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Controle da Stadia, que será vendido em três versões. Mas a plataforma permite que o usuário use qualquer controle que ele já tenha. | Divulgação/
Controle da Stadia, que será vendido em três versões. Mas a plataforma permite que o usuário use qualquer controle que ele já tenha.| Foto: Divulgação/

Mais uma batalha no mundo dos videogames vai começar. O Google acaba de lançar sua plataforma Stadia, que está sendo chamada de “Netflix dos games”, e já chega abalando o mercado dominado pela Sony, Microsoft e Nintendo (que ainda está se reerguendo com o sucesso do Switch).

A proposta do Google é um sonho para qualquer gamer: poder jogar em diferentes plataformas, incluindo smartphones e tablets, sem precisar gastar algumas centenas de dólares (milhares de reais, no caso dos brasileiros) em um console ou computador super potente. Isso com a capacidade de rodar games com qualidade 4K a 60 frames por segundo.

Mas será que isso vai ser suficiente para derrubar a hegemonia de Sony e Microsoft neste mercado? Até pode acontecer, mas, por enquanto, o principal papel do Google vai ser responder à dezena de perguntas que todos estão se fazendo sobre a viabilidade do Stadia.

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O primeiro grande desafio do Google será a conexão com a internet. Países como Estados Unidos e Canadá têm serviços rápidos e estáveis, mas não é assim em qualquer lugar do mundo. “Embora tenhamos ficado impressionados com o lançamento, acreditamos que a velocidade da internet pode continuar sendo um problema para a adoção global”, disseram os analistas da KeyBanc Capital Markets em relatório.

Até agora, não se sabe a velocidade de conexão que será necessária para rodar jogos pelo menos em full HD (qualidade requerida por qualquer gamer). Há quem diga que será preciso pelo menos 50 MB de internet para que o jogo rode em qualidades superiores, mas não em 4K. Lembrando ainda que a internet não pode cair durante a jogatina.

Depois vem o preço, outro fator que pode ser um empecilho em países com grande população de baixa renda. Das gigantes, apenas a Sony possui um serviço de streaming de jogos, o PS Now (que não está disponível no Brasil), ao custo de US$ 99 por ano, ou US$ 19 por mês, e acesso a mais de 750 jogos. A Microsoft já colocou em fase de testes o Project Xcloud, mas não há nada concreto sobre lançamento.

Outra base para comparação está no serviço Game Pass, do Xbox, em que o usuário paga uma mensalidade de R$ 29 para ter acesso a mais de 100 jogos (esse está disponível no Brasil).

A diferença é que aqui ainda preciso fazer download quando quiser jogar. Mas este valor já pode dar uma ideia do custo que teria uma assinatura do Stadia. Vale lembrar, porém, que não se sabe ainda como será feita a cobrança - se por mensalidade ou por jogo a que a pessoa quiser ter acesso.

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“Eu gosto das aspirações, gosto das promessas, mas a realidade que o pessoal dos consoles também está criando seus serviços de streaming de games [...] Isto não é um game changer”, disse Patrick Moorhead, analista da Moor Insights & Strategy, lembrando que só a Microsoft já tem 30 anos de experiência no mercado de videogames.

“Acredito que o Google terá um momento muito difícil para ter um serviço bem-sucedido de streaming de jogos pagos”, disse Moorhead. “[O Google] tem um sucesso mediano com música, filmes e livros pagos, então minhas expectativas são baixas”, ressalta.

Superados os desafios do preço e da conectividade, o Google terá uma série de outras missões para cumprir antes de conseguir realmente se tornar uma gigante neste mercado. Uma delas é comprovar que seus servidores conseguirão entregar uma resposta rápida durante os jogos.

Ao propor que não será mais preciso ter um console para jogar, o Google coloca sob sua responsabilidade o processamento das partidas. Ou seja: mesmo que o usuário tenha uma internet rápida e estável, se o servidor da empresa não corresponder, o jogo pode travar ou mesmo ficar lento - o que faz a diferença quando se fala em vencer ou perder um jogo (ou mesmo apenas se divertir).

O Google também precisará se certificar da possibilidade de oferecer uma atraente biblioteca de jogos, algo que a Sony, a Microsoft e a Nintendo já provaram para seus clientes. God of War no PS4, Halo no Xbox e qualquer jogo do Mario na Nintendo, são sucessos absolutos e são exclusivos para cada console. Qual franquia o Stadia vai ter para te convencer que é melhor assinar este serviço do que comprar um videogame?

“Eles não têm conteúdo interno. Eles provavelmente abordaram os aspectos tecnológicos, mas sem nenhum conteúdo exclusivo - que geralmente é muito caro e leva anos para ser feito quando é de qualidade AAA. É apenas mais uma loja digital”, disse Lewis Ward, da IDC, para a CNBC.

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“O Google tem entre um pouco e zero conteúdo exclusivo hoje. Não vejo como eles vão muito longe sem fazer grandes investimentos em estúdios e sem fazer investimentos maciços na comunidade de jogadores, e ambos estão fora do leque da empresa”, completa Ward.

Conquistar o mercado não será fácil. Na teoria, o Stadia parece uma das coisas mais incríveis que poderia acontecer para os fãs de jogos digitais, mas superar todos os desafios e ainda se mostrar superior às concorrentes não será um jogo fácil. Por outro lado, se o Google conseguir vencer esta disputa, poderá mudar o mercado para sempre.

Para o Bank of America, se os problemas de latência forem superados, o Google deverá colher grandes frutos. “Se o serviço puder ser lançado com baixa latência conforme o esperado, acreditamos que o Stadia demonstrará o potencial da rede em nuvem do Google em um mundo de 5G (o que poderia impulsionar a Internet das Coisas), disseram os analistas.

O Stadia poderia remover barreiras na indústria de jogos, uma vez que reduziria os custos do consumidor, o tempo de download e as limitações de hardware ou conectividade.

“Se o Google puder cumprir suas promessas, essa tecnologia terá o potencial de ser muito disruptiva; é promissor um serviço ambicioso que pode oferecer jogos 4K (e até 8K) em escala global que é onipresente e de plataforma cruzada com baixa latência”, avaliam os analistas da KeyBanc. “Este é o santo graal dos criadores de jogos”.

“Ao mover o poder de computação para a rede, o Google ajudaria a acelerar a transição de streaming, abrir jogos para novos jogadores e permitir games mais avançados, como os modos Battle Royal com 1.000 de jogadores que antes não eram possíveis”, ressalta a equipe do BofA.

Para os gamers, o Stadia ainda traz uma série de novidades interessantes, como o Crowd Play, que cria uma sala virtual para partidas multiplayer online (onde o Youtube, que é do Google, poderá ser o grande beneficiado), além do uso do Google Assistant para consultar como passar de fase.

O Google lançou o Stadia com a promessa de revolucionar o mercado de games, mas decidiu jogar uma partida pela primeira vez no modo hard ao se colocar como adversária de empresas muito consolidadas neste mercado. Este poderá ser um jogo muito longo para se jogar, mas não é impossível de ser vencido.

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