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O ministro da Economia, Paulo Guedes, minimizou resultado do trimestre, mas analistas revisaram para baixo expectativas para a atividade econômica do país.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, minimizou resultado do trimestre, mas analistas revisaram para baixo expectativas para a atividade econômica do país.| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

A queda mínima, porém pouco esperada, do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no segundo trimestre reduziu as expectativas de bancos e outras instituições para o desempenho da atividade econômica até o fim de 2021 e também em 2022.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB recuou 0,1% no período entre abril a junho, variação que foi definida pelo instituto como de estabilidade, mas que ficou abaixo da mediana do mercado, que esperava crescimento de 0,2%.

As estimativas de analistas já vinham sendo revisadas para baixo nas últimas semanas. De acordo com o boletim Focus divulgado pelo Banco Central no dia 30, antes dos números do IBGE, a mediana das projeções de economistas era que em 2021 o crescimento do PIB ficasse em 5,22%. Na semana anterior, o índice estava em 5,27%; sete dias antes, em 5,28%, e no início de agosto, em 5,3%.

Para 2022, a expectativa do mercado no início da semana era de um crescimento de 2%, também inferior ao ponto médio das perspectivas de quatro semanas antes, que era de 2,1%.

“Essa contração [do PIB] surpreendeu o mercado, que deve reprecificar o Brasil como um todo”, diz Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. “Isso deve se refletir evidentemente nas perspectivas de crescimento para este ano”, avalia. A corretora já projetava um cenário pior do que a mediana do mercado, por isso decidiu manter a previsão de crescimento de 4,6% para 2021 e de 1,6% para 2022.

“Essa revisão baixista do PIB deste ano, que deve afetar o mercado, deve acarretar também em uma menor perspectiva do PIB de 2022. Nós já estamos em 1,6%, uma perspectiva bem deprimida, bem ruim, enquanto o mercado ainda está acima de 2%. Olhando a abertura amplamente, a gente não vê também uma retomada grande da economia. Tudo deve ser bem gradativo e paulatino”, avalia.

O Banco Fibra, que trabalhava com números mais otimistas, baixou as previsões, considerando “os efeitos defasados da política monetária, o menor impulso advindo do crescimento global e o impacto contracionista relacionado às incertezas do quadro hídrico”, segundo seu economista-chefe, Cristiano Oliveira. Se antes a instituição projetava alta de 5,6% para 2021, agora vê crescimento de 5,2%. Para 2022, o prognóstico caiu de 1,7% para 1,1%. “Vale dizer que essas estimativas ainda são preliminares e o viés, principalmente para o próximo ano, continua sendo de baixa.”

Na XP Investimentos, também houve revisão baixista, de 5,5% em 2021 para 5,3%. “Ainda esperamos que o PIB retome o crescimento ao longo do segundo semestre de 2021, impulsionado principalmente pela retomada dos serviços prestados às famílias e pela normalização dos serviços públicos. Ainda assim, na esteira dos números um pouco mais fracos do 2T [segundo trimestre], revisamos o crescimento do PIB”, informou.

A instituição também revisou para menor a projeção de crescimento em 2022, de 2,3% para 1,7%. “O aumento da percepção de risco fiscal, incertezas no campo político e inflação alta pioraram as condições financeiras de forma significativa nas últimas semanas. Além disso, os efeitos da crise hídrica exercem pressão baixista sobre produção e consumo”, explica o economista da XP Rodolfo Margato, que vê risco de quadro ainda pior.

“Observamos que o novo cenário-base não incorpora racionamento de energia elétrica propriamente dito (redução forçada do consumo), o que, se materializado, puxaria o PIB do ano que vem ainda mais para baixo. Persistência da pressão inflacionária e desaceleração mais intensa da demanda global representam outros riscos importantes para o quadro da atividade econômica brasileira”, prossegue.

Entre analistas externos, o resultado também frustrou expectativas. O Goldman Sachs, que projetava crescimento de 5,4% no PIB brasileiro para 2021, baixou a previsão para 4,9%. Para 2022, a instituição financeira manteve os 2%, porém com viés de baixa.

O Credit Suisse passou a projetar variação de 5,3% no PIB deste ano, ante estimativa anterior de 5,5%. Para o ano que vem, a previsão foi cortada de 2% para 1,5%. O J.P. Morgan, por sua vez, mudou o prognóstico para 2021 de 5,5% para 5,2% e em 2022, de 2% para 1,5%.

Viés negativo

A equipe do Itaú manteve a projeção de crescimento de PIB de 5,7% em 2021, mas informou em relatório que o resultado do segundo trimestre “coloca um viés negativo” na previsão. “Ainda esperamos um bom crescimento no 2S21 [segundo semestre de 2021] devido à normalização nos setores de serviços que ainda estão deprimidos.” Para 2022, os economistas do banco calculam que a variação do PIB desacelerará para 1,5%.

“Setores altamente dependentes de interação social, como administração pública e outros serviços (que incluem bares, restaurantes, hotéis, serviços de beleza, etc) ainda estão em níveis substancialmente deprimidos. Continuamos esperando que esses setores se recuperem no 2S21 conforme a mobilidade social se normaliza”, diz trecho de documento assinado por Luka Barbosa e Matheus Fuck.

O Bradesco, que anteriormente previa crescimento de 2,2% em 2022, reduziu o indicador para 1,8% em relatório divulgado no fim da tarde de quarta-feira (1º). O banco também revisou para cima a projeção do IPCA para 2021, de 7,1% para 7,8%, em razão da depreciação do real “e novas surpresas de curto prazo”. Para 2021, a expectativa de crescimento foi mantida em 5,2%.

“Bens industriais seguem pressionados e a reabertura da economia tem levado a uma maior procura por serviços, principalmente aqueles ligados à mobilidade. Adicionalmente, o clima desfavorável tem ampliado as pressões inflacionárias, que incluem energia elétrica, alimentação e etanol, com seus desdobramentos sobre os preços da gasolina”, diz o documento da equipe liderada por Fernando Honorato Barbosa.

O resultado do PIB trimestral somado ao risco de inflação devem pesar negativamente no humor de investidores, diz Ana Sofia Monteiro, da Phi Investimentos. “Como já havia sido sinalizado pelo governo, aconteceu nesta semana o reajuste na bandeira tarifária do Brasil, em R$ 14,20 a cada 100 kWh, o que traz ainda mais pressão para a inflação. Para o ano que vem, a expectativa é de 4% de inflação, pressionando ainda mais a taxa básica de juros”, explica. “Tendência de um crescimento em baixa no mercado, inflação e juros em alta é tudo o que os investidores de risco não gostariam de ouvir.”

Governo fala em "crescimento superior a 5%" em 2021

Pouco após a divulgação do resultado pelo IBGE, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o desempenho do PIB no segundo trimestre “veio um pouco mais fraco do que o mercado esperava”. “A gente provavelmente deve ter uma revisão um pouco para baixo no ano corrente”, afirmou em uma audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados.

Para o ministro da Economia, Paulo Guedes, o recuo de 0,1% significa que a atividade econômica “andou de lado”. “Foi o trimestre mais trágico, que foi onde realmente a pandemia bateu mais brasileiros. Foi abril, maio e junho deste ano, com a segunda onda, e justamente abril, maio e junho foi quando entrou, de novo, o auxílio emergencial, a expansão dos programas da assistência”, ponderou o ministro, que disse prever uma alta de 5,4% do PIB em 2021.

No entanto, a própria equipe de Guedes adotou discurso mais moderado a respeito do desempenho da atividade econômica para o ano corrente. Em nota informativa lançada após a divulgação do resultado do segundo trimestre, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia afirmou esperar “crescimento do PIB em 2021 superior a 5,0%”. Em julho, a mesma secretaria falava, mais precisamente, em um avanço de 5,3% do PIB brasileiro em 2021.

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