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Alexandre Tombini (Banco Central), Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento): taxa básica de juros subiu de 11% para 13,75% em sete meses. | Ueslei Marcelino/Reuters
Alexandre Tombini (Banco Central), Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento): taxa básica de juros subiu de 11% para 13,75% em sete meses.| Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Depois de seis altas seguidas, a taxa básica de juros alcançou na semana passada o maior nível desde o fim de 2008. E a maioria dos bancos e consultorias acredita que o Banco Central vai prosseguir com o aperto, levando a Selic além dos atuais 13,75% ao ano. Mas, para um número crescente de economistas, essa firmeza no combate à inflação – que contrasta com a condescendência do primeiro mandato de Dilma Rousseff – pode estar passando da conta.

“Não subir a taxa Selic agora é prolongar o sacrifício”

Embora reconheçam os efeitos colaterais da alta da Selic, muitos economistas defendem que o aperto continue. Pesa a favor dessa avaliação o fato de que a tolerância à alta de preços no primeiro mandato de Dilma Rousseff manteve a inflação alta por mais tempo e não resultou em crescimento econômico digno de nota.

“Subir os juros é sempre ruim. Afeta os mais pobres, tira dinheiro de quem está devendo. Mas, sempre que é preciso fazer um sacrifício, deve-se escolher o menor. E não subir a taxa agora é prolongar o sacrifício”, avalia Roberto Troster, que foi economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Para Lucas Dezordi, coordenador do curso de Economia da Universidade Positivo, a Selic precisa chegar a pelo menos 14% ao ano. “É muito preocupante continuar com uma inflação em 8%, que rapidamente pode virar uma taxa de dois dígitos, contando com a ajuda da inércia inflacionária”, diz. “Inflação tem que ficar na rédea curta.” (FJ)

Primeiro, porque o resultado é incerto. Mesmo que o juro chegue à casa dos 14%, muitos duvidam que o IPCA possa voltar à meta de 4,5% no ano que vem, conforme espera o BC – a última vez que o índice esteve nesse patamar foi em agosto de 2010. Segundo, porque a “pressa” em baixar a inflação pode estar impondo um sacrifício exagerado à já deprimida economia brasileira, com risco de estender a recessão para 2016.

Antes da última alta da Selic, economistas de bancos como o Bradesco e o Fator haviam defendido o fim da subida. Na quinta-feira (4), a consultoria britânica Capital Economics afirmou que se aproxima o momento em que os benefícios de novos aumentos da taxa serão menores que seus custos em termos de atividade econômica. Isso para não falar das contas públicas: o encarecimento da dívida vai consumir boa parte do dinheiro economizado com o ajuste fiscal.

Sem âncora

Desde a eleição presidencial, a Selic subiu de 11% para 13,75% ao ano. De lá para cá, o país entrou em recessão e o desemprego subiu de 6,8% para 8%. Todos os indicadores apontam para queda na demanda.

“esquizofrenia”

Há quem defenda que a inflação, hoje acima de 8% ao ano, possa se aproximar da meta em 2016, mas que o Banco Central se força a exagerar na dose dos juros para tentar dobrar a desconfiança do mercado financeiro. É o caso de Luiz Carlos Mendonça de Barros, que presidiu o BNDES durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Em entrevista ao Valor Econômico na sexta-feira (5), ele disse que a luta do BC contra a “esquizofrenia” do mercado pode “aprofundar demais” o ajuste provocado pelos juros.

Mesmo assim, bancos e consultorias mantêm a aposta na inflação. A expectativa média para o IPCA em 2015, que era de 6,29% em setembro, agora está em 8,34%. E a perspectiva para 2016, antes em 5,5%, chegou a subir para 5,7% e semanas atrás retornou a 5,5% – um ponto acima do centro da meta, portanto. “Se o objetivo é ancorar as expectativas do mercado, o efeito da Selic tem sido muito lento, muito pequeno. Estamos pagando um preço alto pelo fato de a política monetária não ter sido bem calibrada lá atrás, quando o Banco Central baixou os juros mesmo com a inflação acima da meta”, diz Waldery Rodrigues Junior, professor do Ibmec/DF.

Credibilidade

“O Banco Central está atuando mais para tentar resgatar sua credibilidade junto aos agentes econômicos, porque no momento não há inflação de demanda a se combater”, avalia Pedro Jucá Maciel, assessor de assuntos econômicos do Senado.

Ele observa que, como a economia brasileira ainda é muito indexada, a inflação tem uma persistência muito grande. Muitos contratos são corrigidos por índices de preços, o que torna difícil a tarefa de baixar o IPCA de mais de 8% para menos de 5% de um ano para o outro. “Não é a circunstância ideal para tentar uma convergência rápida para o centro da meta”, diz.

O efeito de prolongar a alta dos juros pode ser muito perverso para o futuro da economia. Uma alteração na Selic demora de dois a três trimestres para chegar à atividade. Ou seja, estamos sentindo agora os impactos das altas de dois ou três trimestres atrás, e ainda sentiremos os efeitos dos aumentos mais recentes.

Pedro Jucá Maciel assessor de assuntos econômicos do Senado.

Para o economista Pedro Paulo Silveira, da TOV Corretora, “no mundo real a credibilidade buscada pelo Banco Central não serve para absolutamente nada” e a alta dos juros agora “não é apenas desnecessária, como nociva”. “No momento em que há um esforço fiscal para baixar a relação entre a dívida pública e o PIB, o que fica mais difícil com a recessão, o Banco Central aumenta o custo da dívida exorbitantemente e joga ainda mais para baixo o PIB, piorando ainda mais essa relação”, aponta.

Quase 70% da inflação dos últimos 12 meses é resultado da seca, com efeitos sobre alimentos e energia elétrica, e da desvalorização cambial. Faria sentido que o Banco Central atuasse para esfriar a economia e evitar que esses choques se propagassem para outros produtos e serviços. Ocorre que a economia brasileira já está hiperfria.

Pedro Paulo Silveira economista da TOV Corretora.

Mercado subestimou a inflação nos últimos 5 anos

A expectativa do mercado financeiro é que a inflação anual chegue a 5,5% em dezembro de 2016, segundo a pesquisa Focus divulgada na semana passada pelo Banco Central. Mas há que se considerar que os economistas das instituições financeiras consultadas pelo BC costumam errar feio em previsões feitas com tamanha antecedência.

Nos últimos cinco anos eles erraram sempre “para menos” a projeção do IPCA. Em meados de 2013, por exemplo, a aposta média era de que a inflação fecharia 2014 em 5,8%, mas o índice efetivo foi de 6,41%. A maior diferença ocorreu na previsão para 2011: os economistas esperavam 4,8%, mas o IPCA chegou a 6,5%.

Esse padrão de erro pode sugerir que a inflação de 2016 ficará acima de 5,5%. No entanto, cabe observar que, na última vez em que a economia teve recessão anual, em 2009, o mercado errou a projeção do IPCA “para mais”. A expectativa média era de um IPCA de 4,6%, mas o índice fechou o ano em 4,31%.

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