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A discussão combinaria mais com outros rincões, mas tomou conta da fria Davos, na Suíça: o mundo precisa ser menos desigual. Também combinaria mais com outro grupo, mas foi protagonizada ao longo dessa semana justamente pela elite no Fórum Econômico Mundial (FEM). A diferença de renda entre o topo e a base da pirâmide social confirmou seu status de ameaça ao capitalismo –no relatório pré-encontro, o Global Risks 2017, foi taxada como o grande temor ao crescimento. O FMI também cravou:“crescimento sustentável precisa ser inclusivo”.

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Soa com alguma ironia, mas faz todo o sentido que tais órgãos façam um mea-culpa e queiram adotar, em partes, uma agenda “socialista”. A lição é clara: só reduzindo a desigualdade é que a roda da economia gira. E sem sustos (a eleição de Donald Trump e o Brexit foram, de certa forma, uma resposta dos excluídos).

Mas isso, em hipótese alguma, significa buscar igualdade – em economia, uma coisa não é antônimo da outra. O ponto da balança é a questão-chave. “O motor do capitalismo é o consumo. Aquele que detém muita renda não tem propensão a consumir como a classe média consome. Se o dinheiro vai todo para o topo, o consumo freia”, aponta Newton Ferreira da Silva Marques, doutor em Economia e professor da Universidade de Brasília.

Não é o que acontece, no entanto. Segundo a entidade britânica Oxfam, os oito homens mais ricos do mundo possuem riqueza equivalente a dos 3,6 bilhões mais pobres. Alarmante, se levar em conta que, segundo estudo complexo do FMI, “se a fatia de riqueza dos 20% mais ricos crescer 1%, o PIB global cai 0,08%”. E “crescimento similar na parcela de renda dos 20% mais pobres está associado a 0,38% de crescimento”.

Abismo brasileiro

“As desigualdades globais são mais difíceis. Os governos são diferentes e uma ação dos EUA impacta em Bangladesh”, diz o economista e pesquisador Fábio Mendonça Torres. Em nível local, a história é outra. Ainda assim, países como o Brasil têm dificuldade para sair desse perigoso pântano. O Fórum Econômico o situa atrás de Venezuela, Colômbia e Filipinas. Estamos na 30ª posição de 79. O que não está claro é o quão desigual.

Nos números oficiais, o país reduziu essa desigualdade de 2001 para cá. O coeficiente (ou índice) de Gini (veja infográfico) aponta isso. Mas não é consenso. Pesquisadores da UnB e ligados ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) atestam a melhora na faixa da extrema pobreza. Mas indicam que os dados do IBGE são por amostragem e não levam em conta a renda corroída pela tributação direta e indireta, mais pesadas para os pobres do que para os super-ricos, assim como tendem a subjugar o rendimento do topo da pirâmide. O de baixo pode não ter descido, mas o de cima continuou a subir. Há razões para se acreditar nesta corrente, já que números do banco Credit Suisse apontam que cresceu o número de milionários no Brasil. De 162 mil em 2015 para 172 mil em 2016.

“Para deixar o crescimento mais inclusivo, o sistema educacional precisa ser modernizado”, sugere o texto do Fórum Econômico em relação ao país. Uma conclusão semelhante a dos pesquisadores do Ipea e de outros vários especialistas. “Para corrigir, precisamos investir em políticas públicas, fazer a redistribuição da renda. E nisso o estado tem um papel fundamental”, defende Newton Ferreira da Silva Marques, da UnB.

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