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Marcos Laverde, produtor de Mandaguaçu: investimento já garantiu mais de 3 toneladas de peixes | Paulo Matias / Gazeta do Povo
Marcos Laverde, produtor de Mandaguaçu: investimento já garantiu mais de 3 toneladas de peixes| Foto: Paulo Matias / Gazeta do Povo

Agricultores aproveitam para incrementar renda

Gesli Franco

Sobreviver de um pesque-pague na região de Maringá, Noroeste do Paraná, exige jogo de cintura. Pelo número baixo de piscicultores, quem aposta no ramo precisa buscar peixes em outras regiões do estado. É o caso de Marcelo Garcia, 41 anos, dono do Pesqueiro do Alemão. O empresário conta que há 15 anos semanalmente compra cerca 1,5 mil quilos de tilápia, pacus e matrinxãs de um criador de Toledo, no Oeste.

Empolgado com o interesse de novos criadores, ele tem esperanças em aumentar a variedade de peixes no local, já que a falta de opção de espécies acaba sendo uma barreira para o negócio. "Como eu já tenho de quem comprar, não sinto dificuldades em abastecer os tanques, mas nem sempre se torna possível agradar os clientes. Às vezes as pessoas vêm em busca de carpas e alguns até de lambari, mas nossa região não produz. Temos espaço para crescer juntos, os pesqueiros e os piscicultores."

Essa é a aposta do olericultor de Mandaguaçu Marcos Laverde, 43 anos. Em uma propriedade de pouco mais de 2 alqueires e meio, ele produz legumes e hortaliças que abastecem supermercados e feiras da região de Maringá. A ideia de investir na piscicultura veio há dois anos para aproveitar a reserva de água já existente na propriedade.

"Eu fiz um investimento de cerca de R$ 10 mil para cultivar a horta, aproveitei e uni o útil ao agradável", conta Laverde. O produtor diz que já conseguiu retirar cerca de 3 mil quilos de peixes desde que começou a trabalhar. Ele não comenta os ganhos, mas garante que o retorno do novo ramo veio instantaneamente com a ajuda dos pesqueiros próximos ao município.

Com uma pequena alteração, a expressão "o mar está para peixe" pode ser facilmente adaptada ao cenário da aquicultura paranaense. O investimento em sistemas para explorar a atividade, seja em viveiros escavados ou em tanques-rede, teve um boom de crescimento nos últimos quatro anos. Segundo o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), o número de produtores regularizados junto ao órgão passou de 14 em 2010 para 556 em agosto deste ano no Paraná. No Brasil, a procura pela criação de peixes também cresceu de maneira semelhante. Em relação ao ano passado, o número de aquicultores na ativa aumentou 470% – hoje, são 20 mil espalhados pelo país.

A viabilidade econômica da aquicultura é explicada pelo próprio MPA numa comparação com culturas como a pecuária. Para cada hectare de lâmina d’água, é possível produzir 100 toneladas de tilápia em tanques-rede. Já para cada hectare de área com pecuária, o rendimento com uma cabeça de gado é de cerca de uma tonelada de carne bovina, exemplifica o órgão.

No Paraná, comenta a superintendente do escritório regional do ministério em Rolândia, no Norte, Ellen Santos, pequenos produtores têm apostado na pesca como uma alternativa para diversificar suas atividades e gerar renda extra. "Algumas pessoas têm lavoura ou plantam flores e decidiram criar peixe também. Se o produtor tem 2 mil ou 3 mil metros quadrados de área, pode colocar um tanque e iniciar a atividade", diz.

Só em Rolândia, comenta Ellen, cerca de 30 interessados em desenvolver piscicultura procuraram o escritório do MPA em menos de seis meses. Na região, a Associação do Norte Paranaense de Aquicultores (Anpaqui) tem 135 produtores.

Incremento

As 30 cidades com abrangência da Associação dos Municípios do Setentrião Paranaense (Amusep), no Noroeste, têm 353 propriedades rurais com interessados em explorar a piscicultura. A maioria dos cadastros veio após a realização de reuniões de divulgação feitas pela Amusep, com apoio das prefeituras. Uma comissão para fomentar o setor foi criada pela entidade junto ao Conselho de Desenvolvimento de Maringá (Codem), Emater e Associação dos Pescadores do Norte do Paraná (Norpeixe). As propriedades agora aguardam uma visita técnica da Emater para iniciar a produção.

"Deste total de interessados em consultoria, 40% conhecem a atividade , já produzem ou produziam e deixaram a piscicultura por problemas com a legislação ambiental. O restante, 60%, são novos investidores, pessoas que precisam de orientação para começar", observa o engenheiro agrônomo da Emater em Mandaguaçu, José Sérgio Righetti.

Segundo ele, os produtores viram que a piscicultura pode ser um bom negócio, desde que a propriedade tenha fontes de água. "É uma alternativa que não depende muito de chuvas ou tanta mão de obra". Apesar da demanda, Righetti reconhece que o trabalho segue em marcha lenta pela falta de pessoal para visitar todas as áreas.

Investimento

Lucro gira em torno de R$ 1 por quilo de tilápia vendida

Uma das possibilidades de gerar receita com a produção de peixes é a piscicultura integrada com a atividade de frigoríficos particulares. No Noroeste, de acordo com a Emater de Mandaguaçu, dois abatedouros, sendo um de Arapongas e outro de Maringá, já mostraram interesse em ter abastecimento de produtores locais.

Neste tipo de parceria, o frigorífico fornece ração, alevinos e assistência técnica para o produtor cultivar espécies em tanques de sua área. Depois, no dia marcado, a empresa vai até o local fazer a retirada dos peixes. O produtor consegue lucrar em torno de R$ 1 por quilo de peixe vivo vendido, calcula o diretor do Pescados Smart Fish, de Rolândia, João Carlos Rogério. O estabelecimento, conforme ele, é atendido por 24 produtores num raio de 100 km. "Eles produzem de 30 a 40 toneladas de tilápia por hectare", comenta.

Em geral, cada quilo de tilápia, calcula o engenheiro de pesca Luiz Eduardo Barreto, da Emater de Cambé, pode ser vendido por cerca de R$ 4,30, dependendo do tamanho das unidades e condições de pagamento. O lucro costuma girar entre R$ 0,70 a R$ 1,30 por quilo.

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