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À frente da RK Partners, Ricardo Knoepfelmacher acaba de desembarcar na Bombril, depois de acumular passagens pela petroleira OGX, de Eike Batista, pelos estaleiros Atlântico Sul e Enseada, por Galvão Engenharia e UTC | Nacho Doce/Reuters/Folhapress
À frente da RK Partners, Ricardo Knoepfelmacher acaba de desembarcar na Bombril, depois de acumular passagens pela petroleira OGX, de Eike Batista, pelos estaleiros Atlântico Sul e Enseada, por Galvão Engenharia e UTC| Foto: Nacho Doce/Reuters/Folhapress

A recessão econômica freou o Brasil, mas deu a largada a uma corrida na área corporativa, com companhias em apuros financeiros pedindo ajuda para reorganizar seus negócios. É aí que entram em cena os chamados especialistas em reestruturações operacionais e financeiras de empresas. Na contramão da crise, fazem hora extra, ampliam a equipe e recusam clientes.

Os recuperadores, profissionais especializados em assumir a gestão de empresas em crise, precisam fazer ajustes rápidos, atuar sob pressão como médicos de um CTI para botar as finanças da corporação de volta aos trilhos. Hoje, eles são poucos para dar conta da explosão da demanda por seus serviços. Em 2015, houve 1.287 pedidos de recuperação judicial no país, salto de 55,4% em relação ao ano anterior, segundo dados da Serasa.

No currículo dos principais nomes deste mercado, casos de sucesso dividem espaço com os de companhias que saíram de cena mesmo depois da recuperação judicial. A trajetória desses profissionais costuma ser um zigue-zague entre erros e acertos.

Um dos especialistas na área é Ricardo Knoepfelmacher. À frente da RK Partners, acaba de desembarcar na Bombril, depois de acumular passagens pela petroleira OGX, de Eike Batista, pelos estaleiros Atlântico Sul e Enseada, por Galvão Engenharia e UTC, enquadradas na Lava-Jato.

Experiências diversas também pavimentaram o caminho do advogado Fábio Carvalho, que se tornou presidente da Casa&Video, após ter cuidado da recuperação judicial da varejista – que superou um escândalo de fraude e sonegação fiscal – além de ter participado dos processos de Varig e LG Philips. Parte de sua formação vem do tempo que atuou sob a supervisão de Marcelo Gomes, diretor da Alvarez & Marsal no Brasil, gigante mundial do setor, que hoje cuida de casos como os da OAS e da Alumini.

Habilidades

A crise agravou a situação de muitas empresas. Mas quando o assunto é gestão corporativa especialistas recomendam assertividade e olho atento à geração de caixa. Perder o foco pode custar caro. Mas, os analistas também alertam que é preciso tomar decisões na hora certa. E se preciso, reestruturar a companhia antes de pedir proteção judicial.

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“Elas buscam assessoria quando a situação já está muito crítica. O ideal seria que contratassem bem antes de iniciar o processo de não pagamento das dívidas. Quanto mais cedo, mais tempo há para planejar e iniciar a negociação de forma mais harmoniosa e menos litigiosa”, destaca K.

A recuperação judicial não é uma solução isolada, mas uma ferramenta que pode ser usada no processo de reestruturação. A empresa que recorre à Justiça consegue alongar dívidas em condições mais vantajosas e se prepara para receber recursos de maneira protegida, explica Luís Alberto Paiva, sócio-diretor da Corporate Consulting, que hoje atende 15 empresas, como Latina e Pioneira da Costa.

“Entre 30% e 35% das empresas que pedem recuperação no país concluem o processo. Ou seja, equilibram compromissos e geração de caixa e tocam o negócio adiante. Isso não as livra de, mais adiante, enfrentarem novos problemas”, diz Paiva.

Lidar com o estresse envolvido numa recuperação não é tarefa para iniciantes. Manter a calma é essencial. Gomes, por exemplo, pratica meditação, além de filosofia clínica. E mantém o hábito de escrever sobre os casos que acompanha. No futuro, não descarta lançar um livro sobre a Varig, por exemplo. Até lá, está mergulhado em trabalho.

“Em 2014, tivemos 35% mais clientes. No ano passado, dobramos a carteira. Este ano, prevemos avanço de 50% porque precisamos respeitar nossa capacidade. Em paralelo, nossa taxa de rejeição de clientes subiu de 10%, em 2014, para 50%, agora. Boa parte das recusas ocorre por falta de condições de recuperação de empresas que nos procuram”, afirma.

Carvalho, que também é adepto de técnicas como a ioga para compensar a rotina estressante, recomenda evitar ao máximo a proteção da Justiça contra credores: “Recuperação judicial é só dor. Raramente é a melhor alternativa. Mas, às vezes, é a única. Torna a negociação mais lenta, traz custos, compartilha a condução da empresa com a máquina estatal. Tudo fica difícil.”

Carvalho trilhou um caminho peculiar. Depois de assumir a recuperação da Casa & Video, em 2009, acabou fazendo um aporte financeiro na varejista, recuperou e assumiu o negócio.

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Agora, ele está cruzando sua segunda fronteira profissional. Após passar de recuperador a executivo, atua como investidor. Recentemente, comprou a fatia do BTG na Bravante, de apoio marítimo ao setor de óleo e gás. Levou 38% de participação e a cadeira de presidente do conselho, num negócio de R$ 60 milhões. O passo é consequência da criação da Legion Holdings, focada em investir em empresas que passam por restruturação, preferencialmente sem recuperação judicial.

“Vejo mais oportunidade no lado do ativo do que da dívida dessas companhias, como miram alguns fundos. Com isso, não preciso deter o controle, mas ter capacidade de influenciar o processo de tomada de decisão da empresa. Ter participação na gestão para ajudar na virada operacional”, conta ele.

No mercado, é dada como certa a entrada de Carvalho - como investidor - na Leader, que sofre com uma dívida de quase R$ 1 bilhão e com a decisão do BTG de reduzir ou zerar sua participação de 70% na varejista fluminense. Ele reconhece participar de conversas sobre a empresa.

Para ele, a crise nas companhias brasileiras tem fundamento econômico, pelo impacto na geração de caixa. A solução, diz Carvalho, não virá do governo nem da massa de consumo da classe C, mas da rearrumação da equação entre compromissos e operações das empresas e acordos com instituições financeiras.

“A recuperação judicial não vai salvar o setor corporativo brasileiro. E, sim, a negociação entre as empresas e os bancos. Os bancos, hoje, têm capacidade financeira para chegar a acordos que consigam dar fôlego ao setor produtivo. Todos têm de ceder”, provoca o executivo.

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