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Emprego
Após um 2021 de queda na desocupação, o emprego deve ter ano de avanços fracos, segurado pelo PIB e incertezas eleitorais.| Foto: Tânia Rêgo /Agência Brasil

O ano de 2021 foi de reação no mercado de trabalho brasileiro, com queda de desocupação que, entretanto, não deve se sustentar nos mesmos patamares ao longo de 2022. A avaliação é de economistas ouvidos pela Gazeta do Povo com base no cenário esperado para os próximos meses, que soma perda de dinamismo da atividade econômica e incertezas típicas dos períodos eleitorais.

Os números consolidados do IBGE, que remontam a outubro de 2021, demonstram taxa de desemprego de 12,1%, ou 12,9 milhões de brasileiros em busca de ocupação, após um 2020 encerrado ao redor de 14,5%. Aquela divulgação entra numa esteira de sete quedas consecutivas da taxa observada pela PNAD Contínua. Excetuado o primeiro trimestre de 2021, que encerrou com alta - para 14,9% - o mês a mês a partir de abril teve taxa de desemprego em queda até os 12,1% em outubro.

Na avaliação da XP, trata-se de uma recuperação consistente do nível de emprego - mesmo que gradual -, resultado da reabertura econômica (após restrições motivadas pela crise sanitária) e que ainda pode avançar apesar dos “freios” esperados.

A projeção da consultoria para a taxa de desemprego ao final de 2021 é de 11,8% e acredita-se na possibilidade de que o país retorne a patamares pré-pandemia ao longo dos próximos meses, afirma Rodolfo Margato, economista da XP. A desocupação em dezembro de 2019, anterior à chegada do coronavírus ao Brasil, era de 11,1%.

“Por um lado, em termos de nível de emprego, alguns setores ainda estão se beneficiando do aumento da mobilidade, da reabertura econômica. Aqui o maior destaque sem dúvida é o setor de serviços, especialmente os serviços prestados às famílias, atividades turísticas. Ainda vemos espaço para aumento da população empregada nessas atividades, algo que não foi interrompido na virada do ano. Eu diria que o primeiro semestre ainda trará alguns resultados positivos”, avalia

Apesar do cenário de retomada, Margato destaca que a taxa de desocupação segue elevada, impedindo que esse quadro signifique aumento nos níveis de renda média – a menor desde 2012 e em trajetória de queda desde meados de 2021. Aqui, entram na equação a inflação (que achata o poder de compra dos salários) e o chamado efeito composição (que derruba a renda média da população à medida que os trabalhadores informais - pior remunerados - voltam à ativa).

Economia lenta, emprego lento

Principal elemento no que, se espera, será freio puxado na recuperação do emprego em 2022 é um enfraquecimento da atividade local, impactada pelos efeitos defasados (e ainda vindouros) da alta de juros. “A Selic que fechou o ano passado a 9,25% e nas nossas contas chega a 11,5% em março. Haverá impacto significativo desse aperto de política monetária no segundo semestre” afirma.

Como termômetro, Margato indica o PIB, com dinâmicas distintas entre os semestres. “Resume bem a nossa visão: com crescimento no primeiro trimestre do ano, desempenho em torno de zero no segundo tri e quedas no terceiro e quarto trimestres. Então, o enfraquecimento da economia doméstica a partir do segundo tri – nas nossas contas – acaba batendo nas principais condições do mercado de trabalho, diminuem o ímpeto das contratações por parte dos empresários e mantém o nível de renda (real, sobretudo) bastante baixo”, completa.

A perspectiva, portanto, é que os números da população ocupada “andem de lado” no segundo semestre de 2022, com “desempenho mais tímido, talvez alguns meses até de recuo”, prevê. O economista da XP inclui nesta conta também o fato de que muitos setores intensivos em mão de obra (como a construção civil) fizeram contratações de forma expressiva em 2021, com perda de fôlego em 2022.

“Força de trabalho deve ditar o ritmo da taxa de desemprego”

Em retrospecto, o economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso, faz boa avaliação dos números do emprego em 2021, melhores do que o esperado, segundo ele, ainda que o qualitativo não seja dos melhores. “É natural na saída de recessão. Você primeiro começa empregando temporariamente, tem uma entrada mais lenta, começa pagando menos, os salários são menores, mas a dinâmicas tem vindo. Para 2022 acho que as dúvidas são um pouco maiores”, emenda.

Antevendo os próximos meses, Caruso destaca a influência negativa da atividade econômica mais fraca sobre a recuperação da população ocupada, mas acredita que outro elemento será primordial para ditar a taxa de desemprego: a postura da própria força de trabalho em face do cenário nacional.

O Original estima que o país deve chegar ao final de dezembro de 2022 com desocupação em 10,5%, portanto com continuidade de queda da taxa de desemprego (ainda que de forma lenta, acompanhando um PIB lento), mas Caruso pondera que o índice pode trazer sinais enganosos – como o que ocorre em decorrência das flutuações no desalento, por exemplo.

“Em períodos de grande recessão, por vezes o desemprego não sobe tão rápido quanto deveria porque muita gente simplesmente para de procurar emprego. O inverso também vale: numa melhora do mercado de trabalho e da atividade econômica (como foi em 2021), muitas vezes você tem um desemprego que não melhora tão rápido porque as pessoas, na confiança de que vão conseguir um emprego, passam a procurar mais”, explica.

Para Caruso, ainda será necessário entender essas movimentações durante o ano. “A ponta é para baixo porque a ocupação continuará melhorando, mas a dinâmica da força de trabalho pode ajudar este desemprego a ser um pouco mais cadente. Pode haver uma procura menor por causa da perspectiva de dificuldades de colocação, salários ainda deprimidos. Talvez o desemprego ceda mais rápido, mas não necessariamente por bons motivos”.

Incertezas eleitorais

Outro ponto que pode brecar continuidade mais expressiva da queda no desemprego são as costumeiras incertezas dos anos eleitorais que, para a XP, devem crescer em importância a partir do segundo trimestre.

“Haverá muitas incertezas no campo político, no campo fiscal sobretudo, e elas acabam diminuindo a intenção dos empresários em fazer novas contratações. Esse comportamento de postergação de contratações [é esperado] à medida que as incertezas continuem pairando e os empresários esperem por mais informações para, então, tomarem a decisão de expandir o plantel, a produção”, avalia Margato.

Caruso, do Banco Original, também aponta as dúvidas sobre a condução econômica a partir de 2023, a depender de quem saia vitorioso. “Existindo alguma possibilidade de alternância de poder (e, obviamente, de políticas econômicas) é natural que as pessoas esperem para fazer investimentos. Neste caso, em que aparentemente os números são mais apertados na eleição, isso se exacerba”, diz o economista.

Este contexto vem também atrelado a movimentações provocadas pela pandemia, como a criação de programas federais que visaram evitar demissões, como o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), que permitiu reduções de jornada e salário e suspensão de contratos para evitar cortes de pessoal. “De alguma forma o desemprego está anestesiado, naturalmente vai perder ímpeto em 2022”, conclui.

Pandemia ainda é risco, mas não muda a história do emprego

Ainda que não faça parte do cenário base considerado pelos economistas ouvidos pela Gazeta do Povo, um possível recrudescimento da pandemia de Covid-19 é classificado como risco importante e que precisa ser monitorado dadas as dúvidas relevantes sobre a dinâmica de novas variantes, como a ômicron.

De acordo com Rodolfo Margato, é indubitável que a segunda onda (que levou a fechamentos especialmente entre os meses de fevereiro e março de 2021) prejudicou o mercado de trabalho, com redução nas contratações e aumento no efeito desalento. “Não dá para descartar esse tipo de cenário. [Um novo episódio] poderia atrapalhar e talvez até interromper antes do imaginado essa recuperação do mercado de trabalho. Mas é um fator de risco. Se estivermos corretos, a perda de fôlego do mercado de trabalho se dará mais à frente, por razões macroeconômicas e menos atreladas à saúde pública”, reforça o economista da XP.

Na avaliação de Marcos Caruso, do Banco Original, não se vislumbram fechamentos ou restrições de mobilidade, mas, caso ocorram, devem ser puxados, segundo ele, nem tanto por conta de políticas públicas, mas por escolhas pessoais dos consumidores. “Com isso haveria uma redução, por exemplo, de consumo de alguns serviços presenciais, com algum impacto no mercado de trabalho. Mas, me espelhando no mundo, a ômicron não me parece mudar a história como um todo”, diz o economista.

Em adição, as eventuais perspectivas seriam de prejuízos de magnitude menor, mas mais uma vez concentrados na ponta de informais e menos escolarizados. “Os menos prejudicados sejam justamente aqueles que já foram menos prejudicados quando a pandemia era muito forte. Basicamente estamos falando de setores em que você consegue efetivamente trabalhar remotamente, que são poucos. Geralmente pessoas mais qualificadas, formais; porque tem setores em que simplesmente não existe o digital, que dependem do contato físico das pessoas. A pandemia acaba exacerbando algumas desigualdades”, avalia.

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