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Estive na semana passada em Salvador, palestrando para a ABRH-BA e acabei conhecendo muitas pessoas interessantes. Dentre elas, fui apresentado a um profissional de 65 anos, cuja carreira foi construída na área de manutenção de máquinas. Alberto é um italiano que veio ainda criança para o Brasil. Em seus primeiros anos de vida profissional, Alberto conseguiu um emprego num importante jornal do Sul do país, onde fazia manutenção de máquinas. Sem estudos, o jovem conhecia o mercado de trabalho, lubrificando, consertando e ajustando todos os equipamentos que faziam aquele jornal rodar.

Mesmo sendo um emprego simples, Alberto gostava muito do que fazia e sabia da importância do seu trabalho para aquela organização. Não hesitava em fazer cursos intensivos que pudessem lhe dar conhecimentos suficientes para se atualizar junto com o desenvolvimento tecnológico pelo qual o mundo veio passando nos últimos anos. Após dez anos de casa, o jornal acabou passando por uma crise e se viu obrigado a cortar alguns colaboradores. O gerente de RH da época gostava tanto de Alberto, que não achava justo demiti-lo sem auxiliá-lo numa recolocação. Com isso, indicou-lhe para a área de manutenção de um jornal da Bahia. Alberto me contou que esse gerente, inclusive, fez uma carta de recomendação na época, onde explanava com muitos adjetivos positivos a eficiência de seu trabalho.

No novo jornal e na nova cidade, Alberto percebeu que as coisas só poderiam melhorar. Apesar de no princípio achar todas essas mudanças muito drásticas, em pouco tempo o profissional entendeu que tudo o que havia acontecido, tinha ocorrido da melhor forma possível. Muito religioso, chegou a me dizer: "Deus escreveu certo por linhas tortas". No antigo jornal, Alberto era só mais um no meio de tantos. Já no novo jornal ele era praticamente único. Fazia de tudo um pouco e, com isso, foi aprendendo novas atividades. Seus dias eram corridos, cansativos, porém muito gratificantes.

Numa cidade praiana, o operador de manutenção descobriu os prazeres de ter o mar ao lado de casa. Segundo ele, desenvolveu uma rotina onde fazia questão de visitar a praia diariamente, mesmo que fosse para ficar alguns minutos olhando as ondas quebrarem na beira da praia. De acordo com ele, seu emprego era simples, porém sua vida melhorava a cada dia. Com o passar de muitos anos, seu salário foi aumentando cada vez mais e ele foi construindo um patrimônio muito bom. Sua posição na empresa também melhorou, mas ele continuava atuando como operador.

Ao longo de quase meio século, Alberto se casou quatro vezes, teve nove filhos e já ia para décimo quinto neto. Mesmo com uma família numerosa, sempre foi presente na criação de todos os filhos, inclusive com boas pensões. E, curiosamente, mesmo assim formou um patrimônio admirável. Hoje, Alberto mora numa casa muito bonita (sem muitos luxos, mas muito bonita), à beira mar. Entre um sorriso de satisfação, ele me relatou que seu dia começa com um mergulho no mar, café da manhã com a família reunida e a leitura do jornal onde trabalha.

Além de uma bela casa, fez questão de concluir o sonho da compra de um barco para pescar nos fins de semana. Se perguntado, faz questão de responder que sente o maior orgulho do que fez durante toda a vida. Há dois anos de se aposentar, Alberto recebeu uma promoção à Gerente de Manutenção. Segundo ele, seu negócio nunca foi mandar nas pessoas, e sim operar. Não nega que um aumento no salário, nas vésperas de se aposentar é muito bom. Porém, confessa que sente saudade do tempo em que colocava as mãos na massa efetivamente.

Fiquei contagiado com o entusiasmo de Alberto. Ele, sem dúvida, é um exemplo clássico de alguém que nunca viu seu cargo simples como empecilho para a realização de seus sonhos. Pelo contrário, soube aproveitar tudo que tinha a sua volta para construir uma vida feliz. E, mesmo passando por três separações, viu isso como forma de aprender com os erros que cometeu nas relações anteriores, e de construir, desta vez, uma relação muito mais saudável e feliz.

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