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Para John Elkington, empresas usarão crise como desculpa para cortar orçamento | Fotos: Thiago Erikson/Divulgação
Para John Elkington, empresas usarão crise como desculpa para cortar orçamento| Foto: Fotos: Thiago Erikson/Divulgação

Brasil está perdendo o "vento da história"

Dono de um dos maiores potenciais hidráulicos do planeta, o Brasil nunca se preocupou em buscar alternativas às grandes hidrelétricas, que geram mais de 80% da eletricidade consumida.

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A crise econômica mundial levará sete ou oito anos para ser superada e, pelos próximos dois anos, terá efeito devastador sobre as políticas de sustentabilidade das empresas. Apesar de todas as esperanças sobre o mandato de Barack Obama nos Estados Unidos – o presidente eleito já prometeu investimento anual de US$ 15 bilhões em tecnologias limpas, para gerar cinco milhões de empregos no setor –, mudanças mais sensíveis nesse cenário só serão percebidas em um eventual segundo mandato do democrata. A avaliação é do sociólogo britânico John Elkington, fundador da SustainAbility ("sustentabilidade", em inglês), consultoria de práticas de responsabilidade social e ambiental.

Em entrevista coletiva na sexta-feira, em Florianópolis, Elkington foi enfático ao comentar que tipo de atitude espera das grandes corporações em relação à crise. "Ela servirá de desculpa para que elas reduzam ou cortem o orçamento dos setores responsáveis por suas áreas ‘verdes’, inclusive demitindo profissionais. Já atravessei cinco recessões, e foi isso o que as empresas fizeram em todas elas", disse o autor de O guia do consumidor verde, livro lançado em 1988, época em que, segundo ele, as pessoas mal conseguiam pronunciar a palavra "sustentabilidade".

A forma como o consultor encara a recessão das maiores economias do mundo é radicalmente diferente da opinião de outros ilustres especialistas que durante a semana participaram da Eco Power Conference, fórum internacional de energias renováveis e sustentabilidade, realizado na capital catarinense. Essa postura mais cautelosa – ou talvez realista – de Elkington se apóia sobre 21 anos de assessoria a grandes corporações, entre elas Coca-Cola, Wal-Mart, Microsoft e Shell. Que, segundo ele, costumam ser pouco flexíveis na hora de alterar suas práticas socioambientais. Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

Longa duração

"Vai demorar de sete a oito anos para que a crise seja superada. Então eu vejo duas escalas de tempo. A primeira dela é a do curto prazo. Por pelo menos dois anos, ela terá um efeito devastador sobre o cidadão e sobre a sustentabilidade nas empresas. Servirá de desculpa para que elas reduzam ou cortem o orçamento dos setores responsáveis por suas áreas ‘verdes’, inclusive demitindo profissionais. Já atravessei cinco recessões, e foi isso o que as empresas fizeram em todas elas. Essas são as más notícias."

Destruição criativa

"As boas notícias virão da segunda escala de tempo. Daqui a três ou cinco anos, devido ao desastre do modelo econômico em que estávamos baseados, líderes empresariais e políticos não saberão muito bem o que fazer. Nesse momento, a oportunidade para um ambiente de mudanças radicais será muito maior. Quando um ciclo econômico começa a acabar, como agora, há a destruição de inúmeros setores e empresas muito conhecidas. No setor financeiro, já vimos o que ocorreu com o banco Lehman Brothers, mas isso se repetirá em vários outros setores. Muitas companhias terão de abandonar seus hábitos de deter grandes reservas de dinheiro. Veremos aquisições e fusões, haverá uma mudança radical no mundo dos negócios."

Solução vem das bordas

"Muitas vezes é preciso um incêndio numa floresta para abrir espaço ao crescimento de novas plantas. Que não esperemos soluções vindas de grandes companhias, mas de empreendedores dos quais nunca ouvimos falar, que vêm das bordas, que poderão aproveitar as oportunidades da desestruturação do sistema. Gente que, naturalmente, não investia seus recursos na antiga ordem econômica. Aliás, é bom lembrar que, historicamente, as mudanças foram provocadas por pessoas que tinham idéias consideradas loucas."

"Infelizmente, estamos rumando para um futuro muito mais instável e insustentável do que aquele que conhecemos. Quando nasci, o mundo tinha 3 bilhões de habitantes, hoje tem 6,5 bilhões, e até 2050 terá 9 bilhões. Se observarmos o que ocorre com nosso clima, com nossos recursos hídricos, isso tudo está prestes a entrar em colapso. Eu acredito, sim, ser possível mudar radicalmente as organizações. Mas só quando elas estão próximas ao colapso."

O repórter viajou a convite da organização do evento.

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