• Carregando...
Bancos oficiais e o financiamento de empresas |
Bancos oficiais e o financiamento de empresas| Foto:

A crise está alterando o mapa de financiamento das empresas. O crédito escasso tanto no mercado interno como no externo e o mercado de capitais praticamente fechado para o lançamento de ações estão fazendo com que as empresas voltem a buscar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) para o aporte de recursos. O aumento da procura por crédito nesse momento de instabilidade já levou o banco oficial a alcançar o valor de R$ 71,52 bilhões em empréstimos de janeiro a outubro. A expectativa é terminar o ano com R$ 90 bilhões, um avanço de 38% sobre o ano anterior. Para 2009, o banco projeta empréstimos de R$ 100 bilhões, volume 11% acima do previsto para este ano.

O banco estatal respondeu por 26% dos gastos com investimentos das empresas nas áreas de infra-estrutura e indústria no ano passado. A participação deve chegar a 30% em 2008 e 33% em 2009, calcula Marcelo Machado, gerente de acompanhamento econômico e operações do BNDES. Se confirmado, será um recorde desde 2001.

O banco ganhou posição estratégica porque outras fontes de recursos foram fortemente abaladas pela instabilidade econômica. O mercado de capitais, que nos últimos anos funcionou como uma ponte para as empresas engordarem seus caixas, está praticamente fechado com queda forte da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). A crise também reduziu a lucratividade das empresas e, por conseqüência, o caixa disponível para investimentos. Por outro lado, o crédito "secou" e ficou mais caro tanto nos bancos privados daqui quando no exterior. "É natural que o BNDES passe a ter uma procura maior", diz Machado.

Segundo ele, a demanda por financiamento pelas empresas de infra-estrutura e indústria cresceu 50% em 2008 na comparação com o ano passado (quando já havia crescido 24%). Para fazer frente à procura, o Tesouro Nacional fez dois grandes aportes no BNDES, que somaram R$ 27,5 bilhões, outro volume recorde. Para 2009, devem entrar US$ 2 bilhões do Banco Mundial e US$ 1 bilhão do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Há informações de que o BNDES negocia também mais uma linha com o banco japonês JBIC (Banco de Cooperação Internacional do Japão). O Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) é a principal fonte de recursos para o caixa do BNDES, além do retorno dos empréstimos concedidos e o rendimento da carteira de ações do BNDESPar.

Apesar da crise, o BNDES estima que os grandes projetos de infra-estrutura e indústria serão mantidos, entre eles as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e projetos privados nas áreas rodoviária e de geração de energia. Como são obras de longo prazo, devem ser tocadas mesmo com a turbulência financeira, segundo Machado.

Câmbio biruta

Para o presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, a principal preocupação é com a capacidade orçamentária do BNDES. "Os aportes que foram feitos são um sinal que que o banco não tem conseguido atender à demanda total", afirma Loures.

Para mimimizar os efeitos da escassez de crédito, o governo ampliou as atribuições do BNDES. O banco – tradicionalmente vinculado a projetos de investimento em expansão da produção – abriu outras frentes, desde o crédito à exportação até o financiamento para capital de giro. Nesse último, o banco acaba de lançar uma linha de R$ 6 bilhões. O BNDES também poderá adquirir participações em empresas do ramo da construção civil em dificuldades.

Hospital de empresas

As novas investidas, criticadas por alguns que temem que o banco volte à prática antiga de funcionar como "hospital" para empresas em apuros, é elogiada pelo setor produtivo. "Em tempos de crise ou não, o BNDES tem uma função indispensável. O capital de giro é tão importante quanto o capital fixo. Não adianta as empresas investirem e não terem recursos para tocar o negócio", afirma Loures.

Para o presidente da Fiep, o principal desafio do BNDES está em atender as necessidades de financiamento das empresas de médio porte, que são obrigadas a passar pelos agentes repassadores. "Essas operações são mais burocráticas, têm custos adicionais e não raro sofrem ingerências de ordem política", critica.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]