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Viajando para palestrar numa cidade do interior do Paraná, conheci um executivo de uma importante empresa do setor alimentício que me dispensou algumas horas do voo para uma prosa bastante interessante. A conversa, como não poderia deixar de ser mais atual, foi sobre as eleições que estão se aproximando. É triste, mas, ao assistirmos a propaganda eleitoral, vemos uma gama de pessoas despreparadas querendo se aproveitar das falcatruas políticas para enriquecer às custas do cidadão brasileiro. E, o que é pior, muitos deles conseguem se eleger.

Mariano e eu chegamos a rir de algumas situações bizarras dessas tantas que vemos eleições atrás de eleições. Como, por exemplo, figuras do meio artístico ou esportivo, que se aproveitam da popularidade de suas carreiras para angariar votos. O que eles não sabem (ou sabem muito bem, sabe-se lá) é que ser vereador, senador, deputado, prefeito, governador, presidente, ou seja lá o que for, não é tão simples assim!

Foi nesse ponto que Mariano se lembrou de uma situação que aconteceu com ele há alguns anos. De acordo com o executivo, estava no casamento da filha de um colega, quando conheceu, sem querer, um deputado federal. Muito simpático e sociável, como a maioria dos políticos que conheço, João passou um longo espaço de tempo conversando com Mariano, explicando como funcionava o trabalho de um deputado, coisa que, curiosamente, ele ainda não sabia.

O executivo comentou comigo que sempre teve certa aversão aos assuntos correlacionados à política e que, por isso, nunca procurou saber exatamente quem fazia o quê nesse meio. Era até vergonhoso admitir, mas ele não fazia questão nem mesmo de escolher seus candidatos. Aliás, de acordo com ele, muitas vezes votava em branco ou nulo, pois não gostava, nem mesmo, de escolher os governantes do país em que morava. Apesar de sua antipatia com o tema, naquele casamento foi divertido escutar o que o deputado tinha a contar.

Mariano contou-me que, inclusive, eles continuaram mantendo contato. Trocavam muitos e-mails e, volta e meia, marcavam um almoço ou outro para colocarem os papos em dia. Firmaram, enfim, uma amizade. De acordo com Mariano, João pedia-lhe muitas ajudas para entender o funcionamento de uma empresa, assim como o andamento do segmento alimentício, que, pasmem, João também não conhecia. Foi nesse momento da história que interpelei Mariano: quer dizer então, que um deputado não sabia bem como funcionava uma empresa? Como um político pode decidir sobre nossas legislações, sem, ao menos, entender como elas impactarão na economia de nosso país? Mariano contou que foi a mesma pergunta que se fez por muito tempo. E, de acordo com ele, a conclusão a que chegou foi de que o país só estava do jeito que está pela ignorância de todos nós.

Ele mesmo, executivo, não entendia o governo do seu país. E o governo, por sua vez, também não entendia como funcionava sua economia. Foi então que, entre idas e vindas de dúvidas e esclarecimentos, o deputado o convidou para mais um almoço. O assunto abordado no encontro foi uma nova lei que eles estavam prestes a aprovar que impactaria diretamente nos impostos pagos pelas empresas de vários setores, inclusive o alimentício. João alegava não entender se aquele impacto era positivo ou negativo e, por isso, queria explanar a situação ao amigo para colher críticas e sugestões de quem realmente estava inserido naquele contexto. Segundo Mariano, a lei era completamente inadequada e desnecessária. Seu impacto não seria estrondoso para os cofres da empresa, porém, supérfluos. Por isso, orientou ao amigo que votasse contra, já que não era tão fundamental assim.

Era impressionante o orgulho com que o executivo contava a história. A lei foi aprovada, mesmo com o voto contra do deputado. Porém, para Mariano, era como se ele pudesse ter exercido seu papel de brasileiro a favor de sua nação. Fiquei admirado com a história que ouvi. Afinal, muitos de nós só exercemos nossa cidadania na hora de votar e, mesmo assim, muitas vezes nem sabemos direito o que estamos fazendo. Se todos nós mudássemos nossa visão, assim como Mariano mudou, certamente estaríamos num país infinitamente melhor.

Mande sua história para coluna@debernt.com.br e siga www.twitter/bentschev.

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