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Difícil imaginar o que se passa agora pela cabeça do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Nos últimos quatro anos o BC passou por momentos de grande pressão do governo federal, em que personalidades como o vice-presidente, José Alencar, o ministro Luiz Fernando Furlan e até o presidente Lula pediram uma redução nas taxas de juros. Em nenhuma outra situação, no entanto, a petição foi apresentada de forma tão incisiva quanto na segunda feira. Dita em tom bem-humorado, a frase de Guido Mantega – "o mercado está esperando uma redução da Selic, viu Meirelles?" – soou como uma imposição de chefe.

Na hierarquia federal, no entanto, o presidente do BC não responde a pasta alguma. É indicado pelo presidente e precisa ser aprovado pelo Congresso. Na administração Lula, alcançou status de ministro. Como agirá o goiano Meirelles, que sempre suportou com fleuma palpites sobre sua atuação e fez mais com ações do que com palavras sua defesa de um BC autônomo?

A decisão de hoje pode ser difícil. A lógica da economia e das últimas reuniões leva a crer que teremos um novo corte, talvez de 0,25% ou 0,5%. Se reduzir mais a Selic, Meirelles e os diretores do BC que compõem o comitê podem dar a impressão de estarem agindo sob o comando do governo federal.

Mas Mantega colocou o Copom numa sinuca. Se mantiver a Selic, estarão impedindo o crescimento que o país anseia. Mas se cortar fundo, o ato pode ser interpretado como subserviência, o que será mal visto pelo mercado, que considera um BC independente uma garantia de que desvarios do passado – congelamentos, tablitas, choques heterodoxos, bandas endógenas e outras invenções brasileiras – não se repetirão. Certamente os membros do comitê se sentirão tentados a frustrar essa expectativa, mesmo que para isso tenham de ir contra a unanimidade dos brasileiros (e contra eles próprios, já que o Copom vinha apresentando decisões divididas em encontros passados). Portanto, se os juros não caírem hoje, talvez a culpa seja do ministro Mantega.

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