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A indústria de transformação nacional é um dos setores que deve sofrer os efeitos da Covid-19.
A indústria de transformação nacional é um dos setores que deve sofrer os efeitos da Covid-19.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

A pandemia do novo coronavírus vem causando sucessivas quedas nas bolsas de valores pelo mundo, e deve provocar um tombo no crescimento econômico do planeta em 2020. No Brasil, os choques de oferta e demanda provocados pela disseminação da doença provavelmente irão frear a retomada da economia – frustrando a expectativa de que, após o tímido crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do ano passado, a atividade econômica demonstre mais vigor em 2020.

O diagnóstico é da Instituição Fiscal Independente (IFI), no Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF) nº 38, divulgado nesta semana. No documento, a IFI aponta que, dependendo da extensão dos choques e das medidas de política econômica adotada pelos países, pode haver aumento do desemprego.

"No caso brasileiro, isso seria muito preocupante, dada a existência de um contingente de desocupados relativamente elevado, em torno de 12 milhões de pessoas, sem levar em consideração a parcela da população que está subempregada e os desalentados", diz o relatório.

A fuga de investimentos do Brasil e a crescente valorização do dólar já são sinais de que o mercado tem a mesma avaliação da IFI. No RAF divulgado em meio ao pânico causado pelo novo coronavírus, a Instituição aponta os principais vetores que fazem a crise da Covid-19 minar a recuperação da economia brasileira em 2020. Veja a lista:

1. Redução das exportações e queda dos preços de commodities

O relatório destaca que especialmente as commodities metálicas, utilizadas em processos manufatureiros e no setor de construção civil, devem sofrer com a desaceleração da economia mundial. Esse cenário é preocupante para o Brasil, já que esse tipo de produto é parte importante das exportações brasileiras.

Dados do Ministério da Economia mostram que o minério de ferro e seus concentrados – parte do grupo de commodities metálicas mencionado pela IFI – responderam por 11% das exportações brasileiras em janeiro e fevereiro de 2020 (US$ 3,3 bilhões). Eles perderam, apenas, para os óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos (12% ou US$ 3,8 bilhões).

Além disso, os dados apontam que China e Estados Unidos, ambos significativamente afetados pela Covid-19, estão entre os principais importadores de produtos brasileiros (US$ 8,2 bilhões e US$ 3,3 bilhões em janeiro e fevereiro de 2020, respectivamente) – o que também deve ter repercussões na balança comercial do país.

A IFI diz, ainda, que a redução da demanda internacional por esse tipo de commodity deve afetar a produção da indústria extrativa nacional. "Como decorrência da queda na demanda mundial por commodities, os preços desses itens tendem a sofrer forte redução, o que geraria impacto sobre os termos de troca e, consequentemente, o nível de renda da economia doméstica", aponta o relatório.

2. Restrição das importações de bens intermediários

O novo coronavírus também está afetando a produção da indústria brasileira em outros setores, já que boa parte dos insumos – os bens intermediários – para a produção de eletroeletrônicos, veículos, maquinas e equipamentos e para a indústria farmacêutica vêm da China. Assim, a restrição a importações tende, segundo a IFI, a afetar a indústria de transformação nacional, "piorando um quadro já deteriorado para o setor".

3. Fuga de capitais e volatilidade dos ativos financeiros

O terceiro efeito negativo da pandemia do novo coronavírus já estava sendo visto no Brasil mesmo antes de a doença chegar, de fato, ao país. Isso porque, em contextos de incerteza, os investidores tendem a deixar seus recursos em ativos considerados mais seguros, como países e moedas com resultados mais sólidos. O Brasil, ao contrário, é classificado como volátil e cercado de incertezas, o que provoca o chamado flight to quality, ou a fuga de capitais.

A IFI salienta que esse processo tende a se traduzir em fortes depreciações cambiais, como a que está acontecendo com o real em relação ao dólar.

4. Queda na arrecadação de royalties e participações

Por fim, com a redução da demanda no mundo todo, incluindo com menos deslocamentos entre as regiões, o preço do petróleo tende a despencar. O cenário está ainda mais complexo em razão da guerra de preços entre Arábia Saudita e Rússia, que baixou ainda mais o valor do barril na semana passada.

O relatório da IFI explica que royalties e participações de estados, municípios e da União dependem da cotação internacional do petróleo – e, por isso, a queda no valor do óleo deve afetar diretamente as contas públicas. Nos estados, a baixa do petróleo também diminui a arrecadação com o ICMS.

"O impacto da redução dessas receitas para os cofres da União e dos estados pode ser significativo, a depender da duração do período de menor cotação do petróleo no mercado internacional", aponta o documento.

Por outro lado, país deve ter inflação menor e juros mais baixos

Em meio ao que o relatório classifica como "uma avalanche de fatos negativos", ao menos dois fatores servem de consolo. O primeiro deles é a queda da inflação, tendência que deve se intensificar em decorrência da redução na demanda. A IFI aponta que, antes mesmo de a crise do novo coronavírus se tornar mais aguda no Brasil, o IPCA já estava com resultados mais baixos. O índice registrou sua menor alta para um mês de fevereiro desde 2000 (0,25%).

"Os núcleos de inflação, índices calculados pelo Banco Central que expurgam o efeito de itens mais voláteis, apresentam tendência favorável", diz o documento.

Esse comportamento do índice de inflação, aponta o relatório, abre espaço para que o BC reduza a taxa básica de juros (Selic), com o objetivo de "estimular a demanda e impedir a desaceleração mais acentuada do PIB".

Nesta quarta-feira (18), o Comitê de Política Econômica do Banco Central promoveu novo corte na Selic. A redução é de 0,5 ponto porcentual, levando a Selic de 4,25% para 3,75% ao ano, o menor patamar da história.

"O benefício colateral seria a redução do custo médio da dívida pública, que já diminuiu expressivamente nos últimos anos, com queda dessa importante despesa pública", diz a IFI.

A Instituição, entretanto, faz uma ressalva. "Cabe ressaltar que a mera redução dos juros não resulta em respostas diretas da atividade econômica, pois depende ainda da confiança dos agentes, da previsibilidade a respeito das ações a serem tomadas no campo fiscal, do ambiente de negócios e do quadro internacional", conclui.

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