• Carregando...
Da esquerda para direita, os fundadores da iClinic, Leonardo Berdu, Felipe Lourenço e Rafael Bouchabki | /
Da esquerda para direita, os fundadores da iClinic, Leonardo Berdu, Felipe Lourenço e Rafael Bouchabki| Foto: /

Quem empreende sabe que a organização das rotinas é essencial para evitar perdas e chegar a bons resultados. Nos consultórios e clínicas médicas isso não é diferente. Foi observando que o setor estava pouco assistido em tecnologias que facilitem a administração das atividades que surgiu a ideia de criar a iClinic, health tech que oferece um software em nuvem que já é usado em clínicas e consultórios de 20 países. Em 2012, a startup ficou entre as dez escolhidas para participar do programa de mentoria da aceleradora holandesa Rockstart, e três anos mais tarde, em 2015, foi apontada foi escolhida como uma das promessas da Endeavor, entidade internacional que promove inovação pelo mundo.

Tudo começou quando um dos fundadores, Felipe Lourenço, cursava o pouco conhecido curso de Informática Biomédica, entre 2006 e 2009 na Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto. O curso é como se fosse uma Engenharia da Computação voltada para o setor da saúde. Foi durante um estágio no Hospital das Clínicas que Lourenço contatou que o nível de adoção de tecnologia no mercado de saúde ainda era muito baixo.

LEIA TAMBÉM: Talentos brasileiros veem nas startups o trampolim ideal para trabalhar fora do país

“Estabelecimentos de grande porte como hospitais e laboratórios já tinham um esforço maior na digitalização. Mas os pequenos, como consultórios individuais e clínicas, eram muito desassistidos”, conta, reforçando que, 70% do mercado ainda usava papel e os outros 30% até tinham alguma solução digital, mas desenvolvida há dez, quinze anos, a maioria desenvolvida por empresas não especializadas.

Quando se formou, Lourenço contou a ideia a dois amigos de infância, Rafael Bouchabki e Leonardo Berdu, com quem dividia o entusiasmo por tecnologia e que compraram a ideia. Em 2012, deram início ao projeto e lançaram um protótipo da solução para ver se a ideia fazia sentido. Fazia. A boa aceitação fez com que seguissem em frente com os planos.

De agenda a controle financeiro

O software da iClinic funciona na nuvem, ou seja, o acesso ao sistema e arquivos acontece de forma remota, pela internet, o que permite que o acesso à plataforma seja feito de qualquer dispositivo que possua uma conexão com a rede. Diferente de softwares mais antigos, o iClinic é vendido como serviço e o usuário paga mensalmente para utilizá-lo, em vez de pagar um valor mais alto por um pacote e instalar no computador em que vai utilizar, os chamados “software caixinha”, que, segundo Lourenço, possuem uma série de limitações, como a dificuldade em fazer atualizações.

Atualmente, a empresa possui três planos que custam de R$ 79 a R$ 119 em sua versão mais completa. Lourenço adianta, no entanto, que isso vai mudar para tornar os planos costumizáveis, com objetivo de ajudar os profissionais de saúde em três frentes: atrair mais pacientes, atender os pacientes com mais qualidade e, finalmente, fideliza-lo e engajá-lo no tratamento.

Para isso, a plataforma foi fatiada em quatro produtos que poderão ser combinados de acordo com o porte e o perfil do consultório ou clínica. São eles: Gestão de agenda, que é o produto de entrada e o mais simples, em que se faz o controle dos agendamentos de pacientes; Prontuário eletrônico, o mais utilizado, segundo Lourenço, em que são registradas as informações e histórico dos pacientes; Gestão financeira, para controle de recebíveis, fluxo de caixa, organização de contas, relatórios de produtividade e ajuda, inclusive, na comunicação com as operadoras de planos de saúde; Marketing e relacionamento, que faz com que o médico se coloque mais próximo de seus pacientes, com intuito de fidelizá-los.

LEIA TAMBÉM: Startup cria plataforma que permite que cliente escolha como falar com empresas

A interface do aplicativo foi desenvolvida para que ele seja simples de utilizar, até por quem não tem muita intimidade com tecnologia. O cuidado com a experiência de uso pode ser confirmado pelo fato de, apesar de ser todo em português, o software ser utilizado em outros países que não têm a língua como nativa. “Os processos e tarefas a serem executados neste ramo são muito similares em todos os países, então com um software intuitivo fica fácil de compreender, mesmo que em outra língua”, afirma Lourenço.

O software também ajuda a diminuir o número de faltas dos pacientes, o que costuma ser uma dor de cabeça para muitos médicos. Segundo o CEO, muitos pacientes faltam porque acabam esquecendo o compromisso, ou sabem que não vão poder comparecer mas acaba esquecendo ou tem vergonha de ligar para desmarcar o horário.

Pelo iClinic, é possível configurar com quanto tempo de antecedência você deseja enviar um lembrete da consulta, que chega ao paciente via SMS e e-mail e, em breve, também por WhatsApp. O paciente pode responder confirmando ou cancelando, ou até pedindo remarcação. “Temos clínicas que depois que adotaram esta prática conseguiram diminuir o índice de faltas em até 30%. Você evita os buracos na agenda e também facilita para o paciente”, conta.

Recentemente, a startup também lançou uma plataforma gratuita, disponível para qualquer profissional que desejar de cadastrar, para criação de um perfil online com foto, informações de formação, especialidade e quais procedimento realiza. Para facilitar que os pacientes encontrem os médicos, as páginas foram otimizadas para ficarem bem ranqueadas no Google.

Em um próximo momento, estes perfis online serão conectados com as agendas dos profissionais, permitindo que o paciente veja os horários livres e faça o agendamento de sua consulta pela internet.

A experiência lá fora

De volta à 2012, junto com a percepção de que o software tinha potencial, veio a noção de que os três sócios precisavam buscar uma formação que não tinham e entender mais sobre o mercado que estavam entrando e a dinâmica dos negócios. Foi aí que começaram a buscar aceleradoras de startups de tecnologia, que, à época, estavam começando a surgir no Brasil, então foram procurar fora do país e encontraram a holandesa Rockstart.

A iClinic foi selecionada, entre 700, para um grupo de dez startups para participarem do programa da aceleradora. Foram nove meses, a partir de março de 2013, divididos entre Amsterdã, na Holanda, e São Francisco, nos Estados Unidos, onde está o Vale do Silício, berço das principais empresas de tecnologia do mundo. Neste período, passaram por mentorias com executivos de alto escalão, de empresas como Google, Facebook e Salesforce, sobre assuntos variados dentro do universo de empreendedorismo, tecnologia e inovação, que ajudaram a lapidar o conceito do que queriam e esperavam da iClinic.

De volta ao Brasil em 2014, a startup entra em uma nova fase, mais madura. “A essência, a cultura e os valores continuaram, mas voltamos com um caminho mais claro, com a mente mais aberta”, diz Lourenço. “Foi muito importante termos ido para fora do país, vimos o que estava acontecendo no mercado europeu e americano em primeira mão”, acrescenta.

No ano seguinte, 2015, veio a coroação da iClinic ao ser apontada como uma das dez promessas pela Endeavor. No mesmo ano, a empresa cresceu 250%. E de lá para cá, o crescimento seguiu acelerado, ano a ano ultrapassando os 100%. Até o momento, em 2018, o crescimento já chegou a 90%, e a expectativa é que fique entre 110% e 115% ao final do ano. A startup não divulga o faturamento por questões contratuais que impedem.

Atualmente, 13 mil profissionais de saúde entre médicos, fisioterapeutas e outros utilizam o software da iClinic, 90% deles no Brasil. A matriz continua localizada em Ribeirão Preto, mas recentemente a empresa abriu um escritório também em São Paulo, no novo prédio do Cubo Itaú. E o crescimento acelerado não é só em faturamento: a startup começou 2018 com 25 funcionários; em setembro, já são 60.

O foco agora está em expandir o negócio dentro do Brasil, mas Lourenço conta que, em médio prazo, já existem planos para começarem o movimento de internacionalização. “Devemos disponibilizar o software também em espanhol, de olho em mercados da América Latina”, revela o CEO.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]