a seu novo executivo-chefe, Nikesh Arora, um pacote que, segundo a empresa, chegou a US$ 125 milhões. A Oracle premiou cada um de seus dois CEOs com US$ 108 milhões e deu a seu presidente, Larry Ellison, um pouco mais. Um deles, Safra A. Catz, foi a mulher mais bem paga de 2018, uma das apenas oito na lista da Equilar.

A CEO da Uber, Dara Khosrowshahi, que recebeu um prêmio de US$ 45,3 milhões, seria a décima da lista. Mas, como a empresa não tinha capital aberto no ano passado, não foi incluída no ranking. Outros que também não constam: CEOs de empresas de private equity e fundos hedge, cujos rendimentos podem chegar a centenas de milhões.

Cinco deduções sobre a remuneração dos executivos nos Estados Unidos

1. CEOs são remunerados independentemente da lógica

Quando a Tesla anunciou seu prêmio multibilionário para Musk em janeiro de 2018, a atitude foi aclamada como uma experiência ousada, algo que um empreendedor visionário merece. Claro, o número multibilionário foi grande o suficiente para apaziguar os deuses, mas o prêmio foi estruturado de tal forma que a empresa teria de alcançar metas altamente ambiciosas para que Musk recebesse alguma coisa. O valor de mercado da Tesla é agora de US$ 35 bilhões. Para garantir todas as opções do prêmio, esse valor teria de aumentar 18 vezes, chegando a US$ 650 bilhões.

"A totalidade do pagamento a Elon está diretamente ligada ao sucesso em longo prazo da Tesla e de seus acionistas, e esse prêmio pelo desempenho de 2018 ainda não foi consolidado", disse Kamran Mumtaz, porta-voz da Tesla.

O prêmio foi impulsionado pela preocupação de que a atenção de Musk pudesse se voltar a seus outros empreendimentos, como a SpaceX, ou de que ele pudesse deixar a Tesla. Ao descrever o pacote de remuneração, o conselho disse que queria "motivar o sr. Musk a continuar não só liderando a Tesla em longo prazo, mas, particularmente, dados seus outros interesses comerciais, a dedicar seu tempo e energia a isso".

Porém, nos meses que se seguiram, tanto Musk quanto a empresa vacilaram. A companhia teve dificuldade para produzir e entregar seus carros elétricos, alguns executivos se afastaram e as preocupações financeiras retornaram. Musk postou mensagens no Twitter sobre um acordo para que a Tesla saísse do mercado de ações, o que a Comissão de Câmbio e Valores Mobiliários posteriormente descreveu como fatos falsos e enganosos. Musk e a Tesla entraram em acordo com a agência.

2. Os CEOs recebem a mais para fazer o básico

Dois executivos-chefes que aparecem no topo da lista da Equilar, Robert A. Iger, da Disney, e John J. Legere, da T-Mobile, estão sendo premiados por liderar suas empresas no processo de grandes fusões.

Mas a realização de fusões pode ser considerada uma parte essencial da descrição do trabalho de um CEO, e não algo que mereça remuneração extra. A CVS, por exemplo, deu a alguns executivos um prêmio especial para supervisionar sua grande fusão com a Aetna, mas seu executivo-chefe, Larry J. Merlo, não recebeu nada.

Iger, da Disney, vai receber mais ações, avaliadas em quase US$ 74 milhões pela Equilar, um prêmio vinculado à conclusão da aquisição da 21st Century Fox pela Disney e sujeito a metas de desempenho. Acrescentando-se essa soma aos US$ 65,6 milhões que ele recebeu no ano passado, a quantia chegaria a quase US$ 140 milhões.

Legere, cuja empresa está se unindo à Sprint, está prestes a garantir um prêmio especial pela fusão, que a T-Mobile avaliou em US$ 37 milhões. Ele vai ganhá-lo, mesmo que o negócio não seja fechado. A T-Mobile disse que isso foi projetado para incentivar a maximização de retorno para seus acionistas, mesmo que a empresa não se una à Sprint.

3. CEOs são pagos, independentemente de escândalos

Timothy J. Sloan deixou o Wells Fargo em março, depois de lutar para convencer o Congresso e os reguladores de que o banco estava corrigindo seus problemas após vários escândalos. As ações de Sloan, que valem cerca de US$ 24 milhões, de acordo com a Equilar, serão totalmente suas nos próximos três anos, disse o Wells Fargo.

O Facebook teve um 2018 horrível. O escândalo da Cambridge Analytica revelou o controle deficiente da empresa sobre os dados dos usuários, e a atividade dos indivíduos vinculados à Rússia no Facebook por volta da época da eleição de 2016 foi um dos maiores ultrajes a atingir uma grande empresa de tecnologia. A rede social está agora gastando bilhões para tentar reforçar sua segurança e enfrenta um escrutínio regulatório que pode afetá-la por anos.

Mas a remuneração dos executivos mal sentiu o golpe. O conselho do Facebook deu um prêmio de US$ 18,4 milhões em ações para Sheryl K. Sandberg, a diretora de operações, e para Mike Schroepfer, o diretor de tecnologia. Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, não é pago como os outros executivos; efetivamente, toda sua compensação é composta por pagamentos para cobrir os custos de viagens e segurança pessoal.

4. CEOs muitas vezes recebem mais do que dizem as empresas

A Equilar faz sua análise com base na remuneração declarada. Mas essas são estimativas, muitas vezes baseadas em cálculos complexos das empresas sobre o valor de ações e opções no futuro. Alguns analistas fazem suas próprias contas e concluem que os prêmios podem chegar a valores muito maiores do que os divulgados pelas corporações.

A Institutional Shareholder Services (ISS), por exemplo, estima que a remuneração de 2018 concedida a cada um dos CEOs da Oracle valia US$ 207 milhões, em comparação com os US$ 108 milhões declarados. Os cálculos da ISS às vezes diferem porque várias suposições são feitas sobre a possibilidade de os executivos alcançarem metas de desempenho. A Oracle não quis comentar.

Claro, os executivos podem acabar ganhando muito mais do que o declarado, porque suas empresas acabam se saindo excepcionalmente bem. Jamie Dimon, o executivo-chefe do JPMorgan Chase, aparece em 22º lugar no ranking de 2018 da Equilar. Ele recebeu um prêmio em 2016 que, na época, foi avaliado em US$ 20,5 milhões. No fim do prazo dado para o pagamento em janeiro, em parte porque Dimon atingiu seus objetivos de desempenho, o valor foi, na verdade, de US$ 56 milhões, de acordo com os cálculos da Equilar.

5. CEOs são pagos para investir em suas empresas

Ao ingressar na Palo Alto Networks no ano passado, Arora usou US$ 20 milhões de seu próprio dinheiro para comprar ações da empresa. Quando executivos-chefes investem uma parcela de suas fortunas, isso pode reforçar o alinhamento entre eles e os acionistas. Em um caso notório, antes de se juntar ao Bank One em 2000, Dimon gastou cerca de US$ 57 milhões na compra de ações do banco, que mais tarde se fundiu com o JPMorgan Chase.

Mas esse incentivo pode não ser tão forte no caso de Arora. Os US$ 20 milhões são uma proporção relativamente pequena de sua compensação total de 2018, avaliada em US$ 125 milhões. Além do mais, a Palo Alto bancou seu investimento em dinheiro com um prêmio de ações restritas. "O prêmio baseado no desempenho do sr. Arora será convertido em valor somente se nossos acionistas perceberem valor significativo", disse Ben Malloy, porta-voz da empresa.

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