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O próprio Comitê de Política Monetária (Copom) concluiu que as taxas básicas de juros no Brasil terão de ser reduzidas. Só que o Banco Central resolveu adiar essa decisão para janeiro, enquanto a cada dia surgem indicadores sobre a economia que já justificariam uma antecipação desse corte. O consumo de combustíveis vem caindo, assim como o número de passageiros nos aviões.

E isso desde as últimas semanas de novembro, por efeito de férias coletivas e cancelamento de uma série de negócios que estavam programados para se concretizar antes do fim do ano.

A inflação, que poderia ser o pretexto para manutenção de juros tão exageradamente elevados, começou a despencar no início de dezembro. O índice de preços da construção civil apurado pela Fundação Getúlio Vargas, que vinha se mantendo acima da média da inflação, desabou velozmente: entre um levantamento e outro (dez dias), saiu de 0,7% para 0,1%. Siderúrgicas, petroquímicas, fábricas de papel, montadoras de automóveis — segmentos importantes da indústria — paralisaram ou diminuíram o ritmo de suas linhas de produção.

Até a especulação no mercado de câmbio está arrefecendo porque já se pode deslumbrar uma queda brusca nas importações.

Um corte de meio ponto porcentual poderia alterar radicalmente esse quadro? Claro que não, mas já seria um bom começo, e sem dúvida serviria como sinal para positivo para potenciais interessados em investir ou financiar empreendimentos de infra-estrutura e construção civil, para os quais uma taxa acima de 12% ao ano começa a ser impeditiva ou os induz a permanecer aplicados em títulos federais.

Os dados do Produto Interno Bruto (PIB) referentes ao terceiro trimestre de 2008 mostram que o caminho mais fácil e mais seguro para a economia brasileira assegurar um razoável nível de atividade dentro de um cenário de crise internacional, gerando emprego e renda, está ligado de alguma forma à construção civil e pesada, seja em obras de infra-estrutura ou na edificação de moradias. Esses setores têm pouco impacto direto sobre importações e quase não demandam financiamentos em moeda estrangeira.

Além de recuo da inflação e da necessidade de se estimular alguns investimentos, o corte na taxa Selic encontra respaldo nos fundamentos macroeconômicos, como gostam de dizer os analistas de investimento. As contas do setor público ficaram equilibradas ao longo de todo este ano (e o déficit que sempre ocorre em dezembro deve ficar este ano aquém do que era esperado), a dívida pública líquida como proporção do PIB recuou para o patamar que estava em 1999 e o Brasil, mesmo com toda essa crise, em nenhum momento esteve ameaçado de ser rebaixado pelas agências classificadoras de riscos, mantendo-se assim entre as economias mais seguras para investidores em moeda estrangeira. Ainda que a crise possa mudar um pouco esse quadro nos próximos meses — especialmente quanto à receita de impostos — os fundamentos macroeconômicos não chegarão a se deteriorar, como pode acontecer com outras economias.

Por adiar o corte dos juros básicos para janeiro, talvez o Copom em sua próxima reunião tenha de partir logo para ajustes mais fortes (um ponto porcentual, por exemplo), o que, no caso brasileiro, acaba alimentando muitos movimentos especulativos prévios nos mercados financeiros. Embora o momento seja de cautela, também não se pode perder tempo na tomada de certas decisões determinantes para o comportamento da economia no curto prazo.

Nessa linha de apoio à construção civil, as comissões ligadas à economia na Assembléia Legislativa do Estado do Rio vão propor esta semana um aumento da parcela (7,5%) do fundo estadual de redução da pobreza que é destinado a novas moradias.

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O Brasil poderia amortizar totalmente a dívida externa dos setores público e privado até 2012 usando as atuais reservas cambiais. Isso certamente não será necessário, pois se os mercados não caminharem para a normalidade nesse período a própria dívida perderia sentido, pois estaríamos em ambiente de terra arrasada.

No curtíssimo prazo o Banco Central agiu certo então ao propor que uma fração das reservas existentes possa ser usada para financiar empresas que encontrem dificuldades na renovação de dívidas que contraíram lá fora e que têm vencimentos programados para dezembro ou para 2009. O pagamento terá de ser feito na mesma moeda do empréstimo, acrescido de juros bem acima dos rendimentos que o BC poderia auferir comprando agora títulos do Tesouro americano.

O simples anúncio que as dívidas poderão ser roladas sem que as empresas devedoras tenham necessidade de recorrer ao mercado de câmbio neutralizou parte das pressões sobre a cotação do dólar. Trata-se de iniciativa que, em termos de alcance dos objetivos das autoridades monetárias, é mais eficaz do que a liberação de depósitos compulsórios para os bancos ou a manutenção de altas taxas básicas de juros, pois ataca em cheio o problema da perda de confiança de empresários e consumidores na trajetória de curto prazo da economia brasileira. O placar da semana terminou empatado em 1 x 1.

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