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BR Distribuidora é considera uma das joias da Petrobras, mas investidores não querem investir se não puderem controlar a empresa | Agência Petrobras/Agência Petrobras
BR Distribuidora é considera uma das joias da Petrobras, mas investidores não querem investir se não puderem controlar a empresa| Foto: Agência Petrobras/Agência Petrobras

O agravamento da crise política atinge em cheio os planos de reestruturação da Petrobras. A estatal corre contra o tempo para arrecadar US$ 14,4 bilhões neste ano com a venda de ativos e para levar adiante outros projetos, como a revitalização do Campo de Marlim, na Bacia de Santos. De acordo com um executivo próximo à estatal, as incertezas quanto a possíveis mudanças no governo – com a possibilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff – levantam dúvidas junto a investidores e dentro da companhia, no processo de tomada de decisões.

“O investidor teme comprar um ativo ou se tornar sócio de um projeto num país que não se sabe se o governante vai mudar em breve. E, se isso acontecer, todo o comando da Petrobras mudará”, destacou o executivo.

A instabilidade política já dificulta os planos da estatal de encontrar um parceiro para a BR Distribuidora, uma das joias da coroa da petroleira. A Petrobras pretende vender de 25% a 40% das ações a um sócio estratégico. Mas, até agora, os interessados, que incluem algumas empresas e quatro fundos de investimento (um brasileiro e três estrangeiros), só querem levar adiante o negócio se puderem comprar o controle da companhia. “Eles não querem colocar recursos na BR sem o controle, até para não correr o risco de sofrer ingerências do governo federal. Como negociar agora com o presidente da Petrobras, que é alinhado ao governo atual? E se mudar o governo, como fica?”, questiona o executivo.

Divergências

Para Flávio Conde, da consultoria WhatsCall, as incertezas políticas podem brecar as negociações da BR, o principal ativo à venda: “Quem vai ficar sócio de uma empresa na qual o comando do acionista controlador pode mudar? Além disso, o setor de petróleo vive um momento de baixas nos preços do barril. O quadro político do Brasil complica ainda mais os planos da Petrobras. Uma das etapas na hora de vender um ativo é o cálculo da projeção do risco Brasil. E ninguém sabe como vai ficar porque há muita incerteza em relação ao futuro de Dilma”.

O economista da RC Consultoria, Tiago Biscola, diz que o Brasil passa por um momento único: “Quem vai comprar ativo da Petrobras no momento como o atual, que é incerto?”. O economista Alfredo Renaut, da PUC-Rio, pontua que, dependendo do desfecho da crise política, a estatal pode ser beneficiada: “Se o atual governo sair derrotado, a perspectiva de recuperação da Petrobras é maior. É a mudança que pode levar a melhoras na companhia”.

Escolha de comando

Outra decisão que pode ser adiada é a escolha de um executivo para comandar a BR. Segundo fonte próxima à estatal, a Petrobras mantinha tratativas com quatro executivos e, nos últimos dias, estava em conversas mais adiantadas com um. Com a indefinição quanto ao futuro do país e da companhia, já se teme que a definição demore mais a sair.

Neste cenário, não é só a busca por investidores que fica em compasso de espera. A paralisia exacerba as divergências dentro da própria empresa sobre os rumos da reestruturação.”As incertezas do país afetam a Petrobras interna e externamente. Elas reforçam internamente os que são contra a venda de ativos. Não se sabe qual o direcionamento que vai ser tomado. Fica mais difícil aprovar qualquer venda”, disse uma fonte.

Outro efeito é contribuir para a desvalorização dos ativos à venda, que já estão baixos em decorrência da queda do preço do petróleo. O recuo da cotação causou uma onda de desinvestimento entre grandes petroleiras. “Os projetos de venda de ativos não caminham de forma ágil. A Petrobras ainda não conseguiu implementar a reestruturação interna”, disse a fonte, lembrando que a reunião extraordinária do Conselho de Administração para tratar da reestruturação interna e do corte nos cargos gerenciais, prevista para o último dia 14, foi suspensa.

Outro executivo que participa das discussões na estatal diz que ainda não ocorreu uma mudança de rota, mas admite que será mais difícil concluir negociações para se desfazer de empresas e projetos: “Todas as empresas de petróleo estão vendendo ativos, mas o problema da Petrobras é o alto endividamento. Agora, não vai ser por causa disso que vai se vender a preço de banana”.

Parceiros

Com endividamento de R$ 506 bilhões até setembro de 2015, a Petrobras busca parceiros para arcar com investimentos não só em projetos no pré-sal, mas em empreendimentos antigos no chamado pós-sal da Bacia de Campos. A empresa procura sócios dispostos a investir US$ 5 bilhões no projeto de revitalização da produção no Campo de Marlim, que está em operação há 25 anos. As conversas mais adiantadas envolvem estatais chinesas de petróleo, mas o receio é de estagnação diante da crise política.

O Campo de Marlim é um dos maiores em produção no pós-sal, mas está em declínio nos últimos anos. Em janeiro deste ano, produziu 157 mil barris por dia, contra 200 mil em janeiro de 2015. Em meados de 2014, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) aprovou um Plano de Desenvolvimento do campo, revisto no ano passado, que prevê a perfuração de novos poços e a instalação de duas novas plataformas com capacidade de produção de cem mil barris diários cada, para inverter o declínio atual. Atualmente, Marlim tem sete plataformas em operação.

No início do mês, a estatal teve uma notícia favorável, com a resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que prorroga os prazos dos contratos da chamada Rodada Zero, assinados entre ANP e Petrobras em 1998. Eles venceriam em 2025. Na ocasião, com a abertura do mercado de petróleo, a estatal pôde escolher os blocos e campos que queria explorar. Foram 397 contratos em 1998, com campos e blocos exploratórios. Atualmente, segundo a ANP, existem 278 campos oriundos da Rodada Zero, operados pela Petrobras. A prorrogação permite que a estatal coloque alguns destes blocos à venda, como parte do seu plano de desinvestimento ou que busque parceiros para os projetos. O problema é que a crise política dificulta o andamento destas negociações.

Procurada, a Petrobras informou apenas que que “o projeto de Marlim está em andamento e sua execução segue de acordo com o planejado”. A ANP disse que “a gestão dos contratos está sendo realizada”.

Para Hélder Queiroz, ex-diretor da ANP, a prorrogação dos contratos teria potencial para viabilizar o desenvolvimento de vários projetos que estavam parados: “Sempre fui favorável à renovação automática desses contratos. Existem projetos de recuperação da produção de petróleo. E a Petrobras poderá negociar a venda de parte de vários campos ou de blocos”.

Resta a dúvida, agora, se toda convulsão política vai postergar, mais uma vez, a retomada dos investimentos no setor petrolífero.

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