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Casa de câmbio em Buenos Aires mostra as cotações das principais moedas comercializadas na Argentina
Casa de câmbio em Buenos Aires mostra as cotações das principais moedas comercializadas na Argentina| Foto: Tonaldo Schemidt/AFP

A crise na Argentina já está tendo pesados reflexos no Brasil: as exportações para lá caíram 40% nos sete primeiros meses do ano, comparativamente a igual período do ano passado, segundo o Ministério da Economia. E a situação pode se tornar mais complicada, após a vitória da chapa de esquerda - de Alberto Fernández e Cristina Kirchner - nas primárias presidenciais realizadas no último domingo.

A reação no mercado financeiro foi imediata. O peso argentino derreteu 19,1% desde a sexta-feira e deve pressionar ainda mais a economia enfraquecida.

Segundo o banco de investimentos Itaú BBA, a incerteza eleitoral e a instabilidade financeira vão ter impactos negativos sobre a demanda doméstica argentina e pressionar mais a inflação. Na semana passada, o banco de investimentos projetava que o PIB argentino fecharia este ano em baixa de 1,4% e a inflação bateria nos 40%.

“A recessão na Argentina está fazendo com que o país perca espaço na pauta de exportações do Brasil”, diz Lia Valls, pesquisadora associada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).  A participação no total caiu de 5,14%, em 2018, para 4,17%, em 2019.

E quem mais sente são as fábricas. O país vizinho é um dos principais clientes dos produtos industrializados. No acumulado de 12 meses, o setor enfrenta uma retração de 0,8%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É um desempenho que não se repetia desde julho de 2017.

Um dos segmentos mais afetados é o automobilístico. Por lá, a Honda já anunciou que deixará de fabricar carros a partir do ano que vem. O foco ficará na produção de motos. Por aqui, as exportações de carros de passeio para o país vizinho caíram pela metade em um ano. As de veículos comerciais caíram ainda mais: 72,8%.

A Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) projeta uma queda de 28,5% nas exportações em 2019. Isto está contribuindo para a redução no ritmo de crescimento da produção das montadoras. Segundo o IBGE, nos 12 meses encerrados em junho, a expansão foi de 5,6%, a menor desde julho de 2017.

Mas não é só o complexo automotivo que está sentindo a retração. As vendas de autopeças caíram 28,7%; as de minério de ferro, 19,7% e as de soja, 44,7%. “O negócio está muito complicado para os lados de lá”, afirma Mauriciano Cavalcante, diretor de câmbio da corretora Ourominas.

Outra empresa que está revendo os planos em relação à Argentina é a Alpargatas. Segundo o jornal Valor, até o final do ano, a empresa deve concluir a venda dos ativos no país vizinho.

Câmbio já precificou vitória da oposição na Argentina

O estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, avalia que o mercado já precificou a vitória de Fernández nas eleições de 27 de outubro. A consultoria política Eurasia Group avalia que as chances dele vencer a disputa são de 90%. “Dificilmente, o atual presidente (Maurício Macri) irá conseguir reverter o quadro”, complementa Cavalcante.

Tanto ele, quanto Laatus, acreditam que o dólar não deve ter uma nova forte alta em decorrência do processo eleitoral no país vizinho.

“O que aconteceu na segunda foi um surto. Não era esperada uma vitória tão acachapante”, diz o estrategista-chefe. O câmbio fechou a R$ 3,983 naquele dia. Nesta terça, a R$ 3,967, beneficiada pelo anúncio de novas rodadas de negociações entre os Estados Unidos e a China sobre a guerra comercial que os dois países travam desde o ano passado.

Segundo o Itaú BBA, o foco das atenções agora passou a ser as escolhas que Fernández fará para a equipe econômica, caso se concretize a sua vitória, e as estratégias para assegurar que existem recursos suficientes para evitar uma moratória da Argentina no próximo mandato. O país vizinho necessitará US$ 15 bilhões até o final de 2020 para rolar a dívida referente a compromissos internacionais.

“Há também o temor de que a nova gestão dê um calote no Fundo Monetário Internacional”, diz  No ano passado, a Argentina assinou um acordo de mais de US$ 50 bilhões com o fundo, para tentar conter a crise econômica.

De acordo com Lia Valls, do Ibre/FGV, é fundamental o Brasil manter os canais abertos com o país vizinho por causa das parcerias construídas ao longo da história. “O crescimento argentino é extremamente favorável para o Brasil.” E um dos setores que mais seria beneficiado seria a indústria.

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