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Rodrigo Galvão, CEO da Oracle no Brasil
Rodrigo Galvão, CEO da Oracle no Brasil| Foto: Divulgação/Innova Summit

O mercado de tecnologia que antes vendia on premissses, instalado na máquina, hoje é serviço. A tecnologia está mudando o mundo e mudando os negócios, mas não apenas em termos de produto. A percepção é parafraseada do CEO da Oracle no Brasil, Rodrigo Galvão. "Ninguém mais tem controle, o mercado muda de semana em semana e amanhã pode existir algo que faça você mudar de direção", afirmou o executivo durante o Innova Summit, evento de inovação realizado recentemente em Brasília.

Nesse cenário, o CEO defende que a estrutura e o próprio organograma de uma empresa são parte do ajuste de caminho a ser feito para não perder espaço. A avaliação passa pela lógica de que "se a empresa não tiver uma cultura do novo, horizontal, da cocriação, ela não vai conseguir viver nesse mundo", conforme sentenciou o CEO antes de falar sobre parte da jornada da Oracle para fazer mudanças que deixassem entrar mais diversidade e amplificar o perfil de inovação.

O causo da máquina de snacks

Bem humorado, Rodrigo Galvão narrou para a plateia do summit como percebera que algo precisava mudar na empresa. Sem conter alguns palavrões, descreveu o tamanho do aborrecimento que sentiu ao ser informado de que alguns colaboradores estariam revoltados por causa do não funcionamento de uma máquina de lanches - aqueles equipamentos que liberam automaticamente algum alimento embalado ou bebida depois de feito o pagamento.

"Uma série de coisas aconteceram na Oracle que me deram o start. Uma delas foi a máquina de snack. Todo funcionário tem um cartãozinho e pode pegar 5 produtos por dia de graça, é um benefício", começa. Tudo bem até que o aparelho precisou ficar parado e houve queixas especificamente sobre a falta de garrafinhas de água mineral, apesar dos diversos filtros espalhados pelo prédio. "Tem gosto", diziam os queixosos.

Indignado com as reclamações da suposta falta d'água na empresa, Galvão pediu que distribuíssem as descartáveis às centenas, mas pouco depois veio o inesperado. O RH passou a receber emails nos quais se lia algo como: "muito obrigada pela água, fiquei muito feliz, contudo vocês esqueceram da água com gás".

Naquele momento, o comandante da Oracle no país percebeu um descompasso entre parte do pessoal e a cultura que tenta nutrir dentro da empresa. Sobre isso, rememora que pensou em interessados na Oracle que, entretanto, não tiveram oportunidade de integrar os quadros da empresa. "O menino que vem aqui e me pede um emprego" poderia estar mais bem alinhado do que alguns que estão aqui dentro e "não reclamaria que não tem água com gás", avalia. "Aqui", pontua Galvão, "começou a minha percepção de que cultura não é inclusiva, ela é excludente: quem não se enquadra vai sair ou vai ser saído. Mas eu não posso errar em uma coisa, na contratação, porque se eu contratar um cara que já não tem o meu valor eu tenho um problema".

Back to basics

A partir da constatação do problema, Galvão encomendou uma solução que garantisse a possibilidade de remodelar o formato de contratações a partir de um novo programa de estágios. A ideia era usar aquela chance para uma reinvenção a partir de dentro e a partir do exemplo.

Com muitas histórias de funcionários que começaram em postos baixos e construíram carreira na casa (inclusive o atual CEO), o desafio coube a um pequeno grupo de empregados com esse perfil. Eles criaram o Gen. O, que trazia como um dos seus principais pontos de sustentação a seleção às cegas e sem análise de currículo, para eliminar vieses de contratação, aumentando oportunidades e a diversificação.

"A gente viveu num mundo no qual havia modelos que, na minha visão, eram baseados em comando e controle: alguém manda, alguém faz. O mundo de hoje não é mais assim", começa o executivo. "Se a gente quer ser uma empresa do futuro, tem que estar adequado a isso. [...] O que a gente tem que fazer, buscar, é [uma dinâmica comparável] a uma revoada pássaros. Existe um chefe ali, mas não existe uma hierarquia, eles se orientam pelo cara que está do lado. A cultura das empresas deve pegar esse caminho", compara.

Mudanças passadas

Com 40 anos de operações, a gigante multinacional tem entrado em ciclos de reinvenção desde a década de 1980. A inquietação pretende não apenas manter a companhia à tona, mas garantir que ela continue nadando de braçada no mercado de soluções voltadas ao mundo corporativo (em bancos de dados, sistemas de gestão e toda infraestrutura de suporte para que as empresas funcionem).

A primeira revolução foi causada pelo advento dos sistemas de gestão empresarial (ou ERP, na sigla em inglês), que passaram a reunir os inúmeros processos de trabalho em plataformas únicas, deixando para trás os também inúmeros softwares focados em atividades isoladas.

Mais recentemente, já nos anos 2010, foi a vez da migração da companhia para a computação em nuvem, que desmanchou no ar a dependência por estruturas físicas e permitiu a oferta de produtos mais inovadores (conectados a tecnologias como a internet das coisas, inteligência artificial, machine learning) e mais baratos.

Essa segunda característica, inclusive, permitiu a abertura de novos mercados, tirando a Oracle do patamar de "grande empresa para grandes empresas". Atualmente 20% da clientela da companhia no Brasil já é de micro e pequenos negócios.

*A repórter viajou a convite da organização do evento.

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