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Volume de empréstimos continua crescendo, mas o crédito está mais caro. O resultado é que mais pessoas estão endividadas no cheque especial | Giuliano Gomes/Gazeta do Povo
Volume de empréstimos continua crescendo, mas o crédito está mais caro. O resultado é que mais pessoas estão endividadas no cheque especial| Foto: Giuliano Gomes/Gazeta do Povo

Comportamento

Excesso de otimismo requer cautela

Emprego e renda em alta, juntamente com a oferta de crédito, têm ajudado a acelerar o endividamento. Para o especialista em finanças pessoais Raphael Cordeiro, é preciso cuidado com o excesso de confiança. "O sinal amarelo pode acender se há um aumento do desemprego e a renda deixa de crescer", afirma. A coordenadora do Procon-PR, Claudia Silvano, diz que algumas atitudes simples podem ser tomadas para que a dívida não se transforme em um pesadelo nos próximos meses. Atenção especial tem de ser dada para as compras do cartão de crédito. "O ideal é pagar o total da fatura no dia do vencimento, fugindo ao máximo dos parcelamentos ou do pagamento do valor mínimo." Evitar parcelar compras de consumo não durável, como alimentos, por exemplo, e fugir do cheque especial, cujos juros podem fazer a dívida mais que dobrar em um ano. Para especialistas, o ideal é não comprometer mais do que 30% da renda com dívidas e para os que estão endividados, tentar negociação com os credores, com prioridade para as dívidas que têm as maiores taxas de juros.(CR)

Compra de carro com "entrada zero" diminui

Financiar 100% da compra do carro e com prazo a perder de vista era uma prática comum até pouco tempo atrás, especialmente no segmento de populares. Prestações mais baixas e facilidade na contratação favoreciam essa modalidade de aquisição. Porém, desde que o governo federal adotou medidas restritivas ao crédito, em dezembro passado, a escolha por adquirir um veículo sem entrada vem diminuindo. Em janeiro, ela representava mais da metade dos negócios financiados. Hoje, responde por 30%, em média, segundo levantamento em concessionárias de Curitiba.

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  • Confira a evolução dos saldos das operações de crédito pessoa física

Mesmo com as medidas do governo para reduzir a oferta de crédito, o volume de empréstimos continua a crescer com força e, o que é pior, o consumidor está optando por formas de financiamento mais caras, como o cheque especial e o crédito pessoal, cujas taxas de juros chegam a 185% ao ano.

O saldo de concessões do cheque especial foi o segundo que mais cresceu nesse ano até maio (26%) – só perdendo para os financiamentos imobiliários, que avançaram 30%, segundo dados do Banco Central. O ritmo é o dobro do registrado no mesmo período do ano passado. Em maio de 2010, o saldo do cheque especial crescia em média 13% em relação a dezembro do ano anterior.

O crescimento das operações de financiamentos mais caras, aparentemente, indica que o consumidor está recorrendo a esse tipo de recurso para pagar despesas mensais e cobrir eventuais "buracos" no orçamento.

"Pode ser reflexo do fato de o consumidor estar mais endividado, o que limita o acesso a linhas de financiamento mais baratas, situação que é agravada pelo aumento da inflação, que corrói a renda", afirma Miguel José Ribeiro de Oliveira, da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Conta­bilidade (Anefac). "Também temos que considerar que é um dinheiro de fácil acesso, já disponível na conta", diz.

A substituição do crédito mais barato pelo mais caro também pode ser resultado do encarecimento e da maior dificuldade para contratar linhas mais baratas, como o consignado e o financiamento para compra de veículos. Ambas foram alvo de medidas de contenção do Banco Central (BC), a partir de dezembro do ano passado.

Na época, em uma tentativa de frear o consumo e a inflação e evitar a formação de eventuais bolhas, o BC determinou também o aumento dos depósitos compulsórios – dinheiro que os bancos têm que deixar depositado na instituição, com objetivo de enxugar o crédito no mercado. Recen­te­­­­mente, o BC voltou a limitar o em­­préstimo com desconto em fo­lha por meio do cartão consignado.

A preferência do consumidor pelo crédito caro pode ser medida pelo aumento das concessões diárias, que cresceram 18,1% no cheque especial e 16,2% no cheque especial em maio, contra uma queda de 17,4% nos financiamentos de veículos (leia matéria na página 3). Em 12 meses, as operações do cheque especial aumentaram 17,8%, contra apenas 2,3% do crédito consignado, que permite desconto em folha de pagamento.

Segundo Claudia Silvano, coordenadora do Procon-PR, o consumidor não faz a conta de qual é o dinheiro mais barato e qual é o mais caro. "O que interessa para ele é a sua necessidade e a facilidade de acesso. Entre ter de pedir um empréstimo no banco e usar o dinheiro que tem disponível na conta, por qual você acha que ele vai optar? O cheque especial vende uma aparente facilidade, mas cobra uma conta cara", afirma.

Para Marcelo Curado, professor do Departamento de Eco­nomia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o Banco Central não vem conseguindo conter o crédito como gostaria. O emprego em alta proporciona maior segurança para o consumidor, que continua a se endividar, mesmo que tenha de optar por um financiamento com custo elevado.

A dívida total das famílias bateu recorde em maio, segundo levantamento da LCA Consul­to­res. As contas no cartão de crédito, cheque especial, financiamento bancário, crédito consignado, crédito para compra de veículos e imóveis, corresponde atualmente a 40% da massa anual de rendimentos do trabalho e dos benefícios pagos pelo INSS.

Bolha

Apesar do crescimento vigoroso dos empréstimos e financiamentos nos últimos meses, Curado descarta problemas no curto prazo, já que o emprego e a renda tendem a manter a inadimplência em patamares mais comportados.

Nas últimas semanas voltaram a pipocar na imprensa mundial informações sobre a possibilidade de formação de bolhas de crédito no país, mas a maioria dos economistas brasileiros refuta essa possibilidade. "O crescimento das operações não constitui elemento para dizer que há bolha. Não apenas porque temos uma participação do crédito total sobre o PIB inferior a 50% – hoje está em 46,9% – mas também porque a qualidade do crédito e as exigências para sua contratação são muito maiores do que em países que viveram esse problema como os Estados Unidos", afirma.

Para as entidades ligadas à defesa do consumidor, no entanto, a oferta de crédito é preocupante. "Os bancos oferecem crédito incompatível com a renda do consumidor, o que pode levar sim a um fenômeno de bolha", afirma Claudia Silvano, do Procon-PR.

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