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Foi há 515 anos. No dia 12 de outubro de 1492, Cristóvão Colombo chegou a este continente, que depois levou o nome de América. Nos mais de quinhentos anos, a relevância desta porção do mundo foi se alterando várias vezes. Na Idade Moderna, o ouro e a prata que daqui saíam sustentaram grandes impérios e também transformações na Europa. Depois da Segunda Grande Guerra, os Estados Unidos viraram a grande potência mundial. No entanto, de uns tempos para cá, o continente — pelo menos na sua parte latino-americana — parece pouco lembrado. Os olhos agora estão todos voltados para a Ásia.

Nem os Estados Unidos estão sendo poupados da avalanche asiática. Neste ano, pela primeira vez, a China vai contribuir mais para o crescimento do PIB mundial que a economia norte-americana. Claro, isso é apenas um aspecto. Há muitos outros que ainda mantêm os EUA como a grande potência econômica mundial, como, por exemplo, a capacidade de consumo dos seus habitantes. Mas fato é que, atualmente, muitos economistas já acreditam que o mundo pode continuar crescendo mesmo que a economia americana perca seu ritmo. E isso era inimaginável alguns anos atrás. A explicação deles é que países como China, Índia e Rússia poderiam garantir hoje, pelo menos, algum crescimento mundial.

Na China e na Índia, vive 1/3 dos habitantes do planeta. Em ambos os países, ainda existe um enorme contingente de população rural. Na China, com as mudanças dos últimos anos, tem caído a proporção dos que moram no campo. Hoje está abaixo dos 60%. Na Índia é maior: são 70%. A não ser que algo extraordinário altere o caminho da urbanização nesses países, centenas de milhões de pessoas, pouco a pouco, passarão a consumir mais, a produzir mais, em ambos locais. Um atrativo e tanto.

Isso sem falar na Rússia, país cujo enorme território está parte na Europa, parte na Ásia, mas com um modelo que lembra bem mais o asiático. O país, rico em petróleo, tem poder e, ainda que viva um momento de aumento da pobreza, também tem crescido bastante seu potencial de produção e de consumo.

Com todos esses atrativos do outro lado do mundo, não é de se estranhar que vários países do lado de cá — do Atlântico e do Pacífico — tenham ficado um pouco esquecidos. O Brasil até foi classificado como um dos BRIC (sigla que representa o grupo Brasil, Rússia, Índia e China), os emergentes que teriam maior potencial de crescimento. Mas, por enquanto, ainda que estejamos indo até bem, não conseguimos acompanhar o ritmo russo, indiano, nem, muito menos, o chinês. A China, há trinta anos, cresce, em média, cerca de 10% anualmente.

Não é apenas o Brasil que está ofuscado pelos asiáticos. O México, outra economia forte da América Latina, enfrenta sérios problemas com a China de concorrência no fornecimento para os Estados Unidos, seu maior comprador. Os produtos chineses, de tão baratos, são capazes de atravessar o oceano e chegar aos EUA, mesmo com o custo do frete, competitivos. Hoje 15% dos U$S 1,8 trilhão que os Estados Unidos importam por ano são produtos chineses.

Mas o que os asiáticos têm que nos falta? Para começar, gente. Concentrando tamanha população, há um volume maior de pessoas que precisam trabalhar. Com isso, como manda a lei do mercado, o valor dos salários cai. Segundo ponto: investimento em educação. A Coréia do Sul, por exemplo, investiu em ensino, e hoje é capaz de produzir itens de alta tecnologia. Cingapura, aquela pequena ilha, é outro exemplo. E mesmo a China, que tem investido bastante na formação de parte da sua população.

Não considerando Estados Unidos e Canadá, que pedem outras comparações, na América Latina, salvo em raras exceções, como no Chile, investiu-se pouco (ou mal) na educação. O que tem ajudado a região a crescer hoje é muito mais o comércio de commodities, que a produção de artigos de ponta. Nessas terras, são plantados 47% da soja que há no mundo; estão 40% do cobre disponível e 9,3% do petróleo.

A verdade é que não foram só os europeus que se desinteressaram um pouco da América Latina (com exceção dos temas de meio ambiente, é bom ressaltar). Os próprios Estados Unidos, com a sua guerra contra o terrorismo e a sede por petróleo, estão hoje muito mais voltados para outras partes do mundo. Até estão firmando tratados de comércio com alguns países latino-americanos e são próximos da Colômbia no combate ao narcotráfico, mas, tirando isso, os EUA não têm mais muitas políticas para a região. Naturalmente, menos presença americana também tem um lado bom.

Quinhentos e quinze anos se passaram e uma grande parte das Américas continua buscando sua verdadeira vocação. Já foi terreno de sonhos, já foi o mais próximo do paraíso. Hoje, a América Latina é uma parte do planeta cheia de potencialidades, mas afastada do centro das discussões. E mesmo os Estados Unidos, que pareciam predestinados à hegemonia do mundo, começam a encontrar concorrentes à altura.

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