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Sei que muita gente espera que uma coluna sobre finanças pessoais trate apenas de investimentos. Onde alocar recursos, quais ações vão bombar, que títulos públicos são mais indicados para o momento (esta, uma pergunta do leitor Aldair que entrará neste espaço oportunamente). Só que o tema não se resume a isso. Na maior parte do tempo, administrar com inteligência as finanças diz respeito mais ao consumo do que ao investimento. Se você não gastar com sabedoria, dificilmente terá dinheiro para investir.

Uma administração financeira bem-sucedida (e de tudo que advém dela, como a realização de sonhos que dependem de dinheiro e a possibilidade de desfrutar de uma aposentadoria tranquila e com a carteira recheada), portanto, estará bastante ligada à maneira como o sujeito encara o consumo e suas armadilhas. Aí entra a ideia de valor.

Quando se trata de economia, às vezes parece que "valor" é um sinônimo de "preço". Na verdade, o valor tem a ver com a apreciação que fazemos de determinada coisa, com a intensidade que aspiramos tê-lo. Nesse campo das aspirações, as escolhas são extremamente amplas. Nas prateleiras da nossa mente, onde essas opções são feitas, estão desde objetivos físicos e palpáveis (a posse de bens, por exemplo) até questões que resvalam a metafísica (o desejo de amar e ser amado, a religião, o respeito à natureza, entre outras). Há desejos efêmeros, como uma bela refeição num restaurante cinco estrelas, e duradouros, como um casamento bem-sucedido. É no equilíbrio entre todas essas demandas que as decisões são tomadas.

Há alguns dias, andando entre as barracas de uma feira livre, escutei uma história que pode ilustrar bem isso. Quem contou foi um vendedor de verduras. Ele falava com outra pessoa, mas eu parei e fiquei escutando também. Ele falou que um dia, depois de atender uma mulher idosa que ia sempre à sua banca, percebeu que a cliente havia esquecido a carteira sobre uma das caixas. Era uma carteira diferente: feita em couro branco, tinha vários detalhes coloridos e trabalhados à mão. Dentro, tinha uma boa quantia, equivalente a mais ou menos um salário mínimo. Ele guardou, esperando que a mulher voltasse para fazer compras. Antes, percebeu que havia uma boa soma em dinheiro lá dentro.

Demorou, mas ela veio, uns três meses depois.

– A senhora não se lembra de ter perdido nada, não? – ele perguntou.

– Não... – respondeu a mulher.

– Pois eu acho que esqueceu – enquanto falava, ele se abaixou e pegou a carteira, que todas as semanas ele vinha trazendo de volta para a feira, junto com pertences seus e dinheiro para dar de troco aos fregueses. Ele falou também o valor exato que tinha achado e, envergonhado, contou que precisou de dinheiro e usou as notas que estavam na carteira. — Mas eu pago tudo para a senhora até a semana que vem...

A freguesa contou então que a carteira tinha sido presente do seu marido, já morto. Ele a tinha dado no dia em que começaram a namorar, décadas atrás. O feirante pagou direitinho, mas a mulher estava mais feliz em ter a carteira de volta, pelas boas lembranças que ela lhe trazia.

Passados mais de dez anos do ocorrido, conta ele, a mesma mulher foi à feira com algumas crianças. Já bem velhinha, andava com dificuldade. Parou na sua banca e o apresentou:

– Esse é o homem que devolveu a carteira do seu bisavô.

Quanto valia a carteira perdida? Para o feirante, ela valia pelo que tinha dentro (o dinheiro). Para a senhora, ela valia pelas memórias que trazia. No dinheiro dá-se um jeito, como o próprio personagem demonstrou – ele avançou sobre o que estava na carteira e mais tarde restituiu a proprietária. A carteira, não: essa era insubstituível.

Então as coisas funcionam assim: a prioridade – seja em termos de dinheiro ou de tempo – precisa ir para o que é insubstituível. No resto dá-se um jeito...

Mudando de assunto...

A nota que falava sobre a campanha de boicote aos postos BR, publicada na semana passada, despertou a atenção do leitor Fábio, cuja família é dona de uma revenda da marca. Ele argumenta que os postos não são responsáveis pela política de preços das distribuidoras, mas terão uma perda de receita muito representativa caso tal movimento vá adiante. Registro feito.

O mineiro Luiz Henrique Godinho, que criou a comunidade no Facebook chamando para o boicote, diz que ficou surpreso com a adesão. "Creio que dará certo a campanha", afirma.

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