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A alta dos preços de alimentos, como as carnes, jogou para cima a inflação. Mas os serviços também pressionam o índice | Walter Alves/ Gazeta do Povo
A alta dos preços de alimentos, como as carnes, jogou para cima a inflação. Mas os serviços também pressionam o índice| Foto: Walter Alves/ Gazeta do Povo

Em 2012, juro menor e alta do mínimo devem inibir recuo do índice

A maioria dos analistas considera pouco provável a inflação convergir para o centro da meta, de 4,5%, em 2012. O regime de metas do governo estabelece uma tolerância de dois pontos para cima ou para baixo. A percepção geral é de que a crise internacional teria de provocar um estrago muito grande, derrubando de forma abrupta o crescimento econômico do país, para que a inflação pudesse ter uma acomodação mais radical.

O consumo, a queda dos juros e o aumento do salário mínimo em 13,6% prometem servir de combustível para mais um ano de pressão inflacionária. A inflação de 2012 também vai carregar a "herança maldita" de 2011, já que alguns preços administrados (energia, telecomunicações, saneamento) são corrigidos pela inflação do ano anterior. "Sem contar que em 2012 teremos eleições e provavelmente será um ano de política fiscal mais expansiva", afirma Salomão Quadros, da Fundação Getulio Vargas (FGV). (CR)

A inflação, que ganhou fôlego em agosto e deve subir ainda mais em setembro, voltou a levantar dúvidas sobre a capacidade do Banco Central de impedir o estouro do teto da meta neste ano, de 6,5%. A alta forte no mês passado, a recente apreciação do dólar e o consumo ainda aquecido reforçaram as incertezas em relação ao poder do governo de segurar os preços até o fim do ano.

Segundo boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco Central, a expectativa dos analistas de mercado para a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu de 6,45% para 6,46%. A projeção para 2012 foi elevada de 5,4% para 5,5%.

Para setembro, a previsão é de que a inflação acelere – para 0,45%, contra a projeção anterior de 0,43%. Em agosto, a inflação cresceu 0,37%. A inflação acumulada nos últimos 12 meses terminados em agosto está em 7,27%, a mais alta desde junho de 2005. O governo espera que a alta de preços perca fôlego nos últimos três meses do ano.

"Acredito que vai fechar raspando dentro da meta", diz Mauro Schneider, economista chefe da Banif Corretora. Para setembro, a expectativa é de que a inflação fique mais agressiva, com ainda forte pressão dos preços dos alimentos e de serviços. "O governo tem pouca margem para acomodar surpresas, como uma alta mais forte dos alimentos", diz.

Em agosto, os alimentos voltaram a subir forte e levaram o índice acumulado nos últimos doze meses para o maior patamar desde 2005. "O grande perigo é o país se acostumar a índices de inflação mais altos e retomar, aos poucos, o processo de indexação", lembra.

Ao contrário da inflação de 2009, que foi basicamente provocada pela alta das commodities, a inflação atual também é influenciada pelo setor de serviços, que, impulsionados pela demanda, subiram muito ao longo do ano. E o consumo ainda não dá sinais de desaceleração, criando um descompasso entre o ritmo do comércio e da indústria. "A indústria já registra uma perda de ritmo que não é vista na ponta. Isso ocorre principalmente pelas vendas elevadas de produtos importados", lembra Thais Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados.

Salomão Quadros, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), avalia que é cada vez mais difícil fechar o ano com inflação dentro da meta. "Estamos no fio da navalha. O risco existe e está aumentando a cada dia", diz ele. Segundo Quadros, a inflação terá de desacelerar bastante nos próximos meses para que se acomode dentro do teto da meta. A projeção é de que a alta dos alimentos dê uma trégua a partir de outubro, mas a dos serviços não deve ceder tão cedo. "Os serviços reagem mais lentamente e não vejo uma contribuição importante para a desaceleração da inflação", afirma.

A recente alta do dólar – que ontem fechou em R$ 1,777, o maior valor desde julho de 2010 – também deve ter algum impacto sobre a inflação. Alguns analistas apostam em um reflexo de até 0,55 ponto porcentual se a cotação se mantiver no atual patamar. A alta do dólar, geralmente, tende a ser compensada por uma pressão menor nos preços das commodities, mas isso não ocorre de maneira imediata. "A questão é por quanto tempo o câmbio vai permanecer no atual patamar", diz Quadros.

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