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De artes marciais a unicórnios: diversidade é chave para crescimento das startups
| Foto: Gazeta do Povo

Dois grandes lutadores das artes marciais, o presidente de um banco e um professor de plataformas virtuais podem, sim, ter muito em comum. O Cubo Conecta, evento realizado pelo Cubo Itaú nesta sexta-feira (20), mostrou que, para o empreendedorismo, a diversidade é o principal canal para o crescimento.

O evento, realizado em São Paulo em comemoração aos quatro anos do Cubo Itaú, maior hub de inovação da América Latina, uniu startups, investidores e grandes empresas. “Defendemos o ambiente conectado como o mais propício ao empreendedorismo e à inovação”, disse Pedro Prates, cohead do Cubo, logo em sua fala de abertura.

Prova disso foram os 12 palestrantes escolhidos para os seis painéis de discussão principais. Dos lutadores Minotouro e Minotauro ao presidente do banco Itaú Unibanco, os assuntos geraram reflexão acerca do que realmente é necessário para que uma empresa avance no mercado.

O termo "conexão" foi um dos principais focos do evento
O termo "conexão" foi um dos principais focos do evento

Uma das discussões mais emblemáticas sobre a necessidade de liberdade e diversidade para o desenvolvimento de uma startup foi realizada entre Renato Freitas, cofundador da 99 e fundador da Yellow, e Ana Theresa Borsari, country manager da Peugeot Brasil. O empreendedor afirmou que a única maneira de garantir uma equipe com pessoas criativas é dar autonomia a elas. “Liberdade para errar é a chave de sucesso de uma startup”, assegurou.

Freitas defendeu a alta tolerância ao erro como um dos pontos mais importantes dentro de uma empresa. “Para ser criativo, você tem que errar muitas vezes até acertar”, disse. Dentro desse pensamento, segundo ele, a diversidade é o que faz as visões se ampliarem. “Isso aconteceu muito na 99. As pessoas de diferentes países, línguas, raças e gêneros traziam pontos de vista tão maiores que acabávamos chegando a conclusões de forma mais rápida. Enxergamos melhor os problemas”, avaliou.

De acordo com Renata Zanuto, cohead do Cubo Itaú, o Brasil vem entendendo essa necessidade. Para isso, ela apontou dados que evidenciaram o amadurecimento do ecossistema de empreendedorismo do país e do mercado nacional como um todo. "O Brasil se tornou um player relevante e atrativo para o mundo", afirmou citando a própria empresa com exemplo. O Cubo Itaú teve em 2019 um faturamento de R$ 540 milhões, o que representa um crescimento de 135% em relação ao ano anterior, quando a receita foi de R$ 230 milhões.

Antes vistas como ameaça, startups são agora oportunidades

"Precisamos desenvolver um ambiente de mais acolhimento e respeito. Queremos quebrar paradigmas. A maioria dos negócios daqui, por exemplo, acontece no próprio café", disse. Para Pedro Prates, o outro cohead do Cubo, o cenário é positivo também porque as grandes empresas descobriram o potencial de inovação das startups e hoje estão trabalhando junto com elas. “As startups são vistas mais como oportunidades e menos como ameaças”, analisou.

Os coheads do cubo Pedro Prates e Renata Zanuto
Os coheads do cubo Pedro Prates e Renata Zanuto

Um dos exemplos trazidos pelo primeiro painel apresentado no evento foi o de que o Brasil ocupa a quinta posição mundial em quantidade de startups conhecidas como unicórnios, ou seja, aquelas com preço de mercado superior a US$ 1 bilhão. São, atualmente, nove unicórnios e um decacórnio, o Nubank. "O resultado deve ser comemorado não só por representar o amadurecimento do ecossistema de inovação do país, mas também pela confiança que os empreendedores brasileiros demonstram ao mundo", afirmou Anderson Thees, managing partner no RedPoints eventures.

Na mesma linha de raciocínio esteve André Maciel, managing partner do conglomerado japonês Softbank. “Quando iniciei a carreira como empreendedor aprendi que era difícil levantar dinheiro no Brasil porque a indústria não estava amadurecida. Essa realidade está mudando”, avaliou. O executivo, que também atua como mentor na Endeavor, organização de apoio ao empreendedorismo, afirmou que quatro aportes foram realizados pelo Softbank a startups brasileiras este ano.

Entre as empresas selecionadas estão o marketplace moveleiro MadeiraMadeira, que levantou US$ 110 milhões, e o Quinto Andar, de aluguel residencial, que recebeu US$ 250 milhões este mês e se tornou um unicórnio (empresa com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão). Além destes, um novo investimento em startup foi prometido por ele ainda para este mês de setembro.

Educação é base para pensamento empreendedor

Outro assunto importante trazido para o debate durante os painéis foi a necessidade de ajuste da maneira como se vê a educação no país. Para Marco Fisbhen, CEO da Descomplica, a maior plataforma online de educação do Brasil, o principal ponto é que professores e alunos comecem a pensar como executivos. “É essencial aprender a aprender, desenvolver uma metaprogressão, entender quais são as próprias curvas de esquecimento, cobrar feedback, ensinar a trabalhar melhor”, sugeriu.

Para ele, assim como um executivo faz, é preciso que os envolvidos na educação treinem, aprendam e aceitem receber ajuda. “Queremos fazer as pessoas saírem melhores do que entraram”, afirmou em conversa com Candido Bracher, presidente do Itaú Unibanco. Quando questionado sobre o modelo de educação atual, Fisbhen defendeu que, mesmo estando ligado à tecnologia, considera o modelo clássico de educação como funcional. No entanto, algumas reflexões precisam ser feitas: “Nosso objetivo não é revolucionar a educação, mas pensar no que existe na tecnologia e nas experiências que pode gerar um feedback mais positivo”, explicou.

Essa necessidade de adaptação também foi assunto da conversa entre Rodrigo Galindo, CEO da Kroton Educacional, e Fabiana Salles, CEO da Gesto. Galindo explicou que o avanço da tecnologia faz com que o mercado de trabalho sofra mudanças que nem sempre são esperadas pelos profissionais formados. “Muitos acabam fazendo algo diferente daquilo para o que se especializaram", apontou.

Segundo ele, cerca de 60% dos jovens formados devem se afastar de suas áreas originais de formação por conta dos impactos da automação. O que poderia ser visto como um ponto negativo, no entanto, pode ser um incentivo para a preparação por novas buscas. Fabiana garante que os papeis que uma pessoa assume dentro de uma empresa devem ser vistos com maior flexibilidade atualmente. “É preciso ter um nível de clareza e transparência. Um líder deve saber reconhecer quando um profissional chega no limite dele dentro de uma determinada função”, disse.

Para a CEO da Gesto, a bagagem de cada colaborador precisa ser respeitada, mas mais do que isso, é preciso perceber se o valor de cada um agrega à cultura da empresa. Galindo concorda, mas acrescenta a inovação como um fator determinante para quem quer continuar no mercado. “Se você tiver uma ideia muito inovadora e as pessoas não desconfiarem, é porque ela não é tão inovadora assim”, garantiu.

Ter talento não basta. É preciso trabalho

Bastante aguardados pelo público, os irmãos Rodrigo e Rogério Nogueira (Minotauro e Minotouro), acrescentaram à necessidade de adaptação outros três pontos principais: persistência, meta e motivação. Para exemplificar a fala, os lutadores contaram que um adversário gigante é como uma meta alta: exige muito estudo e prática para ser alcançada.

“Meus objetivos são a gasolina da minha motivação. Um dia cheguei em casa e disse ao meu pai que havia sido vice-campeão. Ele me questionou por que não fui o número um”, recordou Rodrigo.

Irmãos Nogueira, Minotouro e Minotauro
Irmãos Nogueira, Minotouro e Minotauro

Para ele, os grandes desafios devem ser vistos como oportunidades. O lutador foi atropelado por um caminhão na juventude e ficou 11 meses internado. Com o acidente, perdeu uma vértebra e o diafragma. Mas apesar das dificuldades respiratórias, foi campeão mundial quatro vezes. “Só é bom quem repete e quem estuda. Tinha que fazer em três horas o que um garoto normal faz em uma. Não acredito em talento. Acredito em trabalho”, afirmou o lutador.

Ambiente propício aos negócios

Além dos encontros entre empreendedores e das trocas promovidas com a plateia durante as discussões, o Cubo Conecta trouxe possibilidades de interatividade promovidas por startups distribuídas ao longo de todo o prédio. O objetivo foi mostrar tanto o trabalho dessas jovens empresas, como a estrutura física do Cubo Itaú. Atualmente, são 125 startups residentes no edifício e 134 no ambiente digital. Entre os 30 mantenedores do Cubo, por sua vez, estão a Gazeta do Povo, BR Malls, Itaú, Tim, Renault e Grupo Pão de Açúcar.

Dentro do ecossistema de inovação do Cubo Itaú, 800 oportunidades de negócios entre startups e grandes empresas foram geradas neste ano. Além disso, mais de 180 contratos foram firmados entre os próprios mantenedores e as jovens empresas do hub. "As startups estão crescendo tão rápido que estamos conversando com algumas que logo terão de deixar o Cubo porque estão grandes demais”, contou a cohead do espaço, Renata Zanuto. Só em 2019, 2 mil jovens empresas se inscreveram para seleção no Cubo.

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