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País fechou o trimestre encerrado em abril com 36 milhões de trabalhadores com carteira assinada. | Giuliano Gomes/Gazeta do Povo
País fechou o trimestre encerrado em abril com 36 milhões de trabalhadores com carteira assinada.| Foto: Giuliano Gomes/Gazeta do Povo
A taxa de desemprego subiu para 8% no trimestre encerrado em abril, evidenciando uma piora na qualidade do trabalho com migração maior para informalidade e atividades autônomas. Os dois modelos não são protegidos pelas leis trabalhistas e, portanto, mais sensíveis às mudanças da economia.

Ao movimento soma-se uma queda de 552 mil pessoas no volume de trabalhadores com carteira assinada no intervalo de um ano. Também caiu, em quase 300 mil pessoas, a quantidade de trabalhadores sem carteira. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgados nesta quarta-feira (3) pelo IBGE.

A queda dos trabalhadores sem carteira seria benéfica se houvesse uma migração para a formalização, mas, segundo o IBGE, o grupo que cresceu – trabalhadores por conta própria e empregadores – é também majoritariamente informal. As duas categorias tiveram crescimento absoluto, mas viram suas rendas encolherem entre o trimestre encerrado em abril e igual período do ano passado.

“Temos a perda de emprego sem carteira e aumento de trabalho na forma de empregadores, que podem estar informais, e trabalhadores por conta própria, também não registrados. Ou seja, você pode estar revertendo esse trabalho com carteira em trabalhos informais”, afirmou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Renda do IBGE.

O país fechou o trimestre encerrado em abril com 36 milhões de trabalhadores com carteira assinada, queda de 1,5% em relação ao verificado em igual período de 2014 –552 mil pessoas perderam seus empregos no período. A queda dos sem carteira foi ainda maior, de 3,7%, e a quantidade absoluta fechou em 10,3 milhões. Foram 384 vagas fechadas no período.

Cortes na construção civil

A paralisação da economia no inicío de 2015 abateu a construção civil, segundo a Pnad Contínua: 288 mil ficaram desempregados frente ao período de novembro a janeiro. Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, a queda no emprego do setor atingiu 609 mil pessoas. A crise na construção aparece também no renda dos trabalhadores do setor, com queda 6,5% frente a igual período do ano anterior e de 1,2% contra o trimestre de novembro a janeiro. O rendimento médio é de R$ 1.479, um dos cinco mais baixos entre as atividades econômicas.

Na ponta oposta, o contingente de trabalhadores por conta própria cresceu em 1,02 milhão de pessoas e atingiu 21,9 milhões – a alta em relação ao verificado um ano antes foi de 4,9%. A renda dessa categoria de trabalhador, que historicamente é mais baixa que a de quem tem carteira assinada, caiu 3,3% na comparação anual e ficou em R$ 1.429, contra R$ 1.757 do trabalhador formal.

Os empregadores, que são pessoas que empregam pelo menos uma pessoa, não necessariamente formal, também cresceram em quantidade e fecharam o trimestre em 4,03 milhões de pessoas, alta de 9%. Foram 333 mil pessoas que ingressaram na categoria que, no entanto, teve uma baixa de 0,8% na renda, que fechou em R$ 4.861.

Chefes de família

De acordo com Azeredo, o que pode estar ocorrendo é a migração para a autonomia dos demitidos no último ano e o ingresso de membros dessa família na fila do emprego. “Quando aquelas pessoas chefes de família perdem o emprego, ela volta ao mercado, em geral, como trabalhador por conta própria. Ela monta o próprio negócio, ainda que seja não registrado, para poder continuar com seu sustento”.

Para analistas, taxa vai passar de 10%

  • rio de janeiro

A taxa de desemprego tende a seguir em alta. Na visão do economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, deve chegar a 10%. Esse nível tornaria o processo de controle da inflação mais duradouro, principalmente em serviços, cujos preços sobem há alguns anos cerca de 8% e empurram o IPCA para a fronteira superior da meta perseguida pelo Banco Central (4,5%).

O economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, acredita que a taxa irá além, atingindo o pico de 11% em meados de 2016. Para ele, a deterioração no mercado de trabalho está na primeira fase, de aumento do desemprego, que deve ser seguida por queda mais forte na renda média real.

Um cenário como esse afetará ainda mais o consumo das famílias e a economia como um todo, e irá na contramão da expectativa do governo de que haja sinais de recuperação já no segundo semestre deste ano. “Esses dados adiam ainda mais a recuperação do PIB, para além do terceiro trimestre. Temos grandes chances de ter três trimestres seguidos de queda e alguma estabilização no quarto trimestre”, afirmou Velho.

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