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Pequim, sob intensa poluição | GREG BAKER/AFP
Pequim, sob intensa poluição| Foto: GREG BAKER/AFP

O ano de 2015 já acabou, mas ficará marcado por uma grande virada energética. Pela primeira vez, houve maior acréscimo de energia limpa do que de energia suja à matriz mundial. Mais da metade da nova capacidade instalada no ano passado veio de fontes renováveis como eólica e solar, que superaram os combustíveis fósseis, segundo relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), que elevou em 13% suas previsões de avanço das fontes verdes em relação ao ano passado.

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O cenário energético mundial ganhou um reforço de 153 gigawatts (GW) de fontes renováveis em 2015, um aumento de 15% em relação ao ano anterior e o equivalente a capacidade de geração de “um Canadá” inteiro. Graças aos acréscimos recordes de energia eólica onshore (63 GW) e energia solar fotovoltaica (49 GW), as fontes de energia limpa atingiram 23% de participação na matriz global, fatia que deve subir para 28% até 2021. Até lá, as renováveis somarão 825 GW, crescimento de 42% em relação a 2015, segundo projeção da IEA.

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A consolidação dessa virada energética se deu, em grande parte, pela queda no custo das fontes renováveis, sobretudo eólica e solar – juntas, elas representam 75% do crescimento global da capacidade de energia renovável nos próximos cinco anos. De acordo com a IEA, o custo médio da energia fotovoltaica comum, usada em residências, já caiu 66% nos últimos cinco anos até 2015 e deve recuar mais 25% até 2021. Já o preço da energia eólica desacelerou 30% nesse período e deve cair mais 15% até 2021. Na prática, o barateamento da tecnologia contribuiu para que essas fontes ganhassem escala.

Segundo a IEA, com sede em Paris, esta tendência de redução de custo é sustentada por uma combinação de políticas públicas de incentivo, avanço da tecnologia e expansão dessas fontes em novos mercados com melhores recursos renováveis. É o caminho que a indústria eólica seguiu no Brasil. O país terminou 2015 como o quarto país do mundo onde a energia eólica mais cresce, atrás apenas da China, Estados Unidos e Alemanha. Em abril deste ano, o país atingiu 10 GW de capacidade eólica instalada. Para a próxima década, quase metade da nova oferta de energia prevista deverá vir de fontes verdes como eólica, solar e biomassa.

Na geografia da expansão das fontes verdes, a transformação mais expressiva vem da Ásia. Campeã em emissões de gases tóxicos, a China respondeu, sozinha, por 40% do crescimento mundial dessas fontes, de acordo com o relatório da IEA. No ano passado, pela primeira vez os países emergentes lideraram os investimentos em energia renovável, com China, Índia e Brasil na linha de frente dos aportes globais.

A velocidade com que o país asiático está implantando fontes limpas impressiona. Em 2021, segundo projeção da IEA, mais de um terço da energia solar fotovoltaica da capacidade eólica onshore acumulada no mundo estará localizada em terras chinesas. Apesar disso, tanto a China quanto os Estados Unidos podem e precisam ser mais ousados na transição para uma matriz mais verde, defende Ricardo Baitelo, coordenador de Clima e Energia do Greenpeace no Brasil. “O mundo todo está olhando para a China e os Estados Unidos, mas eles deveriam fazer mais em termos de compromisso, considerando, principalmente, o potencial econômico que têm e o fato de que eles arrastam boa parte dos recursos naturais do mundo com seus modelos de consumo”, afirma Baitelo.

Juntos, os dois países respondem por 45% das emissões de gases. A China, por exemplo, já anunciou que vai atingir o seu pico de emissões de CO2 apenas em 2030, ou seja, o corte de emissões pode não atingir o efeito desejado no processo de manutenção das metas climáticas.

Nesse ritmo, expansão das renováveis será insuficiente para cumprir metas climáticas

Apesar do avanço recorde das fontes renováveis no último ano, o relatório da Agência Internacional de Energia (IEA) faz um alerta: será preciso aumentar o ritmo de implantação de energia limpa para atingir as metas climáticas de longo prazo. Para isso, grandes consumidores de combustíveis fósseis, como o setor de transportes e de aquecimento, precisam acelerar a transição para fontes renováveis assim como tem feito o setor de energia. Nesse contexto, o Acordo de Paris é considerado um divisor de águas, mais até pelo efeito simbólico e histórico do que pelos compromissos assumidos pelos principais países. “É uma vitória, mas precisa ser visto como um ponto de partida. Agora os países têm de olhar para dentro de casa e fazer a lição”, Ricardo Baitelo, coordenador de Clima e Energia do Greenpeace no Brasil. Pelo acordo assinado no ano passado na Conferência do Clima da ONU (COP-21), em Paris, as nações se comprometeram a adotar medidas para combater as mudanças climáticas e manter o índice de aquecimento global abaixo de 1,5ºC.

Segundo a IEA, um conjunto de iniciativas políticas adicionais em mercados chave como China, Estados Unidos, União Europeia, Índia e Brasil poderia acelerar o crescimento da capacidade renovável global em até 29% até 2021. Isso colocaria todo o mundo em um caminho mais firme em direção ao cumprimento das metas globais de clima.

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