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A criação de emprego nos Estados Unidos decepciona, mas os lucros das empresas norte-americanas cresceram 44% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior. Os consumidores estão nervosos, mas o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York, que foi abaixo de 8 mil pontos no dia da posse de Barack Obama, está agora acima dos 10 mil pontos. Em um universo racional, as empresas americanas estariam muito felizes com o presidente norte-americano.

Mas não. O que se escuta é que a administração Obama tem um viés "antinegócios". Há reclamações generalizadas sobre o medo – de impostos, regulação e déficits orçamentários – que estaria bloqueando os gastos empresariais e a recuperação econômica dos EUA.

Quanta verdade há nessas afirmações? Nenhuma. Os investimentos das empresas norte-americanas estão realmente baixos, mas não são inferiores ao esperado num cenário como o atual: de excedentes de produção e queda no consumo. Os líderes empresariais estão se sentindo rejeitados, mas uma demonstração de carinho a eles não irá curar o que aflige a economia.

O principal argumento da turma do "Obama assusta as em­presas" está no nível de investimento das empresas americanas em fábricas e equipamentos – em relação ao PIB, ele é o mais baixo dos últimos 40 anos. O que essa turma não menciona é o fato de que investimentos empresariais sempre caem drasticamente quando a economia está deprimida. Afinal, por que as empresas deveriam ampliar a capacidade de produção quando não vendem o suficiente para aumentar o uso das instalações atuais? E, caso você não tenha notado, a economia dos EUA ainda está em depressão profunda.

Historicamente, há uma estreita relação entre o nível de investimento das empresas e o chamado "output gap" – a diferença entre a produção real da economia e sua tendência de longo prazo. Isso significa dizer que não há surpresa nos investimentos baixos, pois o "output gap" nos EUA ainda é muito negativo. Na verdade, a mera existência de investimentos empresariais nesse cenário deveria surpreender.

Também podemos olhar para a ociosidade da estrutura empresarial. A utilização da capacidade instalada da indústria cresceu ao longo do último ano, mas ela ainda está muito abaixo dos índices históricos. As taxas de desocupação na indústria e no varejo estão em nível recorde. Vale repetir a pergunta: se as empresas têm unidades e máquinas paradas, por que elas deveriam construir ou comprar mais?

Onde estão, afinal, as evidências de que um clima antinegócios estaria deprimindo os investimentos nos EUA? Dizem por aí que são os empresários que fazem essa reclamação. Não acredito. Os empresários de fato se queixam de impostos, regulação e déficit, mas eles sempre fazem isso. O coro "as políticas socialistas do Obama-estão-destruindo-a-economia" não vem de empresas. Ele é proveniente de grupos de interesse, o que não é a mesma coisa. Veja os argumentos da Câmara de Comércio dos EUA. Ora, elaborar histórias assustadoras sobre o que os democratas estão tramando é, em grande parte, a razão da existência de organizações como a Câmara de Comércio.

Outro exemplo é a pesquisa sobre as tendências das pequenas empresas americanas, realizada pela National Federation of Independent Business. O comentário que abre o relatório é basicamente uma diatribe contra o governo: "Washington aplica sangrias e sanguessugas como cura". Você pode até pensar que essa diatribe reflete as opiniões dos microempresários, mas não é bem assim. Alguns deles até declararam que o clima político impedia a expansão de suas atividades, mas a grande maioria citou a fraqueza da economia como a principal barreira enfrentada pelas empresas.

Os gráficos na parte de trás da pesquisa mostram a evolução das percepções sobre os "problemas mais importantes" das pequenas empresas – e eles são ainda mais reveladores. Os empresários americanos estão menos preocupados com impostos e regulamentação do que na década de 1990, uma era de investimentos em expansão. As preocupações sobre vendas em baixa, por outro lado, deram um salto. A economia fraca dos EUA, e não o medo sobre as ações do governo, é o que tem freado os investimentos.

Então por que se ouve tanto sobre os supostos prejuízos infligidos por um clima antinegócios nos EUA? Na maior parte dos casos, cabe a velha explicação: o barulho é causado por lobistas tentando forçar Washington a cortar impostos e desfazer regulações – tudo isso para cobrar de seus clientes mensalidades mais caras.

Além disso, os líderes empresariais estão, como eu disse, sentindo-se rejeitados: a crise financeira, os escândalos dos seguros de saúde, a catástrofe no Golfo do México abalaram sua reputação. Por algum motivo, em vez de culpar os colegas pelo mau comportamento, os grandes executivos culpam Obama por supostamente "demonizar" os negócios privados.

Bem, executivos também são pessoas, mas curar os sentimentos feridos deles não é uma prioridade da sociedade americana. Se queremos mais investimentos, é preciso dar às empresas uma razão para gastar. E, para fazer isso, o governo dos EUA precisa fazer mais, não menos, para promover a recuperação econômica global.

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Paul Krugman, Nobel de Economia de 2008 e professor da universidade americana de Princeton, é colunista do jornal The New York Times. A Gazeta do Povo reproduz seus artigos neste espaço às segundas-feiras.

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