Diferentes indicadores mostram que a economia brasileira está aquecida. O mais consolidado deles teve os números mais recentes divulgados nesta terça-feira (3): segundo o IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,4% no segundo trimestre, em relação ao primeiro, acima das expectativas do mercado. Os reflexos desse crescimento, porém, são sentidos de forma desigual nos diferentes estados e regiões do país.
O IBGE vai demorar a divulgar os números regionais, mas o Banco Central tem um indicador próprio de atividade econômica que ajuda a indicar os rumos da economia em cada local.
Segundo esse indicador, a atividade econômica no país todo cresceu 1,1% no segundo trimestre em comparação com o primeiro. Dentre as regiões, o melhor desempenho foi registrado no Centro-Oeste, com uma expansão de 2% na atividade econômica no segundo trimestre em relação ao primeiro. O Sudeste cresceu 1,3%.
A atividade econômica no Sul cresceu somente 0,8%, afetada pelos impactos das chuvas no Rio Grande do Sul entre o final de abril e o início de maio, que levaram a uma contração de 2,1% no estado, a segunda pior do país. Em contraste, Paraná (3%) e Santa Catarina (2,9%) foram dois dos três estados em que a atividade mais cresceu no Brasil durante o período.
O Nordeste apresentou o pior desempenho, com um crescimento de apenas 0,5% na atividade econômica. No entanto, as três principais economias estaduais da região (Bahia, Ceará e Pernambuco) tiveram desempenho superior, com crescimento entre 1,5% e 2,2%.
Variação da atividade econômica por estados (2.º trimestre em relação ao 1.º trimestre):
- Pará: 4,8%
- Paraná: 3,0%
- Santa Catarina: 2,9%
- Espírito Santo: 2,5%
- Pernambuco: 2,2%
- São Paulo: 1,9%
- Ceará: 1,7%
- Minas Gerais: 1,5%
- Bahia: 1,5%
- Goiás: -0,9%
- Rio de Janeiro: -0,5%
- Rio Grande do Sul: -2,1%
- Amazonas: -2,6%
Fonte: BC
Variação da atividade econômica por regiões (2.º trimestre em relação ao 1.º trimestre):
- Centro-Oeste: 2,0%
- Sudeste: 1,3%
- Norte: 0,9%
- Sul: 0,8%
- Nordeste: 0,5%
Fonte: BC
Economia aquecida se reflete no mercado de trabalho
Os efeitos da economia aquecida são observados no mercado de trabalho. Entre janeiro e julho, o país gerou 1,49 milhão de postos de trabalho com carteira assinada, 27% mais que no mesmo intervalo de 2023, segundo o Ministério do Trabalho.
Em julho, havia 47 milhões de pessoas empregadas formalmente, o maior número da série histórica iniciada em janeiro de 2020. O salário médio de admissão em junho foi de R$ 2.132,82, o mais alto em São Paulo (R$ 2.428,77) e o mais baixo no Amapá (R$ 1.654,78).
Salário médio de admissão por regiões (junho):
- Sudeste: R$ 2.227,58
- Sul: R$ 2.100,83
- Centro-Oeste: R$ 1.973,20
- Norte: R$ 1.861,07
- Nordeste: R$ 1.825,71
Fonte: MTE
Um estudo do banco Daycoval destaca que tanto em economias avançadas quanto em emergentes, o mercado de trabalho tem apresentado baixas taxas de desemprego, alta demanda por trabalhadores e aumentos salariais devido ao maior poder de negociação.
"Em setores como comércio, serviços de alojamento e alimentação, parece haver um excesso de mão de obra absorvido, sugerindo uma falta de trabalhadores disponíveis. Enquanto isso, setores especializados, como informação, comunicação, finanças e indústria, ainda não enfrentam escassez, mas mostram uma demanda aquecida", informa o documento.
Esse aquecimento na demanda por trabalhadores está afetando as negociações salariais. De janeiro a julho, a mediana dos reajustes salariais foi de 5%, de acordo com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). O INPC – indicador usado nas negociações entre empresas e sindicatos de trabalhadores e que mede a inflação para famílias com renda de até cinco salários mínimos – foi de 2,95% no período.
Segundo a fundação, 87,4% dos reajustes negociados em 2024 asseguraram ganhos salariais reais, especialmente em regiões com maior aquecimento da atividade econômica, como Sudeste e Centro-Oeste. Entre os setores que se destacam estão a construção civil (1,7% de ganho real) e serviços (1,3%).
Reajuste real mediano por regiões (janeiro a julho):
- Sudeste: 1,6%
- Centro-Oeste: 1,3%
- Norte: 1,3%
- Sul: 1,3%
- Nordeste: 1,1%
Fonte: Salariômetro/Fipe
Desemprego nos estados varia de 3,2% a 11,5%
Outro indicador do aquecimento econômico é a taxa de desemprego entre maiores de 14 anos. Dados do IBGE mostram que, em junho, a taxa era de 6,9%, a menor desde janeiro de 2015. A população ocupada chegou a 101,8 milhões, um aumento de 3% no ano.
“Observa-se a manutenção de resultados positivos e sucessivos. Esses recordes de população ocupada não foram impulsionados apenas neste trimestre, mas são consequência do efeito cumulativo de uma melhoria do mercado de trabalho nos últimos trimestres”, destaca Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE.
A desocupação no segundo trimestre caiu em 15 das 27 unidades da federação. Nas demais, não houve variação estatística significativa. “Nenhum estado apresentou aumento na taxa em comparação com o primeiro trimestre de 2024”, diz Beringuy.
As maiores retrações foram registradas em estados do Nordeste. Dois destaques: no Piauí, passou de 10% no primeiro trimestre para 7,6%. Na Bahia, caiu de 14% para 11,1% – no entanto, esse estado ocupa a penúltima posição do ranking.
Apesar da melhora geral, esse indicador mostra grande variação nos diferentes "Brasis". Há estados com taxa de desemprego na casa dos 3%, enquanto em outros o índice supera os 11%.
Taxa de desemprego por estados (2.º trimestre):
- Santa Catarina: 3,2%
- Mato Grosso: 3,3%
- Rondônia: 3,3%
- Mato Grosso do Sul: 3,8%
- Tocantins: 4,3%
- Paraná: 4,4%
- Espírito Santo: 4,5%
- Goiás: 5,2%
- Minas Gerais: 5,3%
- Rio Grande do Sul: 5,9%
- São Paulo: 6,4%
- Roraima: 7,1%
- Acre: 7,2%
- Maranhão: 7,3%
- Pará: 7,4%
- Ceará: 7,5%
- Piauí: 7,6%
- Amazonas: 7,9%
- Alagoas: 8,1%
- Paraíba: 8,6%
- Amapá: 9,0%
- Sergipe: 9,1%
- Rio Grande do Norte: 9,1%
- Rio de Janeiro: 9,6%
- Distrito Federal: 9,7%
- Bahia: 11,1%
- Pernambuco: 11,5%
Fonte: IBGE
Apesar de Rondônia ter a terceira menor taxa de desemprego (3,3%), o mercado de trabalho local enfrenta desafios. A participação dos maiores de 14 anos na força de trabalho é baixa, mesmo para os padrões da região Norte: 58,9% no segundo trimestre de 2024. Na região, a taxa é de 60% e, no país, 62,1%.
Taxa de participação na força de trabalho por estados (2.º trimestre):
- Mato Grosso: 70%
- Santa Catarina: 68,5%
- Distrito Federal: 68,4%
- Goiás: 67,8%
- São Paulo: 66,5%
- Mato Grosso do Sul: 66%
- Rio Grande do Sul: 65,3%
- Paraná: 65,3%
- Minas Gerais: 65,2%
- Espírito Santo: 64,7%
- Roraima: 64,4%
- Tocantins: 62,7%
- Rio de Janeiro: 61,5%
- Amapá: 61,1%
- Pará: 60,3%
- Amazonas: 59,9%
- Rondônia: 58,9%
- Sergipe: 58,6%
- Bahia: 56,6%
- Pernambuco: 54,4%
- Paraíba: 53,9%
- Rio Grande do Norte: 53,9%
- Piauí: 53,7%
- Alagoas: 52%
- Ceará: 51,7%
- Acre: 50,9%
- Maranhão: 50,5%
Fonte: IBGE
A informalidade continua sendo um desafio significativo no Norte e no Nordeste do Brasil. Ela abrange empregados no setor privado e domésticos sem carteira assinada, empregadores e trabalhadores por conta própria sem registro no CNPJ, além de trabalhadores familiares auxiliares.
Um desafio adicional em Rondônia é que a taxa seguiu uma tendência contrária à observada no restante do país em 2024. A proporção de trabalhadores informais na população ocupada aumentou de 44,5% para 45% entre os dois primeiros trimestres do ano. Em contraste, no país houve uma leve redução, passando de 38,9% para 38,6%.
Os maiores índices de informalidade estão concentrados nas regiões Norte e Nordeste, com as 14 primeiras posições pertencentes a esses estados. O Pará lidera com 55,9% de informalidade, enquanto Santa Catarina apresenta a menor taxa, com 27,1%.
"As regiões Norte e Nordeste possuem taxas de informalidade superiores à média nacional. Isso ocorre devido à maior presença de trabalhadores por conta própria sem registro no CNPJ e, mesmo entre os empregados, uma menor cobertura pela carteira assinada", explicou a coordenadora do IBGE.
Taxa de Informalidade por estados (2.º trimestre de 2024)
- Pará: 55,9%
- Maranhão: 55,7%
- Piauí: 54,6%
- Ceará: 53%
- Amazonas: 52,2%
- Paraíba: 50,3%
- Pernambuco: 49,9%
- Bahia: 49,4%
- Sergipe: 49,2%
- Roraima: 47,4%
- Acre: 46%
- Alagoas: 45,9%
- Amapá: 45,5%
- Rondônia: 45%
- Tocantins: 43,9%
- Rio Grande do Norte: 41,3%
- Espírito Santo: 39,4%
- Rio de Janeiro: 37,9%
- Minas Gerais: 36,6%
- Goiás: 35,1%
- Mato Grosso: 33,7%
- Rio Grande do Sul: 32,5%
- Paraná: 32%
- Mato Grosso do Sul: 31,8%
- São Paulo: 31,2%
- Distrito Federal: 29,8%
- Santa Catarina: 27,1%
Fonte: IBGE
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