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Mesmo com a atuação do Banco Central no mercado pelo segundo dia consecutivo, o dólar fechou em alta pela quarta sessão consecutiva nesta terça-feira, 7, em dia de forte volatilidade, refletindo as incertezas dos investidores sobre o desenrolar da crise global de crédito e a eficiência das medidas do Banco Central para conter seu impacto nos mercados domésticos. A moeda norte-americana saltou 5,09%, a R$ 2,312, maior patamar de fechamento desde 31 de maio de 2006.

Na última hora de negócios, o Banco Central realizou um leilão de venda de dólares com compromisso de recompra, com prazo de 90 dias. Foram vendidos US$ 700 milhões de um total de US$ 1 bilhão, com taxa máxima de recompra de R$ 2,347465.

No mercado de ações, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) alternou altas e baixas durante quase toda a manhã, refém do movimento das bolsas internacionais, que oscilam ao sabor das notícias sobre medidas para conter a crise no mercado de crédito. Mas no início da tarde, o mercado reforçou o sinal de baixa, seguindo a piora em Nova York.

Às 16h33, o Ibovespa - índice que mede o desempenho das ações mais negociadas na Bolsa - cedia 3,80%, aos 40.500 pontos, mesmo depois de dois circuit breakers ontem, que mantiveram a Bolsa parada por uma hora e meia, tendo registrado no auge do pânico queda de mais de 15%.

Nesta terça, a perda aqui é maior do que a registrada nos Estados Unidos, onde o índice Dow Jones recuava 3,52%, o S&P 500 declinava 3,82% e a Nasdaq se desvalorizava 4%. Na Europa, as bolsas de Londres e Paris fecharam ligeiramente positivas e a de Frankfurt caiu 1,12%.

Segundo especialistas, o que mantém a Bovespa sob pressão maior nesta terça-feira em relação a seus pares no exterior é a queda expressiva dos papéis dos setores de siderurgia e bancos, que aceleraram as perdas a partir do final da manhã.

Entre as siderúrgicas, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) operava em queda de 6,42%; Usiminas PNA -4,13% e Gerdau PN caía 5,03% às 15h09, com os investidores precificando redução da demanda por aço no mercado interno.

A notícia de que a General Motors e a Fiat anunciaram férias coletivas para mais de 10 mil trabalhadores é mais um sintoma evidente de que a demanda vai encolher, disse um operador. Ontem, no entanto, a Anfavea informou que as férias concedidas pelas duas montadoras não têm relação com uma redução importante da demanda no mercado doméstico.

Bancos

O setor financeiro continua sendo muito castigado por conta da contração no mercado de crédito e os efeitos disso na rentabilidade dos bancos. Unibanco units registrava queda de 4,47%; Banco do Brasil ON -6,52%; Itaú PN -11,97% e Bradesco PN -3,33%.

As últimas medidas tomadas pelo Banco Central, com a finalidade de melhorar a liquidez no mercado doméstico plantaram uma desconfiança forte entre os operadores. "Primeiro, o BC libera compulsórios para os bancos grandes que comprarem carteiras de crédito de bancos menores e agora (ontem à noite), sai uma Medida Provisória autorizando o BC a comprar carteiras de crédito de instituições financeiras em dificuldades. Quem o BC está querendo socorrer? O que ele sabe que nós não sabemos", questiona um operador.

Impacto no Brasil

Com o agravamento da crise de confiança, fica cada vez mais nítido o impacto da crise nas empresas brasileiras e é isso que o mercado de ações doméstico vem precificando. A desaceleração da economia global deverá reduzir a demanda por commodities e outros produtos e as perspectivas de lucros das empresas também serão reduzidas. Esse crescimento menor do setor produtivo e, por tabela da economia, neste final de ano e, principalmente, em 2009 está sendo antecipado pelo mercado.

Além disso, o processo de liquidação de ativos brasileiros prossegue, com investidores estrangeiros se desfazendo de ações para fazer caixa.

A Bovespa não vai melhorar enquanto o foco do noticiário estiver em cima do sistema financeiro europeu e norte-americano, pois o medo de que mais bancos sucumbam à crise financeira continuará assombrando os investidores e a volatilidade estará sempre presente.

Esse sobe-e-desce da Bovespa hoje reflete um mercado de giro muito curto. Os investidores estão operando no curtíssimo prazo, não dá para apostar para frente, dizem os operadores. "O mercado está extremamente imediatista. Deu um pouquinho de margem, já realiza lucro logo. Não dá para esperar", pondera uma fonte.

Nas condições atuais de mercado, dada a velocidade dos acontecimentos, uma operação day trade (durante um dia) parece uma eternidade. Talvez o mais apropriado nesses tempos de turbulência fosse falar em "second trade".

Cenário externo

Nos EUA, a reação positiva ensaiada pelo mercado inicialmente após os esforços do Federal Reserve para destravar o mercado de crédito corporativo durou pouco e as bolsas voltaram a ser pressionadas novamente pelo setor financeiro. A ação coordenada de alguns bancos centrais também não fez muito preço.

Hoje, os bancos centrais europeu, inglês, japonês, do Canadá e da Suíça em coordenação com o Fed anunciaram que irão expandir a liquidez em dólares durante o quarto trimestre do ano. Alguns bancos como o Banco Central Europeu (BCE), o BC inglês e o BC do Japão já informaram detalhes das previstas operações a termo. O BOJ anunciou que oferecerá US$ 70 bilhões por meio de três leilões adicionais a termo em dezembro.

Na Europa, os governos estão adotando medidas para evitar a quebra de instituições financeiras. A França anunciou que vai garantir em 100% os depósitos feitos nas instituições do país. A Espanha vai criar um novo fundo de 30 bilhões de euros (US$ 41 bilhões) para dar suporte aos empréstimos bancários e elevar o nível de garantia dos depósitos bancários para 100 mil euros por correntista.

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