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Prever um cenário à frente para a Bolsa é um desafio para os analistas neste turbulento fim de ano. As ações brasileiras deram neste mês de dezembro até agora uma palhinha do comportamento ruim que podem repetir em 2015. Apesar de o mercado antecipar movimentos, a dúvida dos agentes é quanto de fato já foi precificado nos ativos e a questão que paira inicialmente no horizonte é: a nova equipe econômica vai conseguir encurtar o luto do mercado?

Depois de ver consolidada a possibilidade que menos lhe agradava nas eleições, com Dilma Rousseff reeleita para um segundo turno, o mercado comemorou os nomes que vão gerir a economia a partir de 2015. O diretor de investimentos da asset do HSBC Brasil, Guilherme Abbud, no entanto, acredita que ainda há espaço para precificar os ganhos na Bolsa com o anúncio da chegada de Joaquim Levy, o substituto de Guido Mantega na Fazenda. Em sua avaliação, o mercado não computou a totalidade do impacto da nomeação porque tem receio do fator execução e deve fazê-lo conforme novas medidas forem sendo anunciadas, positivamente.

Ortodoxa, a equipe econômica ainda não apresentou as alterações indigestas que todos sabem ser necessárias para recolocar as contas nos eixos e impedir um downgrade do Brasil. O analista da Alpes, Bruno Gonçalves, é do grupo menos pessimista. Acredita que, dependendo do que for traçado por Levy, a Bolsa pode ter algum alento em meados do próximo ano.

A largada de 2015, no entanto, já está trilhada: vai ser ruim para a Bovespa. Até porque, uma das apostas de Gonçalves é que as medidas econômicas da nova equipe englobem aumento de impostos, que terá efeito repressivo no atual quadro que já é de desaceleração econômica. "Não podem ser medidas fracas. O Brasil está fora do eixo. Têm de ser efetivas, para ter impacto positivo de cara", avaliou. "É preciso ancorar as expectativas", emendou. "Há uma percepção de que o trabalho de Levy à frente da Fazenda será hercúleo e de que ele irá promover uma reforma dura através de aumento de impostos, o que a Bolsa não gosta", acrescenta Abbud. Ele acredita, no entanto, que a maior parte do ajuste ficará calcado em corte de despesas, "o que seria uma ótima notícia para a economia e para a Bolsa", disse.

Nesse contexto, Abbud não descartou que a Bolsa e seus ativos possam ser mais promissores no ano que vem do que se imagina. "Desconfio que 2015 vai ser um ano daqueles em que há ajustes duríssimos, mas os títulos podem precificar que o remédio é amargo, mas está se investindo num futuro melhor, redirecionando o Brasil para um modelo mais sustentável de crescimento", previu.

Essa reconquista de credibilidade é o fator primordial neste momento, na avaliação do sócio-diretor da Easynvest, Marcio Cardoso. "O governo tem que vender o que é crível e cumprir o que prometeu." Isso porque o mercado parou de dar o benefício da dúvida para a presidente Dilma, como lembrou Hersz Ferman, da Elite Corretora. Assim, o espaço para errar não existe mais, da mesma forma que o mercado também vai cobrar as medidas se o ano virar e não tiver novidades.

Margem

De modo geral, os profissionais concordam que num ambiente de gastos engessados como o do governo brasileiro a saída para garantir o superávit primário de 1,2% do PIB em 2015 será elevar impostos, mesmo que para isso vá deprimir um pouco mais a combalida economia. E entre as apostas estão o aumento da Cide, já admitido por Levy, e do IPI.

Esse reajuste para cima prejudica a margem das empresas, já sofredoras do aumento da Selic desde outubro deste ano. Além disso, muitas estão sendo impactadas pela elevação firme e robusta do dólar na reta final de 2014 e que deve se perpetuar em 2015, com a perspectiva de que os Estados Unidos finalmente deem início ao aumento de sua taxa de juros. Assim, além da concorrência com as ações norte-americanas nesse cenário de recuperação do maior país do globo, o DI brasileiro também vai competir, e muito, com a Bolsa no próximo ano.

O fato de 2015 ser um ano de ajuste tende a deixar o mercado mais seletivo, enxugar o volume financeiro da Bovespa e limitar as oscilações do índice à vista. Segundo o economista da Legan Asset, Fausto Gouveia, aos poucos pode haver recomposição pontual dos ativos, porque o valor patrimonial das empresas ficou muito comprometido ao longo deste ano. Mesmo diante desse cenário, ele não recomenda o mercado acionário para as pessoas físicas. "Não é hora de pessoa física entrar, apenas investidores seletivos e fundos de investimento para longo prazo", disse ao ponderar que a Bolsa pode ser uma oportunidade "excelente" de investimento tendo em vista um retorno em cinco, seis ou sete anos.

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