A pandemia do novo coronavírus deve fazer com que a economia do mundo todo leve um tombo em 2020. Segundo a projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgada em abril, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial deve cair 3% neste ano – o pior desempenho desde a Grande Depressão de 1929.
Apesar do cenário sombrio, os efeitos da crise não devem ser sentidos de maneira uniforme ao redor do globo. Ainda de acordo com o FMI, entre os países do G20, que reúne as maiores economias do mundo, alguns devem ter recessões mais profundas. É o caso da Itália, com previsão de queda de 9,1% na economia. Outros países podem, até, apresentar um tímido crescimento neste ano (como Indonésia, China e Índia).
A projeção do FMI aponta, ainda, que, considerando os países do G20, o Brasil deve ficar no meio termo. A previsão da instituição é de que o PIB brasileiro tenha queda de 5,3% em 2020 – uma recessão aguda, mas não tão profunda quanto a que deve ser registrada nos países europeus.
A estimativa de outra organização de alcance internacional, o Banco Mundial, aponta para número semelhante. Nesse caso, a projeção é de que o PIB do Brasil encolha 5% neste ano. O valor é próximo ao da previsão do próprio governo brasileiro, que estima retração de 4,7% na economia do país em 2020. Se as projeções se concretizarem, este será o pior desempenho do PIB da história do país.
Previsões para o PIB do Brasil vêm se deteriorando desde o início da pandemia
Esses números, entretanto, foram calculados em abril (no caso das projeções do FMI e do Banco Mundial) ou em meados de maio (considerando a estimativa do governo). Desde então, os indicadores brasileiros vêm se deteriorando – o que deve resultar em uma queda ainda mais brutal do PIB em 2020.
Os números do primeiro trimestre já apontam para o tamanho do problema. Segundo dados do IBGE, o país teve retração de 1,5% no PIB nos três primeiros meses do ano. Esse dado foi afetado por apenas duas semanas de isolamento social, ou seja, reflete apenas o baque inicial da atividade econômica por aqui.
Com isso, analistas do mercado financeiro seguem revisando para baixo as projeções para 2020. O Boletim Focus, sondagem do Banco Central feita com analistas do mercado financeiro, aponta que a mediana das previsões está em -6,25%, depois da 16ª queda seguida. Entre os analistas consultados, há quem preveja que o país registre queda de 11% no PIB deste ano. Os mais otimistas falam em retração de 2,07%.
"Há a percepção de que a pandemia causou efeitos mais negativos do que se esperava, tanto nos países ricos como no Brasil. No nosso caso, a evolução do coronavírus tem sido pior do que imaginávamos, e pior, também, do que na maioria dos outros países", diz Fernando Sampaio, sócio-diretor e economista da LCA Consultores. A empresa prevê queda de 5,6% no PIB deste ano, mas deve revisar o número para baixo nas próximas semanas.
A ineficiência do país no combate à pandemia se traduz em números. Até a noite de quinta-feira (4), o país contabilizava mais de 600 mil casos e 34 mil mortes em decorrência da Covid-19.
Com as medidas de isolamento social, recomendadas pelas autoridades de saúde, a intenção é "achatar a curva", isto é, distribuir a evolução na quantidade de casos ao longo do tempo. No caso brasileiro, não houve esse efeito, e a Organização Mundial da Saúde afirma que a epidemia ainda não chegou ao pico.
"O quadro sanitário é preocupante e renova a incerteza sobre quando vai poder haver um relaxamento efetivo das medidas de distanciamento social", acrescenta Sampaio.
Crise política pode aprofundar recessão
Outro fator que pode fazer o Brasil se descolar dos outros países do G20 e ter uma recessão ainda mais profunda é a crise política. Josilmar Cordenonssi, professor de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, aponta que os desentendimentos entre os poderes e os representantes políticos estão atrapalhando não só o combate à pandemia e suas consequências econômicas, mas também o planejamento para a retomada.
"Estamos à deriva. Cada governador está agindo de uma forma. No fim das contas, nós não temos um plano coordenado de combate à pandemia e de assistência àqueles que realmente precisam de ajuda nesse momento", critica.
Por enquanto, a equipe econômica, comandada pelo ministro Paulo Guedes, prevê o início da retomada em agosto. A ideia é retornar à agenda que vinha sendo perseguida pelo governo antes da pandemia, com reformas estruturantes, novos marcos legais, privatizações, concessões e medidas de desburocratização e de acesso ao crédito.
Enquanto isso, trabalhadores que perderam renda por conta da crise estão sendo socorridos pelo auxílio emergencial de R$ 600. Para as empresas, uma das principais ações foi a medida provisória 936, que possibilitou a redução da jornada e do salário de funcionários ou a suspensão dos contratos de trabalho. Outra medida foi a concessão de financiamentos para a folha salarial de pequenas empresas – que, como o próprio governo reconhece, ainda não teve efeitos satisfatórios. Veja a lista completa das ações do governo neste link.
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