• Carregando...

Curitiba – Que brasileiro gosta de cerveja, ninguém discute. Mas quando o assunto é o sabor da bebida feita no país, as opiniões variam muito. Mais de 90% da cerveja consumida no Brasil é produzida por três grandes grupos – Ambev, Kaiser e Schincariol – que apostam em um sabor que agrade o maior número de pessoas. Feitas em processos quase que totalmente mecanizados, essas cervejas levam conservantes químicos para durar mais tempo e muitas vezes contêm malte de milho ou arroz, mais baratos e fáceis de produzir do que a cevada – cereal que deu origem à bebida.

Essa estratégia explica em parte a estagnação do mercado no país. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv), há dez anos o Brasil produz cerca de 8,5 bilhões de litros de cerveja anualmente. Os fabricantes alegam alta tributação e baixo poder aquisitivo da população, mas existe um grupo que não reclama: o das microcervejarias.

De acordo com Marcelo Carneiro, presidente da Associação Brasileira das Microcervejarias (Abmic), o setor vem crescendo exponencialmente. "Há 10 anos eram apenas seis microcervejarias. Agora, chegam a 70", conta. Carneiro diz que o mercado não é um pote de ouro no fim do arco-íris, mas é promissor. "Quem tem capital pode investir porque é um negócio de futuro", diz. Com cerca de R$ 2 milhões é possível abrir uma microcervejaria e mantê-la funcionando.

O potencial é avalizado também por Aldo Bergamasco, presidente da Baden Baden, de Campos do Jordão (SP). "Com certeza ainda há a possibilidade de crescimento muito acelerado neste mercado. Quando iniciamos nosso projeto, em 1999, éramos somente a quinta microcervejaria do Brasil. O mercado cresceu bastante, para todos", conta. A empresa fabrica cerca de 100 mil litros de cerveja por mês e cresce mais de 50% ao ano.

Na concorrência com as grandes, as micro estão investindo em sabores desconhecidos do brasileiro. O mercado de cervejas mais saborosas é praticamente desconhecido no país. As grandes cervejarias estão investindo neste nicho – vide a linha Bohemia da Ambev, com as cervejas do tipo Weiss, Pale Ale e Abadia –, mas quem está entrando para valer são as microcervejarias.

É o caso da Cervejaria Eisenbahn, de Blumenau (SC), que já investiu R$ 4 milhões para produzir 150 mil litros por mês e cresce em média 50% ao ano desde 2002. "As cervejas especiais, produzidas artesanalmente, têm um público que gosta de sabor elaborado aliado à gastronomia", conta Juliano Mendes, um dos proprietários. A empresa produz oito diferentes tipos – além de um licor de cerveja – e pretende fazer mais de 20 estilos da bebida. A fábrica já está exportando para a França e para os Estados Unidos. Mendes explica que as cervejas artesanais não levam conservantes nem produtos químicos. Para serem conservadas, elas são simplesmente pasteurizadas e engarrafadas. A Eisenbahn importa a maioria dos ingredientes e segue a Lei Alemã da Pureza, promulgada em 1516, que determina que uma boa cerveja só pode conter malte de cevada, lúpulo e água.

Para Tony Zambon, dono da Cervejaria Bavarium, que é uma das pioneiras no Brasil e funciona há 19 anos em Curitiba, o mercado é completamente virgem. "Existe consumidor para esse tipo de produto, principalmente em Curitiba", afirma. O empresário reclama da alta carga tributária. Segundo o Sindicerv, 35,6% do preço de uma cerveja serve para pagar impostos.

Moacyr Pacheco, dono da também curitibana Cervejaria Asgard, comenta que as cervejas artesanais são melhores para acompanhar refeições. "A espuma das cervejas comerciais é feita por químicos que também precisam ser digeridos e tomam espaço no estômago", explica. A Asgard existe há três anos, cresce de 10% a 15% ao ano e produz cerca de 15 a 20 mil litros por mês de chope claro e escuro. A meta agora é desenvolver uma cerveja do tipo Ale e investir em produtos de butique, como copos especiais e camisetas. Atender eventos e festas e a venda direta ao consumidor, com barris de 5 ou 10 litros, também são apostas da empresa.

Como em quase todos os segmentos, a qualidade tem seu preço e as cervejas especiais são mais caras do que as "normais". Enquanto uma garrafa long neck da Skol pode ser encontrada por cerca de R$ 1,20 nos supermercados, uma da Eisenbahn não sai por menos de R$ 4.

Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]