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Mais produtivas e mais competitivas

Empresas globais são mais competitivas, mais produtivas e remuneram melhor seus funcionários, segundo uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), ligado ao Ministério do Planejamento. De acordo com João Alberto De Negri, pesquisador do instituto, as empresas que começam a exportar elevam em média em 22% sua produtividade em um ano.

"Só existem vantagens nesses investimentos no exterior", diz o especialista. Além de abrir novos canais de vendas e distribuição, as empresas que passam a produzir no exterior conseguem um adicional de até 40% sobre o preço de seus produtos exportados. A valorização, explica, é resultado da maior proximidade com a clientela e a possibilidade de prestar assistência técnica.

Apesar das vantagens, o número de empresas brasileiras globais ainda é pequeno. De acordo com o Ipea, existem hoje 217 companhias brasileiras com processos de produção no exterior, frente a um universo de 80 mil indústrias com mais de dez empregados no Brasil.

De Negri rebate o argumento de alguns analistas de que nem sempre a investida no exterior é positiva. Economistas como Roberto Gianetti da Fonseca afirmam que muitas empresas estão fazendo uma espécie de "internacionalização negativa", com a simples transferência de produção para regiões com custos menores, como América Central e China. "Mesmo nesse caso, a internacionalização é positiva. Os dividendos retornam para o país." (CR)

Uma nova geração de empresas brasileiras está investindo firme na internacionalização das operações. São companhias que, a exemplo do caminho já trilhado por gigantes nacionais, como Vale do Rio Doce e Petrobras, vêm conseguindo driblar o câmbio desfavorável e a falta de incentivos e estão fincando suas bandeiras fora do Brasil. O movimento, quase silencioso, se espalha pelos mais diversos setores, da produção industrial até o comércio e a prestação de serviços.

Especializada em projetos de barragens e usinas hidrelétricas, a curitibana Intertechne começou a prestar serviços fora do Brasil há dez anos, acompanhando os projetos internacionais de seus clientes no país, como Camargo Correa, Odebrecht, Voith Siemens e Alstom. O que começou de maneira tímida, no entanto, ganhou fôlego e vôo próprio. Hoje a empresa tem escritórios de representação na Cidade do México e em El Salvador, e no currículo atuação em países como República Dominicana, Panamá, Honduras, Chile, Peru e Argentina.

O faturamento deve quase dobrar esse ano, para R$ 60 milhões, e a empresa se prepara para elaborar projetos de infra-estrutura em Angola. As operações internacionais chegam a representar, de acordo com o volume de contratos, 30% dos negócios da empresa, que possui 350 funcionários. "Tivemos que aprender rápido. Aqui no Brasil não temos terremoto e lá fora tivemos que ganhar expertise em obras capazes de suportar abalos sísmicos. Ao mesmo tempo ganhamos conhecimento sobre novas técnicas e processos de operação", lembra Paulo Akashi, diretor de desenvolvimento de negócios da Intertechne.

Para a maioria dessas empresas, tornar-se uma multinacional ainda é um sonho distante, mas algumas avançam firme nessa direção. Um estudo do World Economic Fórum (WEF), organização não governamental que reúne as mil maiores companhias globais, colocou quatro empresas brasileiras – Politec, Organização Jaime Câmara, Odontoprev e Bematech – na lista das 125 companhias com potencial para se tornarem multinacionais no período de cinco a dez anos.

As "New Champions" são empresas com desenvolvimento internacional acelerado, com taxas de crescimento anuais de, no mínimo, 15% e faturamento entre US$ 100 milhões e US$ 2 bilhões. Desse grupo seleto, segundo o WEF, 40% dos membros se encontram na Ásia, 26% na Europa, 14% na África e Oriente Médio e 20% nas Américas.

Para o consultor Christian Majczak, da GO4 Consultoria de Negócios, de Curitiba, esse movimento rumo ao exterior deve crescer ainda mais nos próximos anos, embalado por pelo menos três fatores: a necessidade de ampliar negócios e receita, de conquistar experiência global e de ter acesso a novas tecnologias para seus produtos e, em alguns casos, de reduzir custos. "Alguns setores, como o de madeira e móveis, que hoje sofrem por conta da valorização do real, podem vir a investir em fábricas na China para reduzir custos", prevê.

Muitas vezes, no entanto, é o senso de oportunidade que abre as portas para a internacionalização. Com previsão de faturar R$ 230 milhões em 2007, a Companhia Paranaense de Papel e Celulose (Cocelpa) vai investir 10 milhões de euros na construção de uma fábrica de embalagens em Liège, na Bélgica, a primeira fora do Brasil. A nova planta industrial vai processar o papel exportado pela matriz brasileira, que hoje vende 40% da produção principalmente para países da Europa e África.

A companhia, que esse ano deve crescer 8%, planeja dobrar de tamanho nos próximos cinco anos, segundo Luiz Eduardo Taliberti, diretor geral. Ter uma fábrica fora do Brasil sempre esteve nos planos, mas a iniciativa foi antecipada por conta das vantagens do Projeto Plataforma Liège, parceria entre a gigante do aço ArcelorMittal e o governo belga, que oferece benefícios comerciais, fiscais e financeiros para empresas de médio porte que queiram investir na cidade.

A internacionalização também traz benefícios para a operação no mercado interno, segundo as empresas. "Os consumidores, cada vez mais exigentes, gostam de saber que o produto que compram também concorre lá fora em tecnologia e qualidade", diz Roberto Garcia Neves, diretor da área internacional da rede de perfumarias e cosméticos O Boticário. Com 62 lojas e cerca de mil pontos-de-venda em mais de 20 países fora do Brasil, a empresa espera um crescimento de 20% na área externa, pelo terceiro ano consecutivo.

O processo de internacionalização das empresas, no entanto, é lento e raramente sem tropeços. O próprio O Boticário teve uma experiência mal-sucedida no México, onde se deparou com um perfil de consumo muito diferente do brasileiro. As mexicanas, ao contrário das brasileiras, preferiam comprar produtos de maquiagem e perfumaria em lojas de departamento e consideravam as lojas da rede muito sofisticadas. "Ainda pretendemos voltar no futuro, provavelmente com um formato mais adequado", diz Neves.

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