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Quando falamos de taxas de juros e de câmbio, num determinado instante, temos a impressão que são constantes bem determinadas e universais, isto é, que são as mesmas para todos os agentes econômicos. Nada mais longe da verdade. Cada um deles, dependendo de seu poder econômico, de sua localização, do setor em que atua e de sua rede de interesses, tem suas próprias taxas de juros e de câmbio determinadas pelo "mercado". Em geral, a taxa de juro é menor e a taxa de câmbio é maior para as grandes empresas com departamentos financeiros integrados com o sistema bancário, capazes de aproveitar as condições de arbitragem sempre existentes. O que temos, portanto, é uma distribuição estatística de cada uma das taxas. A política monetária age sobre a média de cada distribuição, mas tem pequena influência sobre a dispersão construída pelo próprio mercado.

Para ser eficiente, o sistema de "metas de inflação" deve ser adequadamente preparado: as condições internas e externas devem garantir pequenas variações da taxa de câmbio mesmo diante de fortes choques. O que dele se espera é a suave convergência da taxa de inflação para a "meta" (realisticamente escolhida) com o menor efeito possível sobre o nível e flutuação da taxa de crescimento do PIB. O sucesso da manobra depende, portanto, de uma manipulação cuidadosa da taxa de juros real, o que certamente não tem ocorrido no Brasil. A tabela abaixo mostra a taxa Selic (do papel mais líquido e sem risco) na última semana do ano anterior, a taxa de inflação do ano seguinte (IPCA) e a taxa de juro real "ex-post" de 2002 a 2007 que é a mesma para todos os aplicadores, antes do imposto:

A taxa bruta média de retorno real no período, para o papel governamental de absoluta liquidez e garantia, foi da ordem de 10,5% ao ano, provavelmente a campeã olímpica do mercado financeiro internacional. A tabela revela, ainda, o formidável efeito "serrote". Os "dentes" altos e baixos do juro real se sucedem no curto prazo, catastroficamente. Não é pois, sem razão, que os investimentos físicos não aumentam. O crescimento do PIB "per capita" entre 2002 e 2006 não passará de 1,2%. Terá sido essa a "manobra monetária ótima" para o Brasil como garantem alguns especialistas? Há controvérsia!

Antônio Delfim Netto é deputado federal.

dep.delfimnetto@camara.gov.br

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