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Genial é aquele adjetivo que jornalista nunca deveria usar sem uma profunda reflexão. E, por mais que se tenha a certeza que algo ou alguém merece a de­­nominação, é sempre bom procurar sinônimos menos pomposos. Difícil é tentar achar a exata palavra para descrever Scribble­­nauts, recentemente lançado para o Nintendo DS, e que é, provavelmente, o melhor jogo do ano até o momento.

Pense num cenário em que o jogador poderá incluir qualquer coisa que venha à mente. Quer ver um tiranossauro rex nin­­ja enfrentando zumbis ro­­bôs? Ou a morte enfrentando Deus? É só escrever na tela do por­­tátil que eles aparecerão. Ofi­­cialmente a desenvolvedora 5th Cell assume ter incluído ape­­­nas 23 mil ex­­pres­­sões possíveis, mas a impressão que fica é que quase tudo que queremos, lembrando das regras básicas que excluem verbetes por­­no­grá­­ficos, por exemplo, apa­­re­­cerá na tela após ser di­­gitado na tela sensível ao to­­que do portátil.

A ideia por trás do jogo é de uma simplicidade quase infantil. Os desafios parecem tolos no começo. Um dos primeiros pe­­de que você inclua na tela dois objetos que poderiam ser usados por profissionais pa­­drão, como policiais, bombeiros ou padeiros. O primeiro im­­­pulso seria escrever mangueira de água, machado ou revólver. E realmente eles podem ser usados e são aceitos. A sacada é po­­der usar a criatividade e in­­cluir itens não tão óbvios e que, no fim, acabam também solucionando o problema. Em outro, é necessário pegar uma estrela que está sobre uma árvore. Es­­cada? Pode ser. Ou escreva cupins e deixe que eles derrubem-na até a estrela chegar às suas mãos. O jogo vai ficando cada vez mais divertido à medida que as soluções vão ficando mais absurdas.

Scribblenauts faz lembrar aqueles almanaques e programas educacionais que mostravam como as coisas funcionam (a bexiga que sobe e aciona uma alavanca que derruba um dominó que libera uma bola que...). Parece não ter fim a quantidade de objetos que po­­dem ser criados e associados. Alguns de forma mais bizarra possível. Até "hits’ re­­­­­centes da internet podem ser achados lá. Tente "keyboard cat" e o famoso gatinho (corra no You­­tube se ainda não conhece) tocará o "hino" dos fracassados com seu teclado infame. Precisa enfrentar um tubarão? Coloque uma medusa para que o peixe vire uma pedra. Ou chame um chupacabra. In­­vente. Ou como os produtores preferem: "Escreva qualquer coisa e solucione tudo".

A maioria das expressões usadas para incluir objetos neste texto foi feita em inglês. Para quem tem problemas com o idio­­ma, a excelente notícia é a in­­clusão no jogo de vários ou­­tros, en­­tre eles o nosso português (presente com um grande repertório). Com isso, Scribble­nauts ga­­nha características que vão além de somente divertir. Com o uso constante pode-se ampliar consideravelmente o número de vocábulos em línguas estrangeiras.

O humor pauta os desafios do começo ao fim. Mesmo que o jo­­go pareça não ter fim. Scrib­ble­­nauts é único e inovador. Foge completamente da linha dos re­­centes lançamentos co­­merciais. É desafiador tentar imaginar o quanto de trabalho envolvido foi necessário para conseguir fazer com que qualquer palavra escrita pu­­desse aparecer na tela com características próprias e ainda tornando possível a interação entre os objetos. Apresenta problemas, co­­mo a movimentação im­­pre­­cisa do personagem principal. Não é, no entanto, nada que tire o brilho de um dos jogos mais criativos dos últimos anos e que permite interagir com personagens históricos, lendas urbanas, figuras da cultura pop ou da ciência. Mas, por enquanto, va­­mos evitar o "genial". Basea­­do no dicionário Houaiss, pode-se definir Scribblenauts como um jogo "dotado de extraordinária capacidade intelectual, de notável talento".

Ps. Escreva "virgin" e veja a pe­­­­­gadinha que a 5th Cell deixou para os gamers.

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