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Domingão, surge o merchandising naquele programa que passa depois do futebol. Diz lá que, por meio da financeira anunciante, o sujeito pode pegar um empréstimo de R$ 8 mil, para pagar "em 36 parcelas de só R$ 498". Ô loco, meu!

Meu filho de 10 anos assiste à cena e fica curioso. Quer saber quanto dá o valor total. Pega caneta e começa a riscar os números em um canto de um jornal que está sobre a mesa. Resultado: R$ 17.928.

– Você acha isso muito ou pouco, filho? – pergunto.

– É bastante – o olhar dele não esconde o espanto. – Mais que o dobro dos R$ 8 mil. Então por que ele disse "só R$ 498"?

É uma boa pergunta, não? Imagino que, se ela fosse feita mais vezes, poderíamos evitar o endividamento excessivo que tem incomodado tantas famílias brasileiras nos últimos tempos. Mas os brasileiros não estão perguntando, os pais não estão respondendo e, a julgar pelas notas das avaliações internacionais sobre o ensino de Matemática, poucas contas têm sido feitas. Em última instância, percebemos as consequências dessa falta de perguntas e respostas nas estatísticas do Banco Central. As pessoas estão se endividando porque não entendem o quanto vão pagar.

Foi mais ou menos isso que expliquei para o meu filho. Sem isentar a responsabilidade do anunciante.

– Ele disse "só R$ 498" para fazer parecer que é um bom negócio, quando na verdade não é. É propaganda enganosa, e as pessoas acreditam nisso porque comparam R$ 498 com R$ 8 mil e acham o valor menorzinho – explico. – Na verdade, deveriam comparar R$ 8 mil com o valor total que vão pagar, esses R$ 17.900.

Questões como essas fazem parte do currículo escolar. Hoje em dia as escolas tratam questões ligadas às finanças dentro do conteúdo de matemática. Algumas seguem a estratégia de distribuir o tema entre as diversas disciplinas – incluindo, por exemplo, problemas com dinheiro nas aulas de Matemática e aulas sobre a evolução da moeda nas lições de História. E há ainda as (poucas) que abrem sua grade para o ensino específico das finanças. Nenhuma delas está mais certa do que outra, tudo depende de como o fazem e do quanto conseguem ser eficientes em passar o conteúdo. Mas os seus filhos e netos só estarão devidamente equipados para lidar com dinheiro se encontrarem na família disposição favorável.

Não se trata de dar mesada (ou, pelo menos, não é só isso). O caso é de aproveitar todas as oportunidades. Era assim que se fazia nos primórdios, não? O filho do ferreiro aprendia com o pai os truques da sua atividade, e o mesmo ocorria com o agricultor, o pescador, o alfaiate... O modo de vida atual tem diferenças imensas em relação ao tempo em que as profissões eram passadas de pai para filho, mas a força dos modelos de conduta continua tão importante quanto no passado. As crianças não precisam aprender seus ofícios dos pais ou mães, mas podem absorver deles algo sobre seu modo de vida – e isso inclui a forma saudável de lidar com o dinheiro.

Sem solenidade

Uma dica: seja natural. Um erro que muitos cometem é tentar dar lições de vida cobertas com uma solenidade cinematográfica – às vezes parece que até uma trilha sonora vai começar a tocar. Isso deixa a criança constrangida. Se você aproveitar as brechas que ela própria der, seja num bate-papo no caminho para a escola, na volta da padaria ou do supermercado ou num passeio ao shopping, a conversa vai fluir muito mais naturalmente.

Sua vez...

... de dividir suas experiências sobre educação financeira. Como você fala de dinheiro com os seus filhos? Mande sua história para o e-mail financaspessoais@gazetadopovo.com.br. Aproveite para enviar também seu comentário ou dúvida sobre finanças pessoais.

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