Com a inflação sob controle, resultado da crise financeira internacional e seus impactos na economia brasileira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central optou pela agressividade e anunciou, nesta quarta-feira (21), uma redução de um ponto porcentual na taxa básica de juros da economia brasileira, para 12,75% ao ano. Até o momento, os juros estavam em 13,75% ao ano.
Segundo dados do Banco Central, os juros não eram reduzidos desde setembro de 2007. Ao mesmo tempo, o corte de um ponto porcentual é o maior desde dezembro de 2003, quando a taxa Selic recuou de 17,50% para 16,50% ao ano. Mesmo assim, a decisão ainda não retirou o Brasil da liderança no ranking mundial dos juros reais (calculados após o abatimento da inflação). Para que isso acontecesse, seria necessária uma redução de três pontos percentuais, para 10,75% ao ano, na taxa Selic.
A decisão do Copom de reduzir a taxa de juros em um ponto percentual, para 12,75% ao ano, surpreendeu a maior parte dos analistas do mercado financeiro. Nesta segunda-feira (19), o BC informou que, pesquisa realizada na semana passada, apontava para um corte menor: de 0,5 ponto percentual, para 13,25% ao ano. Entretanto, após o anúncio de que 654 mil postos de trabalho com carteira assinada foram fechados em dezembro, o pior resultado dos últimos dez anos, os analistas passaram a estimar um corte um pouco mais intenso nos juros: de 0,75 ponto percentual, para 13% ao ano.
Metas de inflação
No Brasil, vigora o sistema de metas de inflação, pelo qual o Copom tem de calibrar a taxa de juros para atingir uma meta pré-determinada com base no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Ao subir os juros, atua para conter a inflação e, ao baixá-los, avalia que a inflação está condizente com as metas.
Para este ano, e para 2010, a meta central de inflação é de 4,50%. Entretanto, há um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Com isso, o IPCA pode ficar entre 2,50% e 6,50% sem que a meta seja formalmente descumprida.
Para 2009, a projeção do mercado financeiro, que estava em 5,20% no mês passado, já caiu para 4,80%. Ainda está acima da meta central, mas a tendência, segundo economistas, continua sendo de queda por conta atividade econômica desaquecida.
Na última quinta-feira (15), a FGV informou que o IGP-10 apresentou deflação de 0,85%, a menor registrada desde o início da série histórica, em 1993. O IGP-M, por sua vez, teve deflação de 0,58% na segunda prévia de janeiro.
Fatores avaliados pelo BC
Ao tomar suas decisões, o Copom tenta antever os fatores que podem pressionar a inflação para cima, e para baixo, no futuro. As decisões sobre a taxa de juros demoram em média seis meses para ter impacto pleno na economia.
Como reflexo da crise financeira internacional, os economistas passaram a projetar um crescimento menor para a economia brasileira no próximo ano. Antes, previam um crescimento de 3,5% e, agora, já estimam uma expansão de 2%. O governo, que antes previa 5% de aumento do PIB em 2009, já fala em uma meta, e não estimativa, de até 4% de crescimento.
Com um crescimento econômico mais baixo, haverá certamente uma pressão menor sobre a inflação e uma elevação menor do crédito. Outro fator que atua para conter a subida da inflação é o recuo dos preços das "commodities" (alimentos, aço e petróleo, entre outros) - que estão em queda livre desde a piora da crise devido à expectativa de consumo menor. Em novembro, o IPCA recuou para 0,36%.
Por outro lado, a crise financeira também tem causado a disparada do dólar - o que contribui, em tese, para pressionar os preços. Desde o início de setembro, a moeda americana avançou cerca de 32% - visto que estava em R$ 1,78. Nesta quarta-feira, oscilava ao redor de R$ 2,35. Com o dólar mais caro, aumenta também o valor dos insumos e matérias-primas importados para a produção nacional.
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