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O desalento é mais alto entre jovens,  não chefes de família e os indivíduos com ensino fundamental incompleto. | Foto: Marcos Santos/ USP Imagens/Fotos Públicas
O desalento é mais alto entre jovens, não chefes de família e os indivíduos com ensino fundamental incompleto.| Foto: Foto: Marcos Santos/ USP Imagens/Fotos Públicas

Vem crescendo a proporção de trabalhadores que, pouco após perder o emprego, passam ao desalento, mesmo sem ficar desempregado por longo período, mostra estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Tipicamente, a permanência no desemprego está associada ao desalento – nessa condição, o trabalhador fica fora da força de trabalho porque não conseguia trabalho, ou não tinha experiência, ou era muito jovem ou idosa, ou não havia encontrado trabalho na localidade.

No trimestre encerrado em julho, o país registrou 4,818 milhões de pessoas em situação de desalento, o maior patamar da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de desalento considera as pessoas que não procuraram emprego nos 30 dias antes de responder à Pnad.

O estudo do Ipea parte dos microdados da Pnad Contínua referentes ao segundo trimestre para sustentar que há uma mudança no comportamento dos indivíduos, “constatada pelos dados de transição no mercado de trabalho”.

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“Vem crescendo a proporção de pessoas que, entre dois trimestres consecutivos, transitaram da atividade para a inatividade e se declararam desalentadas, mesmo não tendo ficado desempregadas, ou tendo permanecido muito pouco tempo nessa condição”, diz um trecho da Seção VII da Carta de Conjuntura número 40, publicada nesta quinta-feira (20) no site do Ipea.

Conforme os dados analisados pelos pesquisadores Maria Andréia Parente Lameiras, Sandro Sacchet de Carvalho, Carlos Henrique Corseuil e Lauro Ramos, entre o quarto trimestre de 2015 e o primeiro trimestre de 2016, pouco mais de 14% daqueles que transitavam para a inatividade eram provenientes do desemprego e faziam parte do subgrupo de inativos desalentados. No segundo trimestre de 2018, entretanto, essa proporção havia subido para 22,4%.

Entre aqueles que transitaram do emprego para a inatividade, a proporção dos desalentados subiu de 11,2%, no início de 2016, para 16,7%, no segundo trimestre de 2018. “Portanto, o desalento aumentou não só entre os que se encontram desocupados durante muito tempo, mas também entre os que perderam sua ocupação recentemente”, diz outro trecho do estudo.

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Entre o segundo trimestre deste ano e o mesmo período do ano passado também cresceu a proporção de pessoas qualificadas que, apesar do desemprego, desistiram de buscar uma ocupação. Esse é o caso de quem tem nível superior (aumento da taxa de desalento de 4,8% para 5,3%) e de quem tem o ensino médio (de 21% para 22,8%).

Ao analisar o perfil do trabalhador desalentado, o estudo constata o que já era esperado: o desalento é proporcionalmente mais alto entre os trabalhadores que possuem maior dificuldade de inserção no mercado, ou seja, os jovens, os não chefes de família e os indivíduos com ensino fundamental incompleto. Também é mais elevado no Nordeste e “ligeiramente” maior entre as mulheres.

Embora esse perfil seja esperado, o estudo alerta que o desalento tem crescido também entre os trabalhadores mais velhos, homens e chefes de família.

Recuperação só virá de forma estrutural e gradualmente

À reportagem, o presidente do Ipea, Ernesto Lozardo, assinalou que a redução das taxas de desalento e de desocupação dependem da retomada do crescimento do PIB e também da melhor formação da força de trabalho.

Segundo Lozardo, a retomada do crescimento segue em aberto à espera da aprovação de reformas econômicas, como da Previdência Social e tributária. Ele lembra que as reformas equacionam um problema conjuntural, o endividamento do Estado, incentivam investimentos empresariais que geram emprego e podem dar garantias para o financiamento público para áreas estratégicas, como a educação.

A educação é um aspecto estrutural, lembra Lozardo ao descrever que a qualificação da mão de obra no Brasil tem em média quatro a cinco anos a menos de escolaridade em comparação a de outros países.

Conforme o presidente do Ipea, a qualidade do ensino público no país, acessado pela maioria da população, também afeta a empregabilidade. A formação que receberam não se adequa às exigências do mercado de trabalho, quer na área de serviço, quer na área industrial. Isso é estrutural, explicou.

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