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Mark Zuckerberg, CEO do Facebook. | WIN MCNAMEE/AFP
Mark Zuckerberg, CEO do Facebook.| Foto: WIN MCNAMEE/AFP

O desempenho financeiro da gigante do Facebook parecia imune às críticas ferozes das suas políticas de conteúdo, ao fracasso em salvaguardar dados privados e às mudanças nas regras para os anunciantes. Mas, nesta quarta-feira (25), o Facebook divulgou números de vendas e crescimento de usuários que ficaram aquém das projeções dos analistas. Os resultados do segundo trimestre deixaram os investidores atordoados.

As ações da empresa chegaram a cair 24% nas negociações no after hours, reduzindo o seu valor de mercado em US$ 151 bilhões (cerca de R$ 559 bilhões). Se a liquidação for mantida nesses níveis na quinta-feira, ela marcará um dos maiores colapsos de valor já sofridos por uma empresa negociada nos Estados Unidos em um dia. As ações caíam 21%, para US$ 169, no premarket, às 10h15 da manhã desta quinta.

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Para aqueles que esperam uma rápida recuperação, a empresa informou Wall Street de que os números não vão melhorar este ano. O diretor financeiro do Facebook, David Wehner, disse que as taxas de crescimento de receita cairiam no terceiro e no quarto trimestres. Os analistas que acompanham o Facebook foram pegos de surpresa e fizeram muitas perguntas na teleconferência com executivos, a fim de obterem mais informações sobre exatamente como o futuro financeiro da empresa havia mudado tão drasticamente.

“Acredito que muitos investidores estão tendo dificuldade em conciliar essa desaceleração”, disse Brent Thill, analista da Jefferies LLC, aos executivos do Facebook, pedindo um pouco mais de clareza sobre o raciocínio. “Parece que a magnitude está além de qualquer coisa que tenhamos visto, especialmente em várias empresas de tecnologia que cobrimos”, complementou.

Para o Facebook, tropeços financeiros são raros. A última vez que a empresa não atingiu as estimativas de receita foi no primeiro trimestre de 2015. Mas os resultados seguiram um período no qual as questões de privacidade de dados foram duramente questionadas, com o CEO Mark Zuckerberg testemunhando diante do Congresso norte-americano por horas acerca dos erros da empresa.

O trimestre também foi marcado pela implementação, pela Europa, de uma nova lei rígida sobre dados, que, segundo o Facebook, levaram a menos visitantes diários naquela região. A empresa foi bombardeada por críticas públicas sobre suas políticas de conteúdo, especialmente em países como Mianmar e Sri Lanka, onde a desinformação levou à violência. E continuou a sofrer as consequências das investigações sobre a manipulação russa da plataforma durante a eleição presidencial dos Estados Unidos, em 2016.

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Todos esses problemas ocorrem em meio a uma dura verdade para a empresa: o Facebook, a rede social com 2,23 bilhões de usuários ativos por mês, não pode crescer para sempre. “A plataforma principal do Facebook está em declínio”, disse Brian Wieser, analista do Pivotal Research Group.

Limites da publicidade

O Facebook informou que teve 1,47 bilhão de usuários ativos diários em junho, em comparação com a média de 1,48 bilhão das estimativas de analistas compiladas pela Bloomberg. A base de usuários da empresa está concentrada em seu maior mercado, EUA e Canadá, com 185 milhões de usuários diários, enquanto declinou 1% na Europa para 279 milhões de usuários diários. No geral, os usuários médios diários aumentaram 11% em relação ao mesmo período do ano anterior.

A receita aumentou 42%, para US$ 13,2 bilhões no trimestre. Analistas esperavam US$ 13,3 bilhões. A rede social ainda mantém um dos bancos de dados mais valiosos do mundo, contendo os interesses das pessoas e disponibilizando facilmente esse público-alvo para anunciantes. A empresa continua em uma posição dominante na publicidade móvel ao lado do Google, da Alphabet.

“Como escrevemos extensivamente, o setor de publicidade — incluindo a publicidade digital — tem limites para o crescimento, o que achamos ser o principal fator que restringe a oportunidade de receita do Facebook”, disse Wieser em nota após o resultado. “A desaceleração, tal como a gestão orientou, sugere que, enquanto a empresa ainda esteja crescendo rapidamente, os dias de crescimento acima dos 30% estão contados.”

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Wehner deu três motivos diferentes para o declínio do crescimento da receita do Facebook: desvalorização cambial, maiores investimentos em novos tipos de compartilhamento de conteúdo, como o desaparecimento de vídeos, e maior controle do usuário sobre a privacidade — uma resposta direta às críticas da empresa.

Depois que o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (GDPR) entrou em vigor na Europa, o Facebook começou a pedir para que as pessoas verificassem suas configurações de privacidade e garantissem que desejam compartilhar certos tipos de dados. O Facebook está lançando uma versão dessas proteções para o resto do mundo. Se os usuários optarem por compartilhar menos dados com o Facebook, isso poderá prejudicar a capacidade de segmentação de anúncios da empresa, tornando-a menos atraente para profissionais de marketing.

Embora a privacidade seja um problema na Europa, a política desempenhou um papel importante na América do Norte, que é o mercado de publicidade mais lucrativo da empresa. O Facebook interrompeu alguns negócios colocando novas regras para que todos os anunciantes políticos pudessem verificar suas identidades. A empresa pode ter suspendido mais compras de anúncios do que o esperado, pois aplicou uma definição ampla do que é considerado “político”.

Instagram, Messenger e WhatsApp

Após o relatório de resultados, os executivos trabalharam para explicar o potencial das outras propriedades do Facebook além da rede social homônima, a fim de estimular o crescimento. A empresa possui três outras propriedades com mais de um bilhão de usuários: WhatsApp, Messenger e Instagram. Juntos, todo o conjunto de produtos do Facebook tem 2,5 bilhões de usuários únicos mensais, um dado inédito informado pela empresa.

Dos novos empreendimentos, o modelo de negócios do Instagram é o mais maduro e provavelmente contribuiu significativamente para a receita no trimestre, disseram analistas. Zuckerberg a chamou de “incrível aquisição”, dizendo que o Instagram cresceu duas vezes mais rápido do que se tivesse continuado independente, sem explicar sua metodologia. A empresa não divulga a receita do Instagram separadamente.

O Facebook disse que aumentará os gastos para fazer investimentos em conteúdo de vídeo e em novas apostas, como inteligência artificial e realidade virtual. A empresa também está expandindo rapidamente seus imóveis em todo o mundo para acomodar uma onda de contratações, que inclui milhares de novos funcionários para ajudar a combater a manipulação de eleições estrangeiras no site. A companhia informou que o número de funcionários era 30.275 em 30 de junho — um aumento de 47% ano a ano.

Antes de os resultados serem anunciados, as ações do Facebook fecharam em Nova York valendo US$ 217,50, um recorde. No ano, a valorização acumulada era de 23%.

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A orientação de receita da empresa foi “sem precedentes”, disse Gene Munster, analista da Loup Ventures, em nota aos investidores. Mas o Facebook, que registrou um crescimento de vendas de 50% em média nos últimos dez trimestres, pode estar diminuindo a ambição para ganhar confiança nos próximos trimestres.

“A empresa tem um histórico de redefinir o crescimento da receita e as expectativas de despesas apenas para superar essas expectativas no trimestre seguinte”, escreveu Munster.

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