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Brian Moto: jogos e recursos visuais quando jovens para melhorar a aposentadoria. | TONY NOVAK-CLIFFORD/NYT
Brian Moto: jogos e recursos visuais quando jovens para melhorar a aposentadoria.| Foto: TONY NOVAK-CLIFFORD/NYT

Quando Gabi Stack pensa em como será sua vida aos 75 anos, se imagina mudando para a Alemanha, viajando muito e passando muito tempo em cafés com amigos. Por isso, ficou chocada quando viu uma foto sua com aparência “envelhecida” que nada combinava com a pessoa ativa e independente que idealizara. Observando as rugas extras e o rosto mais “cheinho” da imagem digitalizada, diz: “Espero não ficar assim, mas isso só vou descobrir em 20 anos.”

A foto foi feita em uma feira de benefícios para trabalhadores em Maui, no Havaí, pelo aplicativo de celular AgingBooth. O objetivo era fazer com que trabalhadores se conscientizassem e pensassem mais concretamente sobre o envelhecimento, incentivando o planejamento financeiro.

Gabi, hoje com 55 anos, é coordenadora de saúde mental no Havaí e topou a brincadeira proposta pelo administrador de seu plano de previdência, a Prudential Financial. Ela achou divertido tirar a foto apesar do espanto, reação, aliás, esperada por muitos empregadores e empresas de planos de previdência — usando fotos envelhecidas, jogos e testes — para esclarecer e convencer as pessoas a se planejarem para a aposentadoria, tarefa abominada em escala quase global.

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Ainda sobre o AgingBooth, Brian Moto, presidente do Conselho de Plano de Compensação Diferido do Havaí e um dos organizadores da feira, comenta que “pode ser incômodo, mas também útil, até para quem só vê de longe. Alguns, como eu, não gostariam de ver a própria imagem envelhecida. Para algumas pessoas, envelhecer é coisa séria, não é fácil aceitar nem lidar com isso, mas, pelo menos, estamos dando a elas uma chance para parar e pensar.”

Aplicativo simula aparência das pessoas daqui a muitos anos.ANNA KIM/NYT

Jogos da vida

Há empresas que têm mais sucesso na abordagem com jogos e testes em vez de folhetos e brochuras tradicionais. Pensando nisso, a provedora de investimentos e previdência privada, TIAA, criou uma competição entre seus clientes, que foi adotada por mais de sete mil empresas oferecendo seus planos pelo país.

De acordo com a TIAA, um jogo em particular parece ter motivado a competitividade de homens e millennials, que acessaram, respectivamente, 40% e 50% mais vezes o ranking do que outros grupos demográficos. Os millennials, além disso, mostraram mais interesse nos jogos do que funcionários mais velhos. Um caso mostrou que os empregados entre 24 e 34 anos estavam entre os usuários mais reincidentes, registrando oito testes por jogador.

Stephanie Maksymiw, 37 anos, analista de sistemas na SRC Inc., empresa de tecnologia militar sem fins lucrativos baseada em Siracusa, Nova York, está entre os jogadores mais ávidos. Uma das primeiras a fazer o teste da TIAA, logo entendeu a diferença entre ações da Bolsa e tesouro direto, e estava confiante de que poderia gabaritar as questões de finanças na competição online da empresa. No entanto, no primeiro teste, os resultados revelaram grandes lacunas de conceitos, como bull market e bear market (que indicam quando o mercado está otimista — bull — ou pessimista — bear). Determinada a melhorar a pontuação, Stephanie jogou ininterruptamente por três semanas até atingir uma colocação “acima da média” em relação aos colegas. “Quando acompanhávamos o ranking no placar público da TIAA, o nível de competitividade entre nós era enorme”, lembra Maksymiw.

A SRC é apenas uma entre milhares de empresas que usam jogos online para conscientizar funcionários sobre dinheiro e aposentadoria. A Prudential desenvolveu o Teste do Procrastinador para identificar por que as pessoas adiam decisões importantes sobre investimentos e aposentadoria. A Voya Financial, antiga ING, oferece testes, ferramentas e informações sobre planejamento previdenciário em um jogo de tabuleiro virtual em que um “jogador” vai avançando casas. Moto deu outro exemplo de exercício de visualização no qual os visitantes da feira precisavam anotar a idade da pessoa mais velha que conheciam em um grande painel vertical para enfatizar a importância de se planejar para uma vida longeva.

As apostas desses esforços são altas. Um estudo publicado em maio pelo Conselho de Governadores do Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) mostrou que menos de dois quintos dos americanos adultos em atividade estão com as economias em ordem, contra um quarto sem nenhum tipo de poupança ou plano de pensão.

Controvérsias

Apesar do aparente interesse de investidores e empresas em jogos, algumas pesquisas levantam dúvidas sobre o benefício para a educação financeira no longo prazo. Um estudo conduzido por Shawn Cole, da Escola de Administração de Harvard; Anna Paulson, do Fed de Chicago; e Gauri Kartini Shastry, da Faculdade Wellesley, concluiu que cursos obrigatórios de educação financeira não foram eficazes em fazer novos poupadores e investidores.

Dan Ariely, professor de Psicologia e Economia Comportamental na Universidade Duke, afirma: “O que me preocupa é as pessoas acharem que informação é tudo. Informação sozinha, raramente, ajuda.”

Outras organizações, como a Commonwealth, instituição sem fins lucrativos baseada em Boston, propõem preencher o vazio entre pensar e fazer. Patrocinada pelo Departamento do Tesouro dos EUA, testou o aplicativo Ramp It Up para alunos de baixa renda do ensino médio. No jogo, para avançar, é preciso concluir etapas preparatórias tanto para a vida acadêmica quanto profissional, como conseguir financiamento estudantil ou uma bolsa de estudos.

Maksymiw diz que os jogos a incentivaram a dobrar sua contribuição no plano de previdência privada da empresa e verificar os balanços trimestrais. Até então, o pai era responsável por gerenciar quase todas as suas economias e investimentos. “Ele faz isso desde antes de eu nascer, mas, agora, meu objetivo é tomar mais decisões a respeito do dinheiro não investido no plano de previdência”, diz ela.

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Preconceitos enraizados contra o envelhecimento são alguns dos maiores obstáculos para planos de aposentadoria, segundo Tamara Sims, pesquisadora do Centro de Longevidade de Stanford. Em seu último estudo, em parceria com a professora de Psicologia de Stanford, Jeanne Tsai, foi demonstrado que pessoas que dão mais atenção ao que têm a perder relutam mais em pensar no futuro e planejá-lo. Ao serem perguntados sobre “quais os maiores anseios para quando atingir 75 anos ou mais” e “quais os maiores medos”, os mais pessimistas mencionaram limitações físicas e cognitivas, enquanto os que viam o lado bom de envelhecer deram ênfase a ter um estilo de vida melhor, com conexões sociais, convívio familiar, contato com a natureza e lazer.

Tamara explica: “O ‘eu’ do futuro é um conceito abstrato. Mesmo um exercício simples, em que você precise descrever como pretende cuidar de sua versão envelhecida, ajuda as pessoas a ter mais clareza do futuro, o que incentiva planos de aposentadoria, tirando o foco da discussão das desvantagens do envelhecimento, encarando-o não mais como algo assustador, mas sim como algo a almejar.”

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