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Há alguns anos – na verdade há “muitos anos”, uns 20 pelo menos – li uma crônica em que o autor (a essa altura, já não tenho a mínima ideia de quem possa ser) observava que as crises haviam deixado de ser exceção e se transformado em regra para o brasileiro. No texto, ele comentava que conhecia pessoas que se cumprimentavam perguntando “e a crise, como está?”

As agruras da economia e da política substituíam, assim, aqueles velhos quebra-gelos sociais – o papo sobre o tempo, a família, o futebol. Agora, aparentemente, as coisas estão voltando àqueles velhos tempos. A crise chegou a todos os lugares e a todos os lares. E meio que borrou as fronteiras daqueles velhos abridores de conversa. Só sobrou o tempo porque, pelo que ando ouvindo, a crise hoje também afeta a família e o futebol.

Como consumidor, tenho visto as maneiras como algumas empresas têm tentado contornar os problemas gerados pela dificuldade econômica dos últimos meses. Vi gente fazendo promoções, vi alguns investindo em divulgação – ainda que devagarzinho, como convém aos tempos mais bicudos. Vi gente tentando repassar aumentos de custo e vi quem resolvesse plantar seus preços lá em cima – uma fórmula que pode até recompor a margem da empresa, mas que não há de ser muito simpática para o cliente.

Aliás, vale até abrir parênteses para comentar isso. Semana passada fui a um restaurante que cobrava R$ 6,90 por uma latinha de refrigerante. Com os 10% da taxa de serviço, o refri passava de R$ 7,50. Quem foi aos estádios na Copa do Mundo reclamou bastante dos preços de comidas e bebidas servidas por lá. Mas lá um refrigerante de 600 ml custava R$ 8,00 e era tabelado. Uma lata de 355 ml a R$ 7,50 está acima do padrão Fifa. Ao fazer isso, o empresário está empurrando a crise de um personagem (ele próprio) para outro (seu cliente). Não é uma atitude inteligente para quem depende do cliente para ser bem sucedido.

Por mais que a ciência econômica preze a racionalidade, há certos movimentos que se fazem de forma mais ou menos improvisada. Formação de preços é um deles. O comerciante ou prestador de serviços costuma ter uma boa noção dos seus custos (pelo menos os bons empresários têm), mas ele sabe que nem sempre é possível repassar todo o aumento de custos para o consumidor. Então ele faz, como se diz popularmente, um bem-bolado: tenta fazer o maior repasse que o seu consumidor puder absorver. Se o cliente reclama ou deixa de comprar, ajeita-se. E assim vai.

O momento não é de aumentar preços, mas de deixar agir uma lei tão importante para a economia quanto a da oferta e da procura: a lei da gravidade. Subiu demais nos últimos anos? Então é bem possível que vá cair. Mas para isso é preciso uma mãozinha do consumidor. Se você acha que algum serviço ou mercadoria subiu demais, pechinche ou busque outro fornecedor. O equilíbrio se atinge pelo conflito.

IPCA

Lembra de uns anos atrás, quando a renda estava em alta, a inflação era baixa (que saudades!) e o consumo das famílias estava no pico? Os preços de prestadores de serviços como manicures e cabeleireiros sempre subiam mais do que a inflação, porque a demanda era alta. Pelo IPCA de julho de 2014 até junho de 2015, a situação anda mudando. A inflação de Curitiba no período ficou em 10,2%. O serviço de manicure subiu 9,98%. O dos empregados domésticos elevou-se em 10,04%. Só o cabeleireiro subiu mais que o IPCA: 12,37%.

Escreva!

E para você, como vai a crise? Como você está vivendo esses momentos estranhos? Como está minimizando os seus efeitos? Se quiser contar, escreva para financaspessoais@gazetadopovo.com.br.

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