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| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

A recessão que há dois anos castiga o mercado de trabalho fez a taxa de desemprego entre os idosos mais do que dobrar no período. De acordo com estudo divulgado nesta terça-feira (20) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o desemprego entre as pessoas de 60 anos ou mais passou de 2,05% no último trimestre de 2014 para 4,75% no segundo trimestre de 2016 – um salto de 132%.

Quando se observa a dinâmica do mercado de trabalho este ano, a situação desse grupo é ainda pior. Enquanto entre os jovens, que têm a maior taxa de desemprego, o índice se estabilizou na casa dos 26%, entre os idosos houve crescimento de 44%, passando de 3,29% nos três primeiros meses deste ano para 4,75% no segundo trimestre.

O coordenador da publicação, o técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea José Ronaldo Souza Jr., explica que o aumento do desemprego entre o grupo de maior faixa etária ocorreu não devido a cortes nas empresas, mas principalmente pelo aumento do número de idosos procurando emprego para complementar a renda.

Os números mostram, aliás, que a quantidade de pessoas dessa faixa etária trabalhando cresceu durante a recessão, passando de 20,7 milhões ao fim de 2014 para 21,4 milhões em junho deste ano. No mesmo período, o número de desempregados nesse grupo quase dobrou: de 545 mil para 1 milhão.

“Também há um peso do aumento demográfico. Ou seja, mais pessoas completaram 60 anos nesse período, muitos idosos tiveram de deixar a inatividade para procurar trabalho. O problema é que esse grupo tem dificuldades de se inserir. Primeiro porque eles estavam fora do mercado; segundo, porque se questiona, muitas vezes, o quão produtivos ainda são”, avalia Souza Jr.

Dificuldades na contratação

Segundo o técnico do Ipea, os idosos são vistos pelos empregadores como uma mão de obra experiente, mas que pode ter perdido a capacidade para trabalhos que exijam força física. Eles têm mais chances de ser inseridos em funções operacionais, como é comum nas redes de varejo, e em cargos de coordenação, em razão da experiência.

A demógrafa Ana Amélia Camarano, especialista em estudos sobre envelhecimento da população brasileira, diz que a dificuldade de idosos serem contratados é fruto de preconceito.

“Os empregadores preferem contratar uma pessoa de 40 anos, porque podem pagar um salário menor e não terão de fazer adaptações no ambiente de trabalho. Também há receio das empresas de que os idosos não consigam se adaptar às novas tecnologias”, diz.

Ambos afirmam que essa realidade terá de mudar no futuro, já que a população brasileira caminha para um maior envelhecimento, com redução da população jovem. Um terço da população brasileira será formada por pessoas com 60 anos ou mais em 2060. Serão 73,5 milhões entre os 218,1 milhões habitantes do país. Em 2045, a população brasileira já começará a diminuir, segundo as projeções do IBGE. E o mercado de trabalho terá de se adaptar a uma mão de obra mais velha.

“No futuro, os idosos serão mais bem absorvidos pelo mercado, mas isso ocorrerá não por uma questão cultural, e sim pela escassez de mão de obra jovem. É uma mudança de perfil da população ocupada, que obrigará a fazer investimentos em mobilidade urbana adequada e adaptações no ambiente de trabalho”, reforça Ana Amélia.

Chefes de família

O aumento do desemprego entre os idosos pode ser explicado, em parte, por outro dado evidenciado pelo estudo do Ipea: a taxa de desemprego entre os chefes de família quase dobrou durante a recessão, passando de 3,38% no último trimestre de 2014 para 6,55% em junho deste ano. É considerada chefe de família, explica Souza Jr., a pessoa responsável pelos demais integrantes, geralmente por ser o maior provedor de renda. Isso torna esses números ainda mais dramáticos, ressalta o técnico do Ipea.

“A perda do emprego pelo chefe de família é reflexo direto da destruição do trabalho com carteira. É um dado que produz um efeito muito grave. Se o chefe de família perde o emprego, isso leva outros membros, como os jovens e idosos, a saírem de casa para encontrar uma vaga, aumentando a fila do desemprego, e impacta o consumo, prejudicando a retomada da economia”, pontua.

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